Dons do Espírito
Santo
Noções Gerais
Domo-nos conta com grande Júbilo das
nossas almas, de que se aproxima o dia glorioso e santíssimo de Pentecostes em
que se enchem de alegria a terra e de graças celestiais os corações.
Como há vinte séculos, na próxima
solenidade de Pentecostes o Espírito Santo descerá sobre nossas almas, para
enchê-las com sua luz, aquecê-las com seu fogo e visita-las com sua unção.
E assim como os Apóstolos se
prepararam, há vinte séculos, para receber o dom de Deus no recolhimento, na
oração e unidos com a Santíssima Virgem Maria, assim queremos também nos
consagrar estes dias a uma preparação intensa das nossas almas, para que no dia
santíssimo de Pentecostes o Espírito Santo as encha com sua luz e com seu amor.
Cabe-me o dever de ajudar os fiéis
nesta piedosa e santa preparação. Ora, para que nos preparemos para a recepção
do Paráclito, é preciso que o desejemos, de todo coração, e o chamemos como o
chama sempre a Igreja todas as vezes que o invocam: “Vinde, Espírito Santo! Vinde, Espírito Criador! Vinde, Pai dos pobres!
Vinde, luz dos corações! Vinde, Consolador das nossas almas!”
Mas, para chama-lo é preciso deseja-lo,
e para deseja-lo é necessário amá-lo, e para amá-lo é mister conhece-lo. E eu
quero, com a graça de Deus, ajudar as almas a conhecerem melhor o Espírito
Santo.
Mas, como conhecê-lo se, segundo a
Escritura, habita numa luz inacessível? Todavia, como muito bem diz o Santo
Padre: “Se esta luz é inacessível às nossas forças, é acessível aos dons que
recebemos de Deus”. Com a luz da fé, com os olhos iluminados do nosso coração,
podemos penetrar às sombras do mistério e contemplar, atônitos, as maravilhas
de Deus.
Mas não me atreverei penetrar de
improviso no santuário augusto de Deus, não pretenderei mostrar os arcanos da
sua vida divina, não terei a audácia de declarar este amor infinito e
substancial que na unidade inefável enlaça o Pai e o Filho; mas, seguindo a
maneira de ser do nosso espírito, quero mostrar a obra do Espírito Santo, para
que por ela nossas almas se elevem ao conhecimento, que podemos ter na terra,
de Deus. Vou falar da obra do Espírito Santo nas almas.
Bem sabemos que, embora todas as obras
exteriores sejam realizadas pelas três Pessoas Divinas, contudo, com fundamento
na Escritura e na Tradição, os teólogos apropriam a cada uma das Pessoas da
Trindade aquelas operações que, por sua natureza e suas qualidades, se
assemelham aos caracteres próprios daquela Pessoa Divina. Desse modo, ao Pai
atribui-se a criação; ao Filho a Redenção e ao Espírito Santo a santificação
das almas.
Ah!, Se pudéssemos contemplar esta obra
maravilhosa da santificação das almas que o Espírito Santo realiza em nós!
Sinto-me tentado de dizer que esta obra, a santificação das almas, é a obra
mestra do Espírito Santo na terra.
Na verdade, sei que a obra mestra do
Espírito Santo é a que realizou em Jesus Cristo. Jesus foi concebido por obra
do Espírito Santo; o Espírito o cumulou com a plenitude divina, guiou-o em
todos os passos de sua vida mortal e, por ele, Jesus Cristo se ofereceu na cruz
e se imolou no Calvário.
A obra mestra do Espírito Santo é
Jesus; mas, a santificação das nossas almas não é a prolongação e o complemento
da obra do Espírito Santo em Jesus Cristo?
O Apóstolo são Paulo nos fala do
mistério de Cristo, e na concepção profundíssima do Apóstolo, o mistério de
Cristo não é somente o mistério da Encarnação e da Redenção do gênero humano;
para o grande Apóstolo, Cristo não é somente a segunda Pessoa da Santíssima
Trindade, unida hipostaticamente à natureza humana que o Espírito Santo formou
no seio da Virgem Maria; mais que isso, o mistério de Cristo inclui a imensa
multidão de almas que são os membros do Corpo Místico de Jesus.
