DOM
DA CIÊNCIA
Se na ordem natural há
grande riqueza de dons intelectuais para integrar, por assim dizer, o caudal
dos nossos conhecimentos naturais; na ordem sobrenatural e, sobretudo neste
cume altíssimo em que impera os Dons, há também múltiplos e riquíssimos Dons do
Espírito Santo, pelos quais podemos ter um conhecimento profundo e perfeito da
ordem divina.
Na ordem natural temos
os hábitos dos primeiros princípios, da
ciência, da sabedoria e da prudência; e a cada um destes hábitos
intelectuais, como já expliquei, correspondem outros tantos Dons do Espírito
Santo.
No capítulo anterior
tratei do Dom do Conselho, que é uma prudência superior; neste capítulo quero
falar do Dom da Ciência.
Um dos tesouros mais
preciosos que possuímos em nosso caudal intelectual é, sem dúvida, a ciência; a
ciência que perscruta o universo, que analisa em profundidade todos os
fenômenos e todos os seres e que, ao conhecer as maravilhas que Deus fez na
ordem natural, realizou descobertas assombrosas, sobretudo na nossa época.
Pois bem, há na ordem
natural uma ciência mais profunda, uma ciência vastíssima e que leva a cabo
maravilhosas descobertas, é o que na Escritura se chama ciência dos santos. Lemos num dos livros sapienciais: “Deus conduziu o justo pelos caminhos retos
e lhe mostrou o Reino de Deus e lhe comunicou a ciência dos santos” (Sb
10,10). A ciência dos santos é esta ciência divina que é o Dom do Espírito
Santo.
Há também outra
ciência sobrenatural, a ciência
teológica; é uma ciência que poderíamos dizer metade divina e metade
humana, na qual se enlaçam os grandes princípios da fé com as verdades sólidas
da nossa razão. Mas não é esta a ciência dos santos, até um pecador pode ser
teólogo.
A ciência dos santos é
a ciência daqueles que possuem a graça de Deus, e pelo fato de possuí-la trazem
em seu espírito o Espírito Santo, e ele os move e guia a sua inteligência para
que eles possam conhecer esta ciência divina.
O Dom da ciência tem
analogia com a ciência humana; mas há também nelas caracteres que as
diversificam por completo.
A ciência humana é o
conhecimento que se tem das coisas por suas causas imediatas; para dizê-lo com
uma fórmula mais fácil de compreender, e o conhecimento humano das criaturas.
Cabe à sabedoria
dirigir suas poderosas pupilas para o próprio seio da divindade e, a partir
deste ponto elevado, contemplar as criaturas.
O Dom da Ciência segue outro caminho; faz-nos compreender
divinamente as criaturas, para que por meio delas nos possamos elevar até Deus.
A ciência é
discursiva, passa de uma verdade a outra, e assim vai iluminando todos os campos
do saber. A nossa inteligência procede de maneira lenta e penosa e vai
enlaçando pelo raciocínio as verdades até que chega a ter um conjunto
sistematizado e mais ou menos completo delas.
O Dom da Ciência não é
discursivo, os conhecimentos que se alcança por este Dom são intuições, porque
como Dom do Espírito Santo tem um modo divino, e naquela intuição veem-se os
vínculos misteriosos que ligam entre si as criaturas e, sobretudo, o grande, o
transcendental vínculo que as criaturas têm com Deus.
Iluminados pelo Dom da
ciência, não temos esses conhecimentos que alcançamos pelas ciências humanas;
este Dom divino não nos ensina a natureza ou as propriedades de cada criatura,
mas considera-as como ordenadas para Deus, de maneira mais profunda, de maneira
mais ampla.
Um autor disse, com
uma frase belíssima, que antes que as criaturas tivessem o nome próprio que se
dá a cada uma delas, tinham um nome comum, chamavam-se “reflexos da Bondade divina”, “escadas luminosas para subir a Deus”.
As ciências humanas dão
a cada coisa seu próprio nome, dizem-nos qual é sua natureza íntima, suas
propriedades, as leis a que estão sujeitas.
