sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Reino de Deus no Coração

O Reino de Deus

Deus é Senhor, dono de tudo quanto foi criado. Toda a criação constitui-se em criaturas de Deus; quer sejam as visíveis ou as invisíveis; porque o Pai, o Filho e o Espírito Santo são o Senhor, o qual reina sobre tudo quanto foi criado no céu e na terra; isto é, no universo inteiro.

“Nos céus estabeleceu o Senhor o seu trono, e o seu império se estende sobre todo o universo”. (Sl 102,19). Tu és Senhor, a grandeza, o poder, a glória e a vitória; a ti é devido o louvor, porque tudo o que há no céu e na terre é teu; teu é, Senhor, o império e tu estás acima de todos os principados.

O Reino de Deus, como se vê, é um reino universal. Nele o Senhor constituiu um povo de predileção, conforme as promessas feitas aos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó. Por isso, eles e sua descendência ficaram conhecidos como “o Reino de Deus sobre a terra, segundo o que o Senhor falou”.

“Se, portanto, ouvirdes a minha voz, e observardes a minha aliança, sereis para mim uma porção escolhida dentre todos os povos; porque  toda terra é minha. (Ex 19,5-6). “Sereis para mim um reino sacerdotal e um povo santo”. (Ex 19,6).

Assim, o Reino de Deus é a graça de muitas bênçãos, porque o Senhor tem derramado nele a sua “misericórdia para sempre”. (Sl 132,3).

Em ti todas as nações da terra desejarão ser benditas como ela, porque obedeceste a minha voz. (Gn  22,18). É bem verdade que seu povo lhe pediu, através do profeta Samuel, um rei terreno, rejeitando-o, de certa forma, como seu rei, o que lhe foi concedido. (I Sm 8,7).

Mesmo assim, com certeza, todo trono de Israel ficou sendo conhecido como o trono do rei Javé, porque toda direção deviria vir dele, assim como o afirmou Davi. (I Cr 28,5).

Ora, por amor a esse reino, compreendendo o tempo da antiga aliança, libertou o povo de Deus, de uma escravidão histórica (430 anos), com vista a uma libertação espiritual futura. (Jr 29,11-13).

Por isso, o Senhor nos exorta: “Invoca-me, e te responderei, revelando-te grandes coisas misteriosas que ignoras” (Jer 33,3).

Assim, quando chegou o tempo da plenitude (Gl 4,4-6), Deus enviou o seu próprio Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, para reinar sobre um reino que não tem fim (II Sm 7,16; Lc 1,33). Por isso, Jesus, na cruz do calvário, libertou-nos espiritualmente (Mt 1,21), com vista a uma libertação espiritual; isto é, do espírito, da alma, do coração e de todo o nosso ser.

Desde o Antigo Testamento o Senhor anunciou, pela boca de seus profetas, um Reino, que é o Reino do seu Filho Jesus Cristo, no qual se incluiriam todas as nações. Assim, todos nós, desde o nascimento do Senhor Jesus Cristo (Lc 2,11) até a consumação dos séculos estaremos vivendo nesse reino, numa dimensão mais ampla, universal, da presença viva do Senhor Jesus Cristo nos corações de seus filhos e filhas. (Lc 17,20-21).

Não é verdade que, na missão do Senhor Jesus, constava o restabelecimento espiritual de Israel e, consequentemente, dos demais povos de boa vontade?

“Não basta que sejas meu servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel; vou fazer de ti a luz das nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo” (Is 49,6).

Desse modo, o Reino de Deus, como nos ensina o Senhor Jesus, já está dentro de cada um de nós. (Lc 17,20-21).

Esse Reino, que é Jesus Cristo em nós e nós nele (Gl 2,20), como nos ensina S. Paulo, é um Reino que se opera, principalmente, nos corações. Por isso, um Reino de justiça, de paz e alegria no Espírito Santo. (Rm 14,17).

Ora, a Igreja Católica, que reúne todos os corações em Cristo, Jesus, forma, certamente, o Reino, visível, de Deus sobre a terra – o Cristo total – como um dom celestial da caridade divina.

“Não temas, ó pequenino rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos Reino”. (Lc 12,32).

Desse mesmo Reino, pelo que se conclui, a partir das Sagradas Escrituras, há os que padecem as penas dos pecados e dos sentidos, no purgatório até que sejam elevados ao paraíso.