O Cristo total inclui todos nós;
santificar as almas é completar Jesus, é consumar o mistério de Cristo.
Por isso atrevo-me a afirmar que a obra
santificadora do Espírito Santo é sua obra mestra, porque é o complemento da
obra que ele realiza em Jesus Cristo.
Mas nesta mesma obra de santificação do
Espírito Santo, quero considerar nestes dias a parte mais fina, a parte mais
perfeito, aquela que o Espírito Santo realiza de maneira íntegra e, poderíamos dizer
pessoal. Porque quero falar dos Dons do Espírito Santo; e tratar deles é
tratar, volto a dizer, da parte mais fina e excelente da obra do Espírito Santo
em nossa santificação.
Para que se compreenda melhor meu
propósito, devo dizer que o Espírito Santo realiza em nós a obra da nossa
santificação de duas maneiras: uma, ajudando-nos, impelindo-nos, dirigindo-nos;
mas impele-nos e nos dirige de tal maneira que nós assumimos a direção de nossa
própria obra.
Porventura não é glória nossa
realizarmos nós mesmo os nossos próprios destinos? Acaso não nos deu Deus este
dom terrível e glorioso da nossa liberdade ou os forjadores da nossa desgraça?
Mas há outra maneira de dirigir do
Espírito Santo, há outra obra que se realiza em nós quando toma pessoalmente a
direção dos nossos atos, quando já não somente nos ilumina com a sua luz e nos
aquece com o seu fogo e nos indica com seus ensinamentos o caminho que devemos
seguir, mas quando ele mesmo se digna mover nossas faculdades e impeli-las para
que realizemos a sua obra divina.
Uma comparação nos ajudará a
compreender estas duas maneiras de influir em nossa obra santificadora que o
Espírito Santo tem.
Imaginemos um grande artista, um pintor
genial que vai realizar sua obra mestra. Para isso utiliza seus discípulos mais
adiantados; ele mesmo indica como devem preparar a tela, como devem combinar as
cores e permite-lhes que façam a parte menos importante ou menos perfeita de
sua obra. Mas quando chega a parte mais importante e difícil aonde seu gênio
vai se revelar, onde a inspiração que traz na alma vai se cristalizar, então, o
trabalho não cabe mais aos discípulos; o próprio mestre genial faz os traços
finíssimos de sua obra maravilhosa.
Assim é o Espírito Santo: vai realizar
em nossas almas uma obra divina; é a imagem de Jesus que vai traçar em nossos
corações, uma imagem viva, a imagem que precisamos trazer para que possamos
penetrar nas moradas eternas.
O Espírito Santo dirige esta obra
genial, mas quer que nós o ajudemos nela; como discípulos seus, permite que esbocemos
esta imagem divina, certamente sob sua direção, segundo as normas que nos
indica. Mas há um momento em que o Espírito Santo já não quer que nós, por
nossa própria conta, dirijamos a obra. Ele começa a dirigir de maneira pessoal
e imediata, e com instrumentos delineia os traços geniais, os traços
fidelíssimos desta imagem divina.
Estes instrumentos finíssimos que o
Espírito Santo utiliza para realizar a sua obra pessoal e excelente são os Dons
do Espírito Santo.
Nós também temos os nossos
instrumentos: são as virtudes que nos são comunicadas juntamente com a graça;
por meio delas, aos poucos, vamos destruindo em nosso homem velho todas as
concupiscências e vamos traçando em nossos corações a imagem de Jesus, formando
o homem novo, criado segundo a vontade de Deus, na justiça e na santidade da
verdade.
Mas chega um momento em que as virtudes
não são suficientes para realizar a obra divina, visto que nossa orientação não
é suficiente para semelhante prodígio; então o Espírito Santo intervém e
dirige, de maneira imediata, a obra celestial, e como instrumentos maravilhosos
para realiza-la, utiliza o que os teólogos chamam “Os Dons do Espírito Santo”.