O Dom da Ciência
considera as criaturas da maneira que acabo de indicar e lhes dá um nome comum;
para o Dom da Ciência todas as criaturas são reflexos de Deus, reflexos da
Bondade divina, reflexos da Formosura Celestial e, ao mesmo tempo, meios
adequadíssimos para irmos a Deus, escadas luminosas pelas quais subimos ao céu.
A criatura considerada
assim, em suas íntimas relações com Deus, tem dois caracteres claríssimos: um, sua vaidade; outro o vestígio divino que há nela. Para compreender as criaturas, é
necessário olhar profundamente estes dois caracteres, e é isso que faz o Dom da
Ciência.
As criaturas são vãs.
Salomão não aquele livro magistral, o Eclesiastes, no qual aparece como tema
transcendental e profundo aquela frase: “Vaidade
das vaidades e tudo é vaidade”?
O Rei sábio tinha
contemplado todas as coisas, tinha bebido em todos os mananciais da terra,
possuía riquezas fantásticas, Deus o havia dotado de uma sabedoria profunda,
envolvia-o uma glória que naquela época não teve semelhante e ele mesmo diz que
não negou ao seu coração nada do ele lhe pediu. E depois de ter contemplado
tudo e experimentado tudo, depois de ter bebido, como dizia, em todos os
mananciais do mundo, acabou tirando esta conclusão dilacerante: “Vaidade das vaidades e tudo é vaidade!”
E na realidade assim
é, porque nenhuma criatura pode satisfazer o nosso coração. Há nele uma
capacidade imensa, de certa forma infinita, porque Deus fez nosso coração para
ele. Por mais que queiramos encher este vazio do nosso coração com as
criaturas, nunca estará satisfeito. São vãs, não são para nós, como disse
alguém: “Sou maior e para coisas maiores
nasci”.
Mas quanto trabalho
nos custa compreender a vaidade das criaturas! Superficiais como somos,
sentimos o fascínio da criatura, o que a Sagrada Escritura chama: “O fascínio da vaidade”. Como nos
deslumbram as criaturas com o seu brilho! Como nos atraem e nos acorrentam com
os seus encantos! Com que frequência nos afastam de Deus!
Na realidade, quando
nos afastamos de Deus, não é porque alguma criatura se apoderou do nosso
coração e nos arrastou atrás de si? Por isso se diz num dos Salmos: “Até quando, ó homens, tão duros de coração?
Por que amais a vaidade, buscais a mentira?” (Sl 4,3).
Quantas vezes as
criaturas nos seduzem e nos afastam do caminho, do caminho reto e seguro que
conduz aos céus! Buscamos a vaidade e amamos a mentira, o prazer nos torna vis,
o prazer nos embriaga, os bens materiais nos acorrentam.
É a vaidade que nos
aprisiona, é a criatura que se apossa do nosso coração, que atrai nossa alma,
que nos afasta de Deus, o único que constitui a paz do nosso coração e a
felicidade de nossa vida.
Em vão se nos prega acerca
da vaidade das criaturas, em vão lemos tratados sapientíssimos sobre o mesmo
assunto; muitas vezes nem uma triste e dolorosa experiência acaba de tirar a
venda dos nossos olhos: deixamo-nos levar pelo fascínio da vaidade, deixamos
que nosso coração se apegue a uma criatura.
Cedo ou tarde
encontramos ali o vazio e a amargura; e parece que aquela experiência deveria
ser suficiente para que voltássemos para Deus. Mas, não; pouco depois, o brilho
e o encanto das criaturas tornam a seduzir-nos, e voltamos a cair nos mesmos
laços. E quantas vezes são necessários muitos tropeços e, sobretudo, uma luz
abundante de Deus para que, por fim, compreendamos a vaidade das criaturas!
Não nos demos conta de
que em todas as conversões notáveis aparece este traço característico, o
sentimento vivo da vaidade das criaturas? É Francisco de Borja que, ao
contemplar o cadáver da rainha Isabel, exclama: “Não voltarei a servir um
senhor que possa morrer!”
É são Silvestre que
também se converteu a Deus à vista de um cadáver. Quantas vezes uma palavra, um
acontecimento revelou aos homens a vaidade das criaturas! E, então, se realiza
neles essa transformação completa que na linguagem cristã se chama conversão.