“A obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento) demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém, passando de alguma maneira através do fogo”. (I Cor 4,13-15).

Além disso, temos o reino triunfante do Pai e do Filho, no paraíso (Lc 23,43). O Senhor Jesus virá uma segunda vês (At 1,11; I Ts 4,12-17, na glória de seu Pai com seus anjos (Mt 16,27; Ap 22,12), e então dará a plenitude do seu reino aos que tiverem feito boas obras. (Ap 19,11-16).

Não é verdade que Jesus Cristo ensinou aos seus apóstolos e, consequentemente, a nós, a rezar pela plenitude do Reino de Deus?

“Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. (Mt 6,10).

Ora, quando o Senhor Jesus vier, no final dos tempos, após a ressurreição dos mortos, teremos a conclusão final e perfeita de sua obra de restauração do Reino de Deus sobre a terra. Naquele momento, depois de ter vencido tudo, e realizado plenamente a obra para a qual o Pai o enviou (Is 55,11); ele mesmo, glorioso, subjugar-se-á ao Pai, para que  Deus seja tudo em todos. (I Cor 15,28).
01. A quem pertence o reino de Deus?

a) Aos humildes de espírito.

“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3)

b) As criancinhas.

“Deixais vir a mim as criancinhas, e não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham”. (Mt 19,14).

c) Aos pobres.

“Bem-aventurados vós os pobres, porque vosso é o Reino de Deus”. (Lc 6,20).

d) Aos perseguidos por causa da justiça.

“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos céus”. (Mt 5,10).

e) Aos puros de coração.

“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”. (Mt 5,8).

f) Aos pacíficos.

“Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus”. (Mt 5,9).
g) Aos muitos que virão de todos os lugares.

“Virão muitos do oriente, do ocidente, do norte, do sul e se sentarão à mesa do Reino de Deus”. (Lc 13,29).

Certa vez os discípulos de Jesus lhe perguntaram quem seria o maior no reino dos Céus. O Senhor, chamando um menino, pô-lo no meio deles, e disse-lhes: “Se não vos converterdes e vos não tornardes como meninos, não entrareis no reino dos céus. Aquele, pois, que se fizer pequeno, como este menino, esse será o maior no Reino dos céus. E quem receber, em meu nome, um menino como este, é a mim que recebe”. (Mt 18,3-5).
2. A que o Senhor Jesus comparou o Reino de Deus?

a) A um homem que semeou boa semente no seu campo. (Mt 13,23).

b) A um grão de mostarda, que um homem tomou e semeou no seu campo (Mt 13,24ss).

c) Ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha, até que o todo ficasse fermentado. (Mt 13,33).

d) A um tesouro escondido num campo. (Mt 13,44).

e) A uma pérola preciosa que um mercador deseja possuir. (Mt 13,45-46).

f) A uma rede lançada ao mar, que colhe toda a casta de peixes. (Mt 13,47-50).

03. O que nos será mais importante conhecer para acolhermos o Reino de Deus em nossos corações?

a) Acreditar em Jesus Cristo, o Senhor, com a fé que opera pela caridade e a esperança viva. (Gl 5,6).

“A obra do agrado de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou”. (Jo 6,29).

b) Que vivamos, interiormente, no coração o Reino de Deus.

“O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”. (Rm 14,17).

“O Reino de Deus não consiste em palavras, mas em virtudes” (I Cor 4,20).

c) Devemos buscar em primeiro lugar o Reino de Deus  e a sua justiça.

“Buscai, pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas serão dadas em acréscimo”. (Mt 6.33).

d) Que o reino de Deus seja vivido com muita força de vontade.

“Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam”. (Mt 11,12).

Na verdade aqueles que assumem o Reino de Deus têm que deixar o ‘mundo’ para fazer unicamente a vontade de Deus (I Jo 2,15-17) e nunca olhar para trás. (Lc 9.62).

Desse modo, já estamos inseridos no Reino de Deus, porque o Senhor Jesus, por amor e fidelidade ao Pai, realizou na cruz essa grande obra de misericórdia; isto é, a restauração do Reino de Deus, do qual somos seus filhos e filhas muito amados; por isso, convidados; por isso, escolhidos; por isso, salvos; por isso, lavados e purificados; por isso,  santificados através do batismo de regeneração e renovação do Espírito Santo (Tt 3,4-7), para vivermos, eternamente, na alegria e na felicidade, e, através da visão beatífica, vermos o Senhor face a face.