Quantas vezes ouvimos falar deles! A
Santa Igreja, nos hinos ao Espírito Santo, faz frequentes alusões a esses dons:
“Tu és septiforme em teus dons”, diz o hino de vésperas de Pentecostes. E na
frequência da Missa da grande solenidade, a Santa Igreja pede ao Espírito Santo
que nos dê o sagrado septenário: “Dá aos teus fiéis, que em ti confiam o SACRO
SEPTENÁRIO”, que nos outorgue os seus dons divinos, que são os sete dons do
Espírito Santo.
Para explica-los, vou servir-me de uma
comparação atual. A ciência moderna descobriu e fabricou aparelhos prodigiosos,
que nos fazem captar as ondas que vêm de todas as partes do mundo e nos fazem
ouvir a enormes distâncias o que se diz e o que se canta em qualquer parte da
terra; quem tem um aparelho receptor, pode captar as ondas misteriosas e pode ouvir
o que se diz e o que se canta a enormes distâncias.
Os Dons do Espírito Santo são
receptores divinos, receptores prodigiosos para captar as inspirações do
Espírito divino. Quem não tem um aparelho de rádio não pode ouvir o que se
canta e o que se diz em outra parte; quem não tem os Dons do Espírito Santo não
pode captar as divinas inspirações.
Os Dons do Espírito Santo são estas
realidades sobrenaturais que Deus quis pôr em nossa alma para que possamos
receber as inspirações do Paráclito.
Mas minha comparação, como é natural, é
incompleta; pelos aparelhos inventados pela ciência moderna somente se ouve;
por estes divinos aparelhos, não somente recebemos a luz e os ensinamentos do
Espírito Santo, mas também suas moções; realizamos, na ordem espiritual, atos mais
excelentes, mais perfeitos, atos que são verdadeiramente divinos.
Os Dons do Espírito Santo não só nos
fazem receber as divinas iluminações do Espírito Santo, mas também os seus
impulsos, de tal sorte que sob o influxo do Espírito Santo nós nos movemos como
o diz claramente a Escritura: “Todos os que são movidos por Deus, são filhos de
Deus (Rm 8,14)”. É uma das prerrogativas maravilhosas que os filhos de Deus
têm: serem movidos pelo Espírito Santo.
Quantas vezes nossos atos são realmente
nossos, mas agimos movidos por uma força superior, por um instinto divino, por
uma moção do Espírito Santo.
E dessas moções podemos tirar
consequências preciosas, porque se o Espírito Santo age em nós e nossos atos
são feitos sob seu influxo imediato, é natural que nossos atos tenham
caracteres verdadeiramente divinos.
Não é próprio de um artista pôr seu
estilo, sua inspiração, e, por assim dizer, sua alma naquilo que realiza? O
mesmo instrumento musical tocado por diferentes artistas produz em nós uma
impressão diferente.
Existe algo de próprio, algo
característico em cada artista; quando ele executa, põe ali seu selo; os
conhecedores podem dizer perfeitamente quem está executando alguma grande
composição musical. E de todas as artes pode-se dizer o mesmo: acaso o pintor
não põe o seu selo nas obras de suas mãos? O escritor, o orador, o poeta não
põem o seu selo no que dizem e no que escrevem?
Alguém disse com muito acerto: “O
estilo é o homem”. Cada qual tem seu próprio estilo, e o estilo é seu selo, é o
reflexo de sua própria personalidade. E o Espírito Santo, quando age em nós,
põe seu selo, um selo divino, um selo inconfundível. (Ef 1,13.30)
Como são diferentes os atos que
executamos por nossa própria direção, embora sejam sobrenaturais, e os atos que
executamos quando o Espírito Santo intervém neles. Quando somos nós que agimos,
colocamos nosso selo de imperfeição, selo de fragilidade; quando o Espírito
Santo influi em nossos atos, põe seu selo divino de segurança, de perfeição, de
elevação, e por isso, por meio dos Dons do Espírito Santo executamos atos que
têm caracteres divinos.