Essa súbita e profunda
convicção da vaidade das criaturas é fruto do Dom da Ciência. Não bastam as
considerações. Quantas vezes lemos as Escrituras e tornamos a ler as páginas do
Eclesiastes onde se nos fala da vaidade das coisas! Mas ainda, nas páginas
imortais do Evangelho encontramos as palavras que Cristo nos disse: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o
que tens e dá-os aos pobres, e vem e segue-me”. É uma lição divina que nos
ensina a vaidade das coisas da terra: vende o que tens porque tudo é vão.
E cremos na palavra da
Escritura, na palavra de Deus; mas essa crença permanece na parte superior do
nosso Espírito e não consegue produzir em nós uma profunda transformação.
Mas um dia, uma
palavra, um espetáculo, uma luz de Deus, nos revela de repente o mistério da
vaidade das coisas, e então a conversão se realiza.
Torno a repetir, a
primeira coisa que o Dom da Ciência realiza, é revelar-nos, de maneira
intuitiva e profunda, com uma convicção irresistível, a vaidade das coisas.
Quando o homem chegou a esta visão das coisas vãs, volta-se definitivamente
para Deus, empreende o caminho da perfeição cristã.
Mas os autores
espirituais falam ás vezes, da segunda
conversão. Além desta primeira conversão, pela qual se deixa o pecado e se
entra nos caminhos da graça, realiza-se às vezes, uma segunda conversão.
Quando muda a rota da
vida espiritual, quando Deus chama uma alma a uma perfeição mais elevada, para
esta segunda conversão vem o Dom da Ciência a fim de produzir de maneira mais
profunda e perfeita a conversão da vaidade das coisas da terra.
Às vezes, este efeito
do Dom da Ciência é amargo, é dolorosa, é terrível; porque a virtude nem sempre
é doce. Às vezes, a virtude nos parece amarga, nos parece cruel, há virtudes
que nos dilaceram o coração, que nos desconcertam; que nos desiludem; mas é
assim que o Dom da Ciência chega a produzir nas almas esse desprezo total das
coisas da terra que é a noite dos sentidos de que nos fala são João da Cruz,
essas purificações longas e tremendas às quais Deus sujeita as almas quando
quer leva-las às alturas.
Então, de repente, a
alma vê que todas as criaturas perderam o seu encanto, e já não a atrai o que
antes a atraia, já não pode encontrar descanso naquilo em que antes seu coração
o encontrava; é uma noite, noite escura em que não brilha estrela alguma; noite
bendita, porque o homem foi definitivamente arrancado ao encanto das criaturas
para encontrar-se no caminho reto e seguro que nos conduz a Deus.
Mas se é verdade que
há vaidade nas criaturas, também é certo que há nelas uma centelha divina. Cada
criatura parece-me um tosco invólucro que contém uma pérola divina; toda
criatura é vã porque é deficiente, porque é limitada, porque nunca poderá
encher o nosso coração; mas também em qualquer criatura, desde o mais excelso
dos serafins até o último átomo que se encontra nos corpos, há uma centelha
divina.
São João da Cruz, com
seu olhar profundo e ao mesmo tempo estático, no-lo diz numa estrofe imortal:
“Mil graças derramando,
passou por estes bosques com presteza,
e tendo-os alhado,
com sua simples figura
deixou-os vestidos de sua beleza”.
Com magnífica figura poética, são João apresenta Deus que vai passando,
vai passando pelo espaço, vai passando pelo universo; e ao ir passando vai
derramando suas graças, e ao refletir-se sua divina figura nas coisas criadas,
vai revestindo-as de luz.
Todas as coisas têm
uma centelha de Deus, estão feitas à semelhança de Deus; por isso diz o Gênesis
que, quando Deus contemplou as coisas que havia criado, viu que todas elas eram
muito boas, porque todas têm uma centelha de Deus, porque todas trazem um
reflexo de sua bondade, porque em todas elas se retrata de forma mais ou menos
remota, mas se retrata sem dúvida a formosura do Criador.
Geralmente não
conseguimos dar a esta formosura seu verdadeiro valor; o que têm de formosura
nos deslumbra. Mas quando o Dom da Ciência nos fez ver a vaidade das coisas da
terra e purificou a pupila da nossa alma, então nosso espírito contempla de
maneira nova as coisas da terra.
