quinta-feira, 4 de julho de 2013

Espírito Santo - Dom da Ciência

DOM  DA  CIÊNCIA

   Se a ordem natural é tão bela, tão perfeita, tão grandiosa, mais bela, grandiosa e perfeita é, sem dúvida, a ordem sobrenatural, como é mais bela a estátua do que o pedestal sobre a qual está colocada, como é mais rica a joia do que a peça sobre a qual está engastada.

   Se na ordem natural há grande riqueza de dons intelectuais para integrar, por assim dizer, o caudal dos nossos conhecimentos naturais; na ordem sobrenatural e, sobretudo neste cume altíssimo em que impera os Dons, há também múltiplos e riquíssimos Dons do Espírito Santo, pelos quais podemos ter um conhecimento profundo e perfeito da ordem divina.

   Na ordem natural temos os hábitos dos primeiros princípios, da ciência, da sabedoria e da prudência; e a cada um destes hábitos intelectuais, como já expliquei, correspondem outros tantos Dons do Espírito Santo.
   No capítulo anterior tratei do Dom do Conselho, que é uma prudência superior; neste capítulo quero falar do Dom da Ciência.
   Um dos tesouros mais preciosos que possuímos em nosso caudal intelectual é, sem dúvida, a ciência; a ciência que perscruta o universo, que analisa em profundidade todos os fenômenos e todos os seres e que, ao conhecer as maravilhas que Deus fez na ordem natural, realizou descobertas assombrosas, sobretudo na nossa época.
   Pois bem, há na ordem natural uma ciência mais profunda, uma ciência vastíssima e que leva a cabo maravilhosas descobertas, é o que na Escritura se chama ciência dos santos. Lemos num dos livros sapienciais: “Deus conduziu o justo pelos caminhos retos e lhe mostrou o Reino de Deus e lhe comunicou a ciência dos santos” (Sb 10,10). A ciência dos santos é esta ciência divina que é o Dom do Espírito Santo.