Talvez possa ilustrar o que acabo de
dizer com alguns exemplos. O homem prudente que, para a execução de seus atos,
só dispõe de suas qualidades naturais e da virtude sobrenatural da prudência,
acerta realmente, mas com muita lentidão, depois de várias tentativas.
A Escritura disse-nos em dois traços
magistrais o que é a pobre prudência humana. Diz que os pensamentos do homem
são incertos e suas disposições tímidas; a incerteza e a timidez são nosso
selo; mesmo quando acertamos, há em nossos acertos não sei o quê de incerteza e
de timidez.
Aquele que age sob o influxo do Dom do
Conselho, que é a prudência sobrenatural, sabe, de maneira rápida, segura e
firme, o que se deve fazer em cada caso.
Outro exemplo: quando nós, guiados pela
luz da fé, nos elevamos ao conhecimento das coisas divinas, em nosso processo
interior pomos o selo humano; temos necessidade de analisar, de comparar, de
discorrer; acumulamos noções, as unimos, as harmonizamos; não são um exemplo
vivo disso minhas próprias palavras e meu próprio discurso para explicar o que
são os Dons do Espírito Santo? Lanço mão de diferentes exemplos, divino,
apresento diferentes facetas, e logo procuro unificar tudo para que se possa
formar um conceito exato do que estou explicando. Ali está o meu selo, selo de
imperfeição, de multiplicidade, de laborioso raciocínio.
Os santos quando contemplam as coisas
divinas, sob o influxo dos Dons do Espírito Santo, não têm mais do que um olhar, uma intuição profunda, rica, que nos
faz contemplar num momento e, por assim dizer, num só ponto luminoso o que nós,
para vislumbrar, temos necessidade de muito tempo e de muitos esforços mentais.
Os atos que procedem dos Dons do
Espírito Santo têm um selo divino, o selo do Espírito Santo, um modo
inteiramente celestial.
E poderíamos ainda dizer que diferem
também as normas nestes dons celestiais; As normas dos Dons são diferentes das
normas das virtudes. Quando agimos sob o influxo das virtudes, certamente temos
uma norma sobrenatural, porém imperfeita, é a norma do homem iluminado pela luz
de Deus. Mas quando se age sob o influxo dos Dons do Espírito Santo, a norma é
a própria norma de Deus participada ao homem.
Não sei se os meus pensamentos incertos
e tímidos conseguem explicar as maravilhas dos Dons de Deus.
E não pensemos que estes Dons do
Espírito Santo são próprios unicamente das almas que chegaram a certas alturas
nos caminhos da perfeição; não creiamos que somente os santos possuem os Dons
do Espírito Santo; todos nós os possuímos, contanto que tenhamos a graça de
Deus em nossas almas para receber estes Dons. No dia do nosso batismo recebemos
os Dons do Espírito Santo juntamente com as virtudes e a graça.
Assim como quando nascemos somos
dotados por Deus de tudo o que necessitamos para a nossa vida humana, um
organismo completo e uma alma dotada de todas as faculdades, - certamente, nem
todas desenvolvidas desde o nosso nascimento, mas já trazemos como que em germe
tudo aquilo de que vamos precisar em nossa vida -, da mesma forma na ordem
espiritual: quando alguém é batizado recebe em toda a sua integridade este
mundo sobrenatural que o cristão traz na alma, a graça que é uma participação
da natureza de Deus, as virtudes teologais que o põem em contato imediato com o
divino, às virtudes morais que servem para orientar e ordenar toda a vida, e os
Dons do Espírito Santo, receptáculos misteriosos e divinos para captar as
inspirações e as moções do Espírito Santo.