Portanto, não busquemos esse Reino de amor fora de nossos corações.

O Senhor Jesus, para nossa alegria, nos diz: “Quem crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6,47).


João Carvalho Porto.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Viver com Sabedoria


Palavra de Sabedoria

Pelo que já vimos e estudamos dá para percebermos que o Espírito Santo é a luz de nossa vida e a vida de nossa alma (Jo 15,5b). Sem ele não teremos a luz do Senhor (Jo 9,5) e, por isso, não haverá vida eterna em nossos corações (Jo 6,47), nem a santificação de que tanto necessitamos (Hb 12,14) para penetrarmos nas moradas eternas. (Jo 14,2).
Ora, o Espírito Santo, pelo batismo ministrado na Igreja do Senhor (Mt 3,11b; 28,19; At 38,39), infunde em nossas almas todos os Dons e todas as virtudes da caridade divina; as águas vivas da graça (Jo 4,10) e da verdade que o Senhor Jesus Cristo nos ensinou (Jo 1,17b), desde o topo da cruz, como o perdão, reconciliação, salvação e vida eterna. (Jo 3,16).

1, Como se operam estas riquezas eternas em nossas vidas?

a) Pelos Dons infusos (Is 11,2-3), luzes de nossa edificação pessoal, através dos quais  o Espírito Santo santifica nossas faculdades espirituais (Inteligência, vontade, memória, imaginação e afetividades). (I Cor 6,11).

b) Pelos Dons efusos (I Cor 12,8-10), fontes de edificação comum na Igreja, e de santificação, através da prática dos carismas, conforme nos concede, gratuitamente, o Espírito, para que o Senhor nos envie ao exercício dos ministérios.

“Há, pois, diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos” (I Cor 12,4-6).
c) Pelas virtudes (I Cor 13,13; Sb 8,7), através da prática da vida espiritual, num relacionamento com Deus e os irmãos, na comunidade, conforme o que nos ordena o Senhor Jesus, para nossa perfeição (Mt 5,48).

2. O que são dons carismáticos?

São meios eficazes, pelos quais o Espírito Santo nos edifica, aperfeiçoando-nos no crescimento espiritual e na santidade do amor de Deus. Seus objetivos são a construção do corpo místico do Senhor, a Igreja em nossos corações. Por eles somos inspirados a realizar o bem comum na comunidade; isto é, sermos parte do conjunto do Cristo total.
“Num mesmo Espírito fomos batizados para formarmos um só corpo, ou sejamos judeus ou gentios, ou servos ou livres; e todos têm bebido de um só Espírito”. (I Cor 12,13).

Assim, polos carismas, prestamos serviço à comunidade, conforme a capacitação que recebemos do Senhor Jesus (I Cor 12,11) através das realidades novas (II Cor 5,17) que o Espírito Santo, gratuitamente, nos tem concedido, para que cresçamos na fé, na esperança e na caridade, e façamos crescer o reino de justiça, de paz e alegria no Espírito Santo. (Rm 14,17).

“Quando vos reunis, se um de vós tem um cântico, outro uma instrução, outro uma revelação, outro o dom das línguas, outro uma interpretação, faça-se tudo para edificação.” (I Cor 14,26).

Não é verdade que, pelos carismas, o Espírito Santo edifica o povo de Deus na sua Igreja?

“Assim também vós, já que sois desejosos de dons espirituais, procurai abundar (neles) para edificação da Igreja”. (I Cor 14,12).

03. O que é a palavra de sabedoria em nossa vida espiritual, em Cristo Jesus?

É o primeiro dos carismas citados por S. Paulo (I Cor 12,8-10), pelo qual nos santificamos, enquanto instruídos, interiormente, pelo Espírito Santo, para os serviços de sua caridade, na santa Igreja do Senhor.

04. Como poderemos entender esse carisma?

Pela gratuidade do dom, o Espírito Santo nos concede a compreensão de tudo quanto devemos falar e agir em favor dos irmãos e irmãs, na comunidade, conforme os fatos e dificuldades concretas da vida real. (Mt 10,19-20; Lc 12,12).

Muitas vezes, num grupo de oração, recebemos palavras inspiradas para serem proclamadas na partilha. Ora, acontece que não tiveram conhecimento prévio de situação alguma. No entanto, o Espírito Santo lhes inspirou palavras de sabedoria, objetivando as necessidades dos filhos e filhas do Senhor, na Igreja.

“Os olhos do Senhor percorrem toda a terra para sustentar aqueles cujo coração lhe é totalmente devotado”. (II Cr 16,9).

“E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus”. (Rm 8,27).

Não é comum ouvir na assembleia expressões como estas?: “Estas palavras que a minha irmã proclamou foram dadas por Deus, como uma graça especial para mim!... Eu estava necessitando de ouvir estas palavras! Esta sabedoria divina veio na medida do que o meu coração precisava acolher”.

Na verdade, é uma linguagem de sabedoria dirigida pelo Espírito Santo a uma pessoa ou ao grupo de oração como um todo. Depende de nossas necessidades ou da carência espiritual da comunidade, porque o Espírito de Deus quer ensinar e orientar o seu povo no caminho da fé e da caridade filial. Sl 31,8; Ap 3,19-21).

05. Qual a diferença que há entre palavra de sabedoria e palavra de ciência?

Na verdade, são muito parecidas entre si; mas, enquanto a palavra de sabedoria independe do conhecimento prévio da situação ou dificuldades de alguém, a palavra de ciência é uma sabedoria cognitiva revelada pelo Espírito Santo sobre uma situação diagnosticada; isto é, discernida. O que queremos dizer é que, enquanto a ciência corresponde ao diagnóstico da situação, a palavra de sabedoria é o medicamento que cura; pois, a sabedoria é que julga das coisas divinas.

Assim, podemos afirmar que, pelo dom da sabedoria o Espírito Santo santifica a faculdade de nossa inteligência. Aliás, são quatro dons, conhecidos como dons intelectuais: Entendimento, sabedoria, ciência e conselho. De outro modo, nossa vontade é santificada através do dom da piedade e, nossa ária inferior: memória, imaginação e afetividades, pelos dons da fortaleza e do temor de Deus.

Entretanto, pelo dom carismático da palavra de sabedoria, prestamos um serviço que, naturalmente, contribui para nossa santificação, na medida em que atuamos como instrumentos da sabedoria divina, para a edificação da comunidade ou dos irmãos e irmãs na Igreja do Senhor Jesus Cristo.

Ora, “temos dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada; quem tem o dom da profecia, use-o segundo a regra da fé; quem tem o ministério, exerça o ministério; quem tem o dom de ensinar, ensine; quem tem o de exortar, exorte; o que reparte, faça-o com simplicidade; o que preside, seja solícito; os que fazem obras de misericórdia façam-nas com alegria” (Rm 12,6-8).

Então, pelo dom da sabedoria somos santificados, a partir de nossa inteligência, através do conhecimento e compreensão que nos dão o perfeito juízo das coisas santas do amor, conforme o seu sabor inefável. O carisma da palavra de sabedoria, no entanto, é uma linguagem nova para quem se renova (Ef 4,23-24), inspirada no mesmo Espírito; para a edificação e santidade do povo de Deus em sua Igreja católica.

Isto significa dizer que, a linguagem inspirada pelo Espírito Santo  aos corações, é própria e adequada para santificar o povo de Deus, pela manifestação e renovação dos carismas na Igreja do Senhor.

Assim, pois, numa visão maior, podemos afirmar que as escrituras sagradas são palavras de sabedoria e de ciência que nos foram dadas por Deus, como medicamentos próprios para curar as doenças  e o males no espírito, na alma e no coração, a fim de que sejamos todos profetas do amor.

“Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu; e (depois) vem e segue-me”. (Mt 19,21).

06. Que mais poderemos dizer sobre o carisma da palavra de sabedoria?

Os carismas (I Cor 12,8-10), dons de santificação (Is 11,2-3) e virtudes (I Cor 13,13) são graças do amor do Pai e do Filho, concedidas, por isso, gratuitamente, aos que têm os corações simples e humildes. Foi  pelos corações simples e humildes que o Senhor Jesus deu graças e louvou o Pai da glória. (Lc 10,21).

O Dom da palavra de sabedoria é muito usado na Igreja pelos líderes da Renovação Carismática Católica e, principalmente, pelos sacerdotes em suas homilias na Santa Missa; pelos conselheiros (as), com apoio de todo os demais carismas.

João C. Porto