Templo do Espírito Santo
No princípio o homem já era templo de
Deus; mas, por causa do pecado de Adão, perdemos a graça divina (Gn 6,3). E o
templo, que somos todos nós, permaneceu em trevas, até que um grande clarão
resplandeceu do céu (Lc 2,9); a fim de que a luz divina retornasse aos nossos
corações e o amor de Deus nos aquecesse com seu fogo, porque o Espírito Santo
nos visitou, no tempo oportuno (Is 49,8; II Cor 6,2), para que sejamos ungidos
com o óleo inefável da bondade infinita, a partir do Pentecostes da igreja, (At
2,1-4).
1. O Espírito Santo é o amor único e
pessoal.
Ele é o amor único de Deus, o amor
pessoal do Pai e do Filho; por isso, também, o amor de caridade que reside em
nós. Ele é, verdadeiramente, a grande graça que recebemos no batismo, para
lavar, purificar e santificar as nossas almas.
“Num mesmo Espírito fomos batizados
todos nós, para sermos um só corpo, ou sejamos judeus ou gregos, ou servos ou
livres; e todo tem bebido de um só Espírito”. (I Cor 12,13).
2. Como poderemos entender estas
coisas?
Para que a obra santificadora se opere
em nós, como complemento da redenção do sangue do Senhor Jesus Cristo, torna-se
imprescindível que o Espírito Santo retorne aos nossos corações, agora, pelo
batismo, a fim de que possamos adquirir, por ele, a condição de templo vivo da
habitação divina, posto que só o Espírito Santo nos santifique; se vivermos da
fé, da esperança viva e da caridade do amor do Pai em seu Filho muito amado.
Por isso, S. Paulo nos exorta dizendo
que o nosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em nós, que nos foi
dado por Deus e que, por isso, já não pertencemos a nós mesmos; fomos comprados
por um grande preço. Desse modo, devemos trazer e glorificar a Deus no nosso
corpo. (I Cor 6,19-20).
3. Se formos templos de Deus, o que o
Espírito Santo realiza em nós?
a) Permanece eternamente conosco.
Rogareis ao Pai e ele vos dará outro
Paráclito, para que fique eternamente convosco. (Jo14,15-16).
Na verdade, o Espírito Santo penetra à
intimidade de nossa alma e, pouco a pouco, conforme nos desprendemos à
atividade do amor, vai transformando-a (Tt 3,5) em morada de Deus (Jo 14,23),
envolvendo-a com as multiformes graças do amor e impregnando no seu seio o
ideal da caridade divina: Jesus Cristo.
b) Santifica nossa alma.
“Mas fostes lavados, mas fostes
santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e pelo
Espírito de nosso Deus”. (I Cor 6,11).
Ora, o fundamento de nossa santificação
consiste na entrega incondicional ao Senhor Jesus. Então, o Espírito Santo que é amor e posse, possui-nos
e se deixa possuir por nós, movendo-nos na direção caritativa, até que
alcancemos pelos dons e atividades dos carismas, a santificação e, através das
virtudes, a perfeição da idade completa de Cristo. (Ef 4,13b).
Assim, quando o Senhor Jesus nos
ensina: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde
de coração”. (Mt 11,29, devemos entender que toda a ação transformadora do
Evangelho, que é virtude de Deus para a salvação de todo o que crê (Rm 1,16), é
obra do Espírito Santo que habita em nós. (Jo 6,37-38).
Verdadeiramente, o Espírito Santo, no
Pentecostes, desceu ao interior do templo que somos (I Cor 3,16; 6,19), para
nos preencher com sua luz, para aquecer-nos com seu fogo e ungir-nos com a
unção bendita da afeição eterna e constante (Jr 31,3), que nos afaga com a
brisa doce e terna do novo dia. Ele, sem dúvidas, trouxe aos nossos corações a
alegria do festim real.
4. Qual o primeiro relacionamento do
Espírito Santo conosco?
A partir do batismo!... Por isso a
santa Igreja Católica nos ensina que é pela intimidade de ser o doce hóspede
das almas. Ora, esse hóspede não está sozinho, mas também com o Pai e o Filho
(Jo 14,23). Aliás, a própria palavra de Deus confirma essa boa nova, para que
tenhamos a certeza de que pertencemos ao Senhor.
“Vós, porém, não viveis segundo a
carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós
(RM 8,13). Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele” (Rm
8,9).
Desse modo, a graça que salva (Ef 2,8)
e a verdade, fundamentos de nossa fé em Cristo, isto é, a salvação e a
libertação (Jo 8,36), só operam, no núcleo central de nossas vidas, pelo
Espírito que nos impregna do seu ser (I Cor 12,13), através da caridade que
ele, e somente ele, difunde largamente em nossos corações. (Rm 5,5).
Dessa forma, até mesmo nossa
ressurreição dentre os mortos é poder do Espírito Santo que habita e opera em
nós, admiravelmente, no mistério do amor.
“Se o Espírito daquele que ressuscitou
Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus dos mortos, também
dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo Espírito que habita em vós” (Rm
8,11).
5. Que nos afirma o Senhor Jesus acerca
dessas realidades?
“Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro
Paráclito, para que fique eternamente convosco”. É o Espírito da verdade, que o
mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conhecereis,
porque permanecerá convosco e estará em vós. (Jo 14,16-17).
6. Por que a Palavra e a Igreja afirmam
que o Espírito Santo habita nas almas dos batizados em Cristo Jesus?
Porque Deus é amor (I Jo 4,8-16). Ora,
somente Deus pode criar salvar e santificar; fazer-se humilde no seio de nossas
nulidades, para, se desejarmos, elevar-nos à glória de sua Divina Majestade.
Quem será capaz de compreender, em
plenitude, essas coisas?
“Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito
diz às Igrejas (Ap 2,11)”. “Ao vencedor darei a comer do fruto da árvore da
vida, que está no paraíso do meu Deus”. (Ap 2,7).
7. Como conheceremos que estamos em
Deus?
Ora, o Senhor, tendo derramado suas
complacências eternas em seu Filho, Jesus, por amor a este e a nós derramou-as
abundantemente em nossos corações, pelo Espírito que habita em nós. (I Cor
2,12).
“Por isso conhecemos que estamos nele e
ele em nós: porque nos comunicou o seu Espírito”. (I Jo 4,13).
Que nos ensina Santo Agostinho?
“Pelo dom, que é o Espírito Santo,
distribui-se muitos dons próprios dos membros de Cristo”.
O dom precioso por excelência, Que se
sobressai entre os demais, porque está em todos e os reveste de perfeições;
aquele que está em Deus e em nós ao mesmo tempo é a própria imagem do Espírito
do Senhor, a caridade divina.
“Mas, acima de tudo, revesti-vos da
caridade que é o vínculo da perfeição”. (Col 3,14).
Ora, se por um lado o Espírito Santo
difunde em nossos corações a caridade de sua perfeita imagem, já não podemos
separar-nos de Deus, porque a caridade que nos vivifica impele-nos a unidade
com o Senhor da glória.
Diz-se que todas as coisas se consumam
quando voltam ao seu princípio. Somos templo do Espírito Santo; por isso o céu
está em nós e nós já estamos nos céus com o Senhor Jesus Cristo, para onde
iremos com ele. (Jo 3,13).
João Carvalho Porto.