E, quando possuímos a graça, possuímos
também os Dons; não são algo passageiro, são algo estável, algo que trazemos em
nosso coração constantemente; a graça não pode existir sem os Dons e num
coração não podem existir a graça e os Dons sem que esteja ali também o
Espírito Santo, que é o diretor divino da nossa vida espiritual.
Os Dons do Espírito Santo não são
necessários somente para as grandes obras dos santos; também em nossa vida
cotidiana, em nossa vida ordinária, muitas vezes agimos sob o influxo dos Dons do
Espírito Santo.
São Tomás de Aquino, cuja autoridade é
indiscutível na Igreja, ensina-nos que para alcançar a salvação de nossa alma
são indispensáveis os Dons do Espírito Santo; sem eles não poderemos realizar a
obra da nossa santificação.
E para fazer-nos compreender a
necessidade dos Dons, mesmo na vida ordinária do cristão, santo Tomás de Aquino
lança mão de uma comparação que me parece exatíssima: um grande médico pode,
por si mesmo, curar um enfermo grave, pode atender um caso extraordinário, mas um
praticante de medicina, mesmo que possa fazer muitas coisas para curar enfermos
e aplicar-lhes muitos remédios e saber o que é necessário num caso ordinário,
para atender um caso difícil tem necessidade de estar sob a direção de um
médico perfeito que conheça com perfeição a ciência e que possa, por
conseguinte, conhecer perfeitamente o enfermo e seu mal e os remédios que são
indispensáveis para curá-lo.
Nós somos como os praticantes de
medicina: podemos cuidar de nossa própria saúde nos casos ordinários; mas seria
impossível que realizemos por completo a obra da nossa santificação se não
estivermos sob o influxo do Espírito Santo, o único que conhece perfeitamente o
que somos e o que devemos fazer e que conhece totalmente os caminhos pelos
quais podemos chegar à perfeição a que Deus nos chama.
Por conseguinte, os Dons não são
carismas extraordinários que os santos recebem; trata-se de algo que todos
possuímos e que trazemos em nosso coração.
Penso que, às vezes, desconhecemos este
mundo sobrenatural que trazemos em nossa alma; não nos damos conta das riquezas
que Deus depositou em nossos corações; trazemos conosco um mundo mais perfeito,
mais excelente, mais belo do que o mundo exterior, porque trazemos a graça que
nos faz semelhantes a Deus, trazemos as virtudes teologais que nos põem em
contato íntimo com a Divindade, as virtudes morais que ordenam e dispõem toda a
nossa vida, e trazemos os Dons do Espírito Santo pelos quais estamos em
comunicação com ele para receber as suas santas moções.
Claro que nem em todas as almas os dons
se desenvolvem no mesmo grau e com a mesma perfeição; como também as virtudes
não se desenvolvem no mesmo grau e com a mesma perfeição em todas as almas.
As virtudes, como os Dons, são
preciosas sementes que têm necessidade de serem cultivadas; nosso trabalho,
nosso esforço de cristãos consiste em ir cultivando com cuidado especial estes
germes preciosos que Deus depositou em nossa alma.
E assim como as plantas têm sua
estação, sendo que algumas brotam quando vem à primavera carregada de perfumes,
enquanto outras vêm no cálido verão e ainda outras brotam no meio da opulência
do outono, da mesma forma, cada um dos Dons do Espírito Santo tem, por assim
dizer, a época propícia na vida espiritual, onde encontra seu pleno desenvolvimento.
Mas sempre temos todos os Dons, e nosso dever é desenvolvê-los constantemente
em nossa alma.
Como se desenvolvem em nós os Dons do
Espírito Santo? Que podemos e devemos fazer para que estes instrumentos
preciosos, finíssimos, divinos, que o Espírito Santo emprega para a nossa
santificação, alcancem em nós seu desenvolvimento completo?
Três coisas: a primeira é desenvolver
em nossos corações a caridade, porque a raiz de todos os Dons é a caridade.
Porque amamos, por isso podemos receber as santas inspirações do Espírito
Santo; mesmo no amor humano, não existe como que um vislumbre deste privