segunda-feira, 12 de março de 2012

Dom do Temor de Deus

Aprofundando a Boa Nova do
Senhor Jesus Cristo
PJ Nº 06
Dom do Temor de Deus
O dom de Temor de Deus nos une profundamente a Deus, faz-nos viver na humildade e mansidão do coração do Senhor Jesus Cristo (Mt 11,29), reconhecendo nossa miséria; sob a temperança, pelo conhecimento de Deus, de si mesmo e do próximo; também nos move sob a luz da esperança, dada a visão beatífica que se nos vislumbra relativamente à herança dos santos.
Dom Luiz M. Martinez nos ensina que os dons infusos, dons da santificação de nossas almas, são maravilhosos receptores sobrenaturais que têm o excelso privilégio de captar as moções do Espírito Santo e que imprime em nossos atos um modo divino, porque os submetem a uma regra altíssima.
O profeta Isaías enumera sete Dons Infusos (dons de santificação – Is 11,2):
- Sabedoria e Entendimento
- Conselho e Fortaleza
- Ciência e Piedade
- Temor de Deus
Assim, principalmente, através desses dons, o Espírito Santo, doce hóspede de nossas almas, dirige de maneira sublime nossa vida espiritual. Ele estabelece nas diversas partes do nosso ser estas realidades luminosas, os receptores divinos através dos quais se comunica conosco, influindo e motivando-nos em todas as faculdades do nosso espírito, sob sua direção amorosa.
“Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, estes são filhos de Deus” (Rm 8,14).
São Luis Gonzaga, sob o influxo deste Dom chorava até mesmo em confessar suas pequenas faltas, seus pecados veniais.
Santa Juliana Falcolneri tremia ao ouvir falar de pecado e desmaiava só em ouvir um relato de um crime.O dom do Temor de Deus produz em nossos corações horror ao pecado e, ao mesmo tempo, força para vencer as tentações.
Os dons infusos são uma obra exclusiva do Espírito Santo para a santificação do nosso espírito, da nossa alma, do nosso coração e de todo o nosso ser mais íntimo e profundo.
De todo o nosso espírito, para a santificação de nossas faculdades espirituais:
- Inteligência (entendimento)
- Vontade
- Memória
- Imaginação
- Afetividades
De toda a nossa alma, para que a nossa razão seja algo novo, como uma nova criatura (II Cor 5,17), regenerada e renovada pelo batismo do Espírito Santo.
“Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4,23-24).
De todo o nosso coração, pelo espírito e pela alma, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e apto para toda boa obra.
De todo o nosso ser mais íntimo e profundo, para que já não sejamos mais nós mesmos, mas Cristo em nós, pelo que estamos revestidos de Cristo (Gl 3,27) e já não somos nós que vivemos, mas é Cristo que vive em nós; isto é, fazemos parte do Cristo total.
“Quem se une ao Senhor, torna-se com ele um só espírito” (I Cor 6,17).
Diz-nos o santo Doutor que a inteligência (entendimento) é a nossa faculdade mais alta, a mais nobre que possuímos, a que nos torna semelhantes aos anjos, a que põe em nossa alma um traço da imagem de Deus.
Nessa faculdade, o Espírito Santo coloca quatro dons: Sabedoria, Entendimento, Ciência e Conselho.
Assim, pelo Dom do Entendimento penetramos nas verdades divinas – Intus Legere – e para julgar dessas verdades temos três dons:
- A sabedoria, que julga das coisas divinas;
- A ciência, que julga das criaturas;
- O conselho, que regula e dispõe os nossos atos.
Na vontade, que é a faculdade que segue em categoria e natureza a nossa inteligência, há um dom:
- O Dom da Piedade, que tem por objetivo regular e dispor nossas relações com os demais. Por isso que o Dom da Piedade nos move a virtude da Justiça, principalmente.
E, finalmente, para dominar a parte inferior do nosso ser, há dois Dons:
- O de Fortaleza para tirar-nos o temor do perigo;
- E o Temor de Deus, para moderar os ímpetos desordenados da nossa concupiscência (sentidos).
Desse modo “desde o ápice de nosso espírito, que é a inteligência, até a porção inferior do nosso ser, o Espírito Santo tem os seus Dons para comunicar-se com este mundo que trazemos em nós, para poder inspirar e mover todos os nossos atos humanos”.
Não nos admiremos pelo fato de que na faculdade da nossa vontade tenhamos apenas o Dom da Piedade. Diz-nos Dom Martinez que a razão disso consiste em que, em nossa vontade possuímos duas virtudes altíssimas: a esperança e a caridade. Acrescenta-nos, então, o Santo Doutor: “estas virtudes são superiores aos Dons e podem, por conseguinte, ter ao mesmo tempo função de virtude e função de Dom.
Não é verdade que as virtudes nos servem para a direção que a razão imprime à nossa vida, e que os Dons são preciosos instrumentos que o Espírito utiliza para sua condução amorosa sobre os filhos e filhas de Deus?
“É natural que os instrumentos da direção estejam em proporção com aquele que dirige; mas a caridade e a esperança são virtudes tão altas, são instrumentos tão preciosos, que ao mesmo tempo em que a razão pode dispor deles – imprimindo-lhes, naturalmente, o seu modo humano – o Espírito Santo também as utiliza como preciosos instrumentos para realizar as suas maravilhas”.
Assim a caridade pode imprimir em nossos corações um amor profundo e altíssimo, cuja face é a do Espírito Santo, que nos une a Deus de tal forma, pelo que fita perenemente sobre nós, os seus próprios olhos. (Sl 31,8).
Ora, entre todos os Dons de santificação, o mais perfeito de todos é a Sabedoria; depois vem o Entendimento, em seguida a Ciência, depois o Conselho, a seguir a Piedade e a Fortaleza, e o que é inferior a todos, o Dom do Temor de Deus.
Desse modo, “o Espírito Santo habitando no santuário interior da nossa alma e sendo o doce hóspede dela, tem, por meio dos seus Dons, a posse de todas as nossas faculdades”.
Por isso, o Senhor Jesus, falando com a samaritana, disse-lhe junto ao “poço de Jacó”: “Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva” (Jo 4,10).
Ora, o amor perfeito exclui o temor (I Jo 4,18).
Como é possível que da caridade se tenha o temor de Deus?
Na verdade temos várias classes de temor:
- Temor de pena
- Temor de culpa
- Temor mundano
Há outro temor que nos afasta do pecado e que nos aproxima de Deus, mas que é demasiadamente imperfeito: “O temor servil, o temor do castigo”.
Há, no entanto, um temor que está na base do amor, o Temor Filial. Consiste na repugnância que a alma sente em afastar-se de Deus.
Há um temor que está acima de todos os temores, a separação do amado. Ora, este temor dirigido pelo Espírito Santo é precisamente o que se chama o Dom do Temor de Deus.
É Dom Luiz M. Martinez que nos fala, agora: O Espírito Santo nos une de tal maneira a Ele que nos infunde um horror instintivo, profundo, eficacíssimo, de afastar-se de Deus, que nos faz dizer: “tudo menos perder nossa união estreitíssima com o ser amado” É um temor filial, é um temor nobilíssimo, é um temor que brota das próprias entranhas do amor; esse temor filial, perfeito e amoroso, é o que constitui o Dom do Temor de Deus.
Quando a Escritura nos diz que o temor é o princípio da sabedoria, é importante que se compreenda que esse modo de falar se refere ao sentido de que o Dom produz o primeiro efeito na obra divina da sabedoria.
Dizendo melhor, o temor servil é princípio de sabedoria, mas não no sentido de que influi nela, mas no sentido de que prepara e dispõe a alma para que a ela possa vir à sabedoria.
Assim, o Dom do Temor nos une a Deus; impede que nos afastemos de Deus; pois, por ele, criamos horror ao pecado.
“Senhor, guardo no fundo do meu coração a vossa palavra, para não pecar contra vós” (Sl 118,11).
O Dom do Temor do Senhor nos une a Ele:
“Aquele que se une ao Senhor forma um só espírito com Ele” (I Cor 6,17).
Não é verdade que, quando se ama com o verdadeiro, o amor do coração, o mais leve perigo de nos afastar do bem amada não nos despedaça o coração?
Ora, o Dom de Temor de Deus produz em nós horror ao pecado e nos fortalece para vencer as tentações.
Assim, pelo Dom de Temor de Deus nossa alma se afasta do pecado e nos une a Deus com profunda reverência.
“Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” (Mt 19,21).
O Espírito Santo vive em nós!... Ele infunde em nossos corações seus preciosos instrumentos para impelir-nos, elevar-nos e para levar-nos às alturas das bem-aventuranças.
“Bem-aventurados os pobres de coração, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3)
É Dom Luiz M. Martinez que nos dá a mensagem final deste estudo: “Contemplemos aquele amor inefável, imenso, perfeito, pessoal que enlaça num abraço de amor o Pai e o Filho; convidemo-lo, desejemo-lo, digamos-lhe que viva em nossas almas, que não nos abandone jamais, que encha nossos corações, e que por meio dos seus Dons, precioso instrumento da sua atividade, influa em nós, nos mova e nos conduza através de todas as vicissitudes do desterro ao cume bem-aventurado da pátria”.
João C. Porto

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