Há um santo que
certamente possuiu abundantemente o Dom da Ciência; foi são Francisco de Assis.
Estamos lembrados das etapas de sua vida extraordinária e belíssima?
Primeiro foi a
dissipação das criaturas. Sonhava, como era próprio de sua época, com a glória;
dir-se-ia um nobilíssimo cavaleiro andante.
Deus lhe revelou a
vaidade das coisas da terra, e então sentiu a necessidade de despojar-se de
tudo, e lançou suas vestimentas nas mãos do pai, dizendo-lhe: “Agora posso
dizer melhor: Pai nosso que estais nos
céus!” E foi a porciúncula para despojar-se com a Dama Pobreza.
A primeira etapa da
vida de Francisco foi o desprezo das coisas da terra, produzido pelo Dom da
Ciência, que fez com que se desprendesse de tudo e se enamorasse da pobreza.
Enamorou-se da pobreza, porque a pobreza é a verdade, porque a pobreza é a
escada para ir a Deus, porque ele sabia que a pobreza é fecunda.
E depois, seus olhos
se transformaram e olhou de maneira nova todas as criaturas. Acaso esquecemos
com que profundidade e com amor Francisco de Assis olhava todas as coisas da
terra? As flores, as aves, a água, o sol, tudo tinha para Francisco um sentido
divino, todas as criaturas lhe falavam de Deus, e ele sentia uma profunda,
imensa e estranha fraternidade com todas dava o nome de irmãs. Lembramo-nos de
suas expressões? A irmã água, o irmão fogo, o irmão sol, o irmão lobo... Com
que ternura tirava os pequenos vermes que se arrastavam no caminho para que não
fossem pisados pelos viajantes! Como se opunha a que pusessem cercas estreitas
em torno das árvores para não limitar-lhe o desenvolvimento!
E com este
conhecimento profundo das coisas naturais, com este olhar divino que tinha das
criaturas, chegou a realizar coisas que pareciam loucura ao comum dos homens.
Não nos lembramos de que em certa ocasião às aves? Pôs-se a pregar-lhes, e as
aves se reuniram em torno dele. Loucura, dirão os que não sabem julgar a não
ser com o pobre critério humano; sublimidade divina, dizemos nós que estamos
iniciados nos mistérios do Reino dos céus.
Ele olhava para as
criaturas com outros olhos, não com estes pobres olhos humanos que não olham
somente para o transitório e o superficial; ele as olhava com olhos profundos,
via em cada criatura o reflexo de Deus, cada criatura era como um cristal
puríssimo através do qual contemplava Deus.
Mas, se é verdade que
neste santo aparece de maneira especial o Dom da Ciência, pode ser encontrado
também em muitos outros. Não nos recordamos que são Francisco de Sales, em seus
escritos se serve de tudo o que observa na natureza para elevar-se a Deus? Não
nos lembramos daquela alma que quando olhava para o campo e contemplava as
flores, lhes dizia: “Calai, calai! Não me digais que ame, porque desfaleço de
amor?”
Para esta alma as
criaturas tinham uma linguagem misteriosa, todas lhe falavam de Deus; como para
aquele que ama, um retrato, uma flor, o perfume da pessoa amada lhe recorda
aquela pessoa que traz em seu coração. Por isso lhes dizia que calassem, pois
lhe parecia que todas as criaturas a convidavam a amar a Deus, e ela, que já
não podia suportar o ardor de sua alma, via-se obrigada a dizer-lhe que se
calassem.
Nos altos graus do Dom
da Ciência, como disse alguém, chega-se a ter uma visão semelhante àquela visão
belíssima e profunda que deve ter tido Adão no Paraíso, antes do pecado.
A Escritura diz que
Adão foi dando a cada coisa um nome próprio; isto significa que tinha um
conhecimento profundo e perfeito de todas as coisas que o cercavam.
E quando sua natureza
virgem, cheia de frescura e de beleza, acabou de sair das mãos onipotentes do
Criador, quando o seu espírito foi revestido de graça e quando o Espírito Santo
por meio dos seus Dons o moveu, como veria Adão todas as criaturas, como
contemplaria o universo, como olharia para as folhagens esplêndidas do Paraíso?
Como um olhar celestial, com um olhar divino. É a luz do Dom da Ciência.
E no cume deste Dom
encontra-se o desprendimento perfeito: as almas que desprezam de maneira
definitiva todas as criaturas encontram a santa liberdade dos filhos de Deus, o
gozo da liberdade, a alegria profundíssima da pobreza. Ao mesmo tempo, seu
olhar se torna celestial e olham o mundo de maneira nova, com olhar divino.
Mas não quero terminar
sem indicar outro efeito belíssimo que o Dom da Ciência produz nos altos graus.
As almas que o possuem olham os sofrimentos e as humilhações de maneira nova.
Não observamos nos
santos este estranho e inexplicável amor pelo sofrimento? Santa Teresa dizia: “Ou sofrer ou morrer”. Estranha
alternativa! Duas são as coisas das quais geralmente fugimos: a dor e a morte;
e para Teresa de Jesus não havia mais do que estas duas coisas: Ou sofrer ou morrer.
Santa Maria Madalena
de Pazzis modificava a frase de santa Teresa: “Não morrer, mas padecer”. Como explicar este estranho amor pelos
sofrimentos e pelas as humilhações?
Porque também os
santos amam as humilhações. São João da Cruz disse a Jesus Cristo uma palavra
sublime; certo dia Jesus lhe falou e lhe disse: “Que recompensa desejas por tudo o que fizeste por mim?” E são João
da Cruz respondeu: “Senhor, sofrer e ser
desprezado por ti!”.
Não parece estranho
pedir como recompensa o sacrifício e a humilhação? É que à luz do Dom da
Ciência o sacrifício e a humilhação têm um sentido divino e sobrenatural. Nós,
imperfeitos, não conhecemos mais do que o superficial; os santos, com a luz de
Deus, veem as coisas em profundidade.
O sacrifício e a
humilhação são coisas preciosas, estão longe da vaidade e, ao mesmo tempo,
contêm de maneira copiosa e opulenta o esplendor divino. Pelo sofrimento e pela
humilhação nos assemelhamos a Jesus Cristo, e nada sobre a terra tão divino
como o que se refere a Jesus Cristo e nos assemelha a ele.
Quando se fala destas
coisas parece-nos que desde um vale profundo estamos olhando um cume excelso
onde se encontra a brancura imaculada da neve, e talvez nos sintamos incapazes
de chegar até aquele cimo glorioso. Mas, não é doce, não é belo contemplar das
profundidades da nossa miséria esses cumes excelsos onde chegaram nossos irmãos
e onde está Deus?
Como será a vida de um
santo, como será o coração dos bem-aventurados, olhando as coisas com a luz da
verdade, penetrando nas profundidades delas, sentindo novos anelos, santas
impressões, e no meio destas impressões e anelos, a paz da alma, o gozo do
espírito que fez o autor de um dos livros sapienciais exclamar: “O coração do justo é como um perpétuo
festim?” Um festim de luz, um festim de amor, um festim de paz.
Mesmo que não tenhamos
a coragem de escalar estas montanhas excelsas para chegar ao cume, que estas
visões celestiais ao menos acendam em nós o desejo de viver uma vida cristã
mais perfeita, que sejam um aguilhão, um estímulo.
Da mesma forma como
quando contemplamos um palácio régio nos vem o desejo de tornar mais bela e
cômoda a nossa pobre casa, e quando ouvimos uma composição musical sublime,
embora não pretendamos chegar a produzir coisa semelhante, sentimos maior
afeição pela música e na medida das nossas possibilidades nos exercitamos nela,
assim, à vista destes cumes excelsos, ao contemplar as maravilhas que o
Espírito Santo produz em nossas almas, que se excite nosso coração, que tome
alento o nosso espírito e, ainda que seja em passos lentos, que vamos
caminhando para Deus, que é luz, que é amor, que é felicidade; para este Deus
que banha as almas que o amam na luz esplêndida, no amor dulcíssimo, na paz
infinita...
Do livro: "Os Dons do Espírito Santo”. Autor: Luís M.
Martinez, Arcebispo Primaz do México. Apresentação: Pe. Haroldo J. Rahm, S.J. – Edições Paulinas, 1976
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