   Há também outra ciência sobrenatural, a ciência teológica; é uma ciência que poderíamos dizer metade divina e metade humana, na qual se enlaçam os grandes princípios da fé com as verdades sólidas da nossa razão. Mas não é esta a ciência dos santos, até um pecador pode ser teólogo.
   A ciência dos santos é a ciência daqueles que possuem a graça de Deus, e pelo fato de possuí-la trazem em seu espírito o Espírito Santo, e ele os move e guia a sua inteligência para que eles possam conhecer esta ciência divina.
   O Dom da ciência tem analogia com a ciência humana; mas há também nelas caracteres que as diversificam por completo.
   A ciência humana é o conhecimento que se tem das coisas por suas causas imediatas; para dizê-lo com uma fórmula mais fácil de compreender, e o conhecimento humano das criaturas.
   Cabe à sabedoria dirigir suas poderosas pupilas para o próprio seio da divindade e, a partir deste ponto elevado, contemplar as criaturas.
   O Dom da Ciência  segue outro caminho; faz-nos compreender divinamente as criaturas, para que por meio delas nos possamos elevar até Deus.
   A ciência é discursiva, passa de uma verdade a outra, e assim vai iluminando todos os campos do saber. A nossa inteligência procede de maneira lenta e penosa e vai enlaçando pelo raciocínio as verdades até que chega a ter um conjunto sistematizado e mais ou menos completo delas.
   O Dom da Ciência não é discursivo, os conhecimentos que se alcança por este Dom são intuições, porque como Dom do Espírito Santo tem um modo divino, e naquela intuição veem-se os vínculos misteriosos que ligam entre si as criaturas e, sobretudo, o grande, o transcendental vínculo que as criaturas têm com Deus.
   Iluminados pelo Dom da ciência, não temos esses conhecimentos que alcançamos pelas ciências humanas; este Dom divino não nos ensina a natureza ou as propriedades de cada criatura, mas considera-as como ordenadas para Deus, de maneira mais profunda, de maneira mais ampla.
  Um autor disse, com uma frase belíssima, que antes que as criaturas tivessem o nome próprio que se dá a cada uma delas, tinham um nome comum, chamavam-se “reflexos da Bondade divina”, “escadas luminosas para subir a Deus”.
   As ciências humanas dão a cada coisa seu próprio nome, dizem-nos qual é sua natureza íntima, suas propriedades, as leis a que estão sujeitas.
   O Dom da Ciência considera as criaturas da maneira que acabo de indicar e lhes dá um nome comum; para o Dom da Ciência todas as criaturas são reflexos de Deus, reflexos da Bondade divina, reflexos da Formosura Celestial e, ao mesmo tempo, meios adequadíssimos para irmos a Deus, escadas luminosas pelas quais subimos ao céu.
   A criatura considerada assim, em suas íntimas relações com Deus, tem dois caracteres claríssimos: um, sua vaidade; outro o vestígio divino que há nela. Para compreender as criaturas, é necessário olhar profundamente estes dois caracteres, e é isso que faz o Dom da Ciência.
   As criaturas são vãs. Salomão não aquele livro magistral, o Eclesiastes, no qual aparece como tema transcendental e profundo aquela frase: “Vaidade das vaidades e tudo é vaidade”?
   O Rei sábio tinha contemplado todas as coisas, tinha bebido em todos os mananciais da terra, possuía riquezas fantásticas, Deus o havia dotado de uma sabedoria profunda, envolvia-o uma glória que naquela época não teve semelhante e ele mesmo diz que não negou ao seu coração nada do ele lhe pediu. E depois de ter contemplado tudo e experimentado tudo, depois de ter bebido, como dizia, em todos os mananciais do mundo, acabou tirando esta conclusão dilacerante: “Vaidade das vaidades e tudo é vaidade!”
   E na realidade assim é, porque nenhuma criatura pode satisfazer o nosso coração. Há nele uma capacidade imensa, de certa forma infinita, porque Deus fez nosso coração para ele. Por mais que queiramos encher este vazio do nosso coração com as criaturas, nunca estará satisfeito. São vãs, não são para nós, como disse alguém: “Sou maior e para coisas maiores nasci”. 
  Mas quanto trabalho nos custa compreender a vaidade das criaturas! Superficiais como somos, sentimos o fascínio da criatura, o que a Sagrada Escritura chama: “O fascínio da vaidade”. Como nos deslumbram as criaturas com o seu brilho! Como nos atraem e nos acorrentam com os seus encantos! Com que frequência nos afastam de Deus!
   Na realidade, quando nos afastamos de Deus, não é porque alguma criatura se apoderou do nosso coração e nos arrastou atrás de si? Por isso se diz num dos Salmos: “Até quando, ó homens, tão duros de coração? Por que amais a vaidade, buscais a mentira?” (Sl 4,3).
   Quantas vezes as criaturas nos seduzem e nos afastam do caminho, do caminho reto e seguro que conduz aos céus! Buscamos a vaidade e amamos a mentira, o prazer nos torna vis, o prazer nos embriaga, os bens materiais nos acorrentam.
   É a vaidade que nos aprisiona, é a criatura que se apossa do nosso coração, que atrai nossa alma, que nos afasta de Deus, o único que constitui a paz do nosso coração e a felicidade de nossa vida.
   Em vão se nos prega acerca da vaidade das criaturas, em vão lemos tratados sapientíssimos sobre o mesmo assunto; muitas vezes nem uma triste e dolorosa experiência acaba de tirar a venda dos nossos olhos: deixamo-nos levar pelo fascínio da vaidade, deixamos que nosso coração se apegue a uma criatura.
   Cedo ou tarde encontramos ali o vazio e a amargura; e parece que aquela experiência deveria ser suficiente para que voltássemos para Deus. Mas, não; pouco depois, o brilho e o encanto das criaturas tornam a seduzir-nos, e voltamos a cair nos mesmos laços. E quantas vezes são necessários muitos tropeços e, sobretudo, uma luz abundante de Deus para que, por fim, compreendamos a vaidade das criaturas!
   Não nos demos conta de que em todas as conversões notáveis aparece este traço característico, o sentimento vivo da vaidade das criaturas? É Francisco de Borja que, ao contemplar o cadáver da rainha Isabel, exclama: “Não voltarei a servir um senhor que possa morrer!”
   É são Silvestre que também se converteu a Deus à vista de um cadáver. Quantas vezes uma palavra, um acontecimento revelou aos homens a vaidade das criaturas! E, então, se realiza neles essa transformação completa que na linguagem cristã se chama conversão.
   Essa súbita e profunda convicção da vaidade das criaturas é fruto do Dom da Ciência. Não bastam as considerações. Quantas vezes lemos as Escrituras e tornamos a ler as páginas do Eclesiastes onde se nos fala da vaidade das coisas! Mas ainda, nas páginas imortais do Evangelho encontramos as palavras que Cristo nos disse: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-os aos pobres, e vem e segue-me”. É uma lição divina que nos ensina a vaidade das coisas da terra: vende o que tens porque tudo é vão.
   E cremos na palavra da Escritura, na palavra de Deus; mas essa crença permanece na parte superior do nosso Espírito e não consegue produzir em nós uma profunda transformação.
   Mas um dia, uma palavra, um espetáculo, uma luz de Deus, nos revela de repente o mistério da vaidade das coisas, e então a conversão se realiza.
   Torno a repetir, a primeira coisa que o Dom da Ciência realiza, é revelar-nos, de maneira intuitiva e profunda, com uma convicção irresistível, a vaidade das coisas. Quando o homem chegou a esta visão das coisas vãs, volta-se definitivamente para Deus, empreende o caminho da perfeição cristã.

   Mas os autores espirituais falam ás vezes, da segunda conversão. Além desta primeira conversão, pela qual se deixa o pecado e se entra nos caminhos da graça, realiza-se às vezes, uma segunda conversão.
   Quando muda a rota da vida espiritual, quando Deus chama uma alma a uma perfeição mais elevada, para esta segunda conversão vem o Dom da Ciência a fim de produzir de maneira mais profunda e perfeita a conversão da vaidade das coisas da terra.
   Às vezes, este efeito do Dom da Ciência é amargo, é dolorosa, é terrível; porque a virtude nem sempre é doce. Às vezes, a virtude nos parece amarga, nos parece cruel, há virtudes que nos dilaceram o coração, que nos desconcertam; que nos desiludem; mas é assim que o Dom da Ciência chega a produzir nas almas esse desprezo total das coisas da terra que é a noite dos sentidos de que nos fala são João da Cruz, essas purificações longas e tremendas às quais Deus sujeita as almas quando quer leva-las às alturas.
   Então, de repente, a alma vê que todas as criaturas perderam o seu encanto, e já não a atrai o que antes a atraia, já não pode encontrar descanso naquilo em que antes seu coração o encontrava; é uma noite, noite escura em que não brilha estrela alguma; noite bendita, porque o homem foi definitivamente arrancado ao encanto das criaturas para encontrar-se no caminho reto e seguro que nos conduz a Deus.

   Mas se é verdade que há vaidade nas criaturas, também é certo que há nelas uma centelha divina. Cada criatura parece-me um tosco invólucro que contém uma pérola divina; toda criatura é vã porque é deficiente, porque é limitada, porque nunca poderá encher o nosso coração; mas também em qualquer criatura, desde o mais excelso dos serafins até o último átomo que se encontra nos corpos, há uma centelha divina.
   São João da Cruz, com seu olhar profundo e ao mesmo tempo estático, no-lo diz numa estrofe imortal:
“Mil graças derramando,                                            
passou por estes bosques com presteza,
e tendo-os alhado,
com sua simples figura
deixou-os vestidos de sua beleza”.

   Com magnífica figura poética, são João apresenta Deus que vai passando, vai passando pelo espaço, vai passando pelo universo; e ao ir passando vai derramando suas graças, e ao refletir-se sua divina figura nas coisas criadas, vai revestindo-as de luz.
   Todas as coisas têm uma centelha de Deus, estão feitas à semelhança de Deus; por isso diz o Gênesis que, quando Deus contemplou as coisas que havia criado, viu que todas elas eram muito boas, porque todas têm uma centelha de Deus, porque todas trazem um reflexo de sua bondade, porque em todas elas se retrata de forma mais ou menos remota, mas se retrata sem dúvida a formosura do Criador.
   Geralmente não conseguimos dar a esta formosura seu verdadeiro valor; o que têm de formosura nos deslumbra. Mas quando o Dom da Ciência nos fez ver a vaidade das coisas da terra e purificou a pupila da nossa alma, então nosso espírito contempla de maneira nova as coisas da terra.
   Há um santo que certamente possuiu abundantemente o Dom da Ciência; foi são Francisco de Assis. Estamos lembrados das etapas de sua vida extraordinária e belíssima?
Primeiro foi a dissipação das criaturas. Sonhava, como era próprio de sua época, com a glória; dir-se-ia um nobilíssimo cavaleiro andante.
   Deus lhe revelou a vaidade das coisas da terra, e então sentiu a necessidade de despojar-se de tudo, e lançou suas vestimentas nas mãos do pai, dizendo-lhe: “Agora posso dizer melhor: Pai nosso que estais nos céus!” E foi a porciúncula para despojar-se com a Dama Pobreza.
   A primeira etapa da vida de Francisco foi o desprezo das coisas da terra, produzido pelo Dom da Ciência, que fez com que se desprendesse de tudo e se enamorasse da pobreza. Enamorou-se da pobreza, porque a pobreza é a verdade, porque a pobreza é a escada para ir a Deus, porque ele sabia que a pobreza é fecunda.
   E depois, seus olhos se transformaram e olhou de maneira nova todas as criaturas. Acaso esquecemos com que profundidade e com amor Francisco de Assis olhava todas as coisas da terra? As flores, as aves, a água, o sol, tudo tinha para Francisco um sentido divino, todas as criaturas lhe falavam de Deus, e ele sentia uma profunda, imensa e estranha fraternidade com todas dava o nome de irmãs. Lembramo-nos de suas expressões? A irmã água, o irmão fogo, o irmão sol, o irmão lobo... Com que ternura tirava os pequenos vermes que se arrastavam no caminho para que não fossem pisados pelos viajantes! Como se opunha a que pusessem cercas estreitas em torno das árvores para não limitar-lhe o desenvolvimento!
   E com este conhecimento profundo das coisas naturais, com este olhar divino que tinha das criaturas, chegou a realizar coisas que pareciam loucura ao comum dos homens. Não nos lembramos de que em certa ocasião às aves? Pôs-se a pregar-lhes, e as aves se reuniram em torno dele. Loucura, dirão os que não sabem julgar a não ser com o pobre critério humano; sublimidade divina, dizemos nós que estamos iniciados nos mistérios do Reino dos céus.
   Ele olhava para as criaturas com outros olhos, não com estes pobres olhos humanos que não olham somente para o transitório e o superficial; ele as olhava com olhos profundos, via em cada criatura o reflexo de Deus, cada criatura era como um cristal puríssimo através do qual contemplava Deus.
   Mas, se é verdade que neste santo aparece de maneira especial o Dom da Ciência, pode ser encontrado também em muitos outros. Não nos recordamos que são Francisco de Sales, em seus escritos se serve de tudo o que observa na natureza para elevar-se a Deus? Não nos lembramos daquela alma que quando olhava para o campo e contemplava as flores, lhes dizia: “Calai, calai! Não me digais que ame, porque desfaleço de amor?”
   Para esta alma as criaturas tinham uma linguagem misteriosa, todas lhe falavam de Deus; como para aquele que ama, um retrato, uma flor, o perfume da pessoa amada lhe recorda aquela pessoa que traz em seu coração. Por isso lhes dizia que calassem, pois lhe parecia que todas as criaturas a convidavam a amar a Deus, e ela, que já não podia suportar o ardor de sua alma, via-se obrigada a dizer-lhe que se calassem.     
   Nos altos graus do Dom da Ciência, como disse alguém, chega-se a ter uma visão semelhante àquela visão belíssima e profunda que deve ter tido Adão no Paraíso, antes do pecado.
   A Escritura diz que Adão foi dando a cada coisa um nome próprio; isto significa que tinha um conhecimento profundo e perfeito de todas as coisas que o cercavam.
   E quando sua natureza virgem, cheia de frescura e de beleza, acabou de sair das mãos onipotentes do Criador, quando o seu espírito foi revestido de graça e quando o Espírito Santo por meio dos seus Dons o moveu, como veria Adão todas as criaturas, como contemplaria o universo, como olharia para as folhagens esplêndidas do Paraíso? Como um olhar celestial, com um olhar divino. É a luz do Dom da Ciência.
   E no cume deste Dom encontra-se o desprendimento perfeito: as almas que desprezam de maneira definitiva todas as criaturas encontram a santa liberdade dos filhos de Deus, o gozo da liberdade, a alegria profundíssima da pobreza. Ao mesmo tempo, seu olhar se torna celestial e olham o mundo de maneira nova, com olhar divino.
   Mas não quero terminar sem indicar outro efeito belíssimo que o Dom da Ciência produz nos altos graus. As almas que o possuem olham os sofrimentos e as humilhações de maneira nova.
   Não observamos nos santos este estranho e inexplicável amor pelo sofrimento? Santa Teresa dizia: “Ou sofrer ou morrer”. Estranha alternativa! Duas são as coisas das quais geralmente fugimos: a dor e a morte; e para Teresa de Jesus não havia mais do que estas duas coisas: Ou sofrer ou morrer.
   Santa Maria Madalena de Pazzis modificava a frase de santa Teresa: “Não morrer, mas padecer”. Como explicar este estranho amor pelos sofrimentos e pelas as humilhações?
   Porque também os santos amam as humilhações. São João da Cruz disse a Jesus Cristo uma palavra sublime; certo dia Jesus lhe falou e lhe disse: “Que recompensa desejas por tudo o que fizeste por mim?” E são João da Cruz respondeu: “Senhor, sofrer e ser desprezado por ti!”.
   Não parece estranho pedir como recompensa o sacrifício e a humilhação? É que à luz do Dom da Ciência o sacrifício e a humilhação têm um sentido divino e sobrenatural. Nós, imperfeitos, não conhecemos mais do que o superficial; os santos, com a luz de Deus, veem as coisas em profundidade.
   O sacrifício e a humilhação são coisas preciosas, estão longe da vaidade e, ao mesmo tempo, contêm de maneira copiosa e opulenta o esplendor divino. Pelo sofrimento e pela humilhação nos assemelhamos a Jesus Cristo, e nada sobre a terra tão divino como o que se refere a Jesus Cristo e nos assemelha a ele.
   Quando se fala destas coisas parece-nos que desde um vale profundo estamos olhando um cume excelso onde se encontra a brancura imaculada da neve, e talvez nos sintamos incapazes de chegar até aquele cimo glorioso. Mas, não é doce, não é belo contemplar das profundidades da nossa miséria esses cumes excelsos onde chegaram nossos irmãos e onde está Deus?
   Como será a vida de um santo, como será o coração dos bem-aventurados, olhando as coisas com a luz da verdade, penetrando nas profundidades delas, sentindo novos anelos, santas impressões, e no meio destas impressões e anelos, a paz da alma, o gozo do espírito que fez o autor de um dos livros sapienciais exclamar: “O coração do justo é como um perpétuo festim?” Um festim de luz, um festim de amor, um festim de paz.
   Mesmo que não tenhamos a coragem de escalar estas montanhas excelsas para chegar ao cume, que estas visões celestiais ao menos acendam em nós o desejo de viver uma vida cristã mais perfeita, que sejam um aguilhão, um estímulo.
   Da mesma forma como quando contemplamos um palácio régio nos vem o desejo de tornar mais bela e cômoda a nossa pobre casa, e quando ouvimos uma composição musical sublime, embora não pretendamos chegar a produzir coisa semelhante, sentimos maior afeição pela música e na medida das nossas possibilidades nos exercitamos nela, assim, à vista destes cumes excelsos, ao contemplar as maravilhas que o Espírito Santo produz em nossas almas, que se excite nosso coração, que tome alento o nosso espírito e, ainda que seja em passos lentos, que vamos caminhando para Deus, que é luz, que é amor, que é felicidade; para este Deus que banha as almas que o amam na luz esplêndida, no amor dulcíssimo, na paz infinita...

Do livro: "Os Dons do Espírito Santo”. Autor: Luís M. Martinez, Arcebispo Primaz do México. Apresentação: Pe. Haroldo J. Rahm, S.J. – Edições Paulinas, 1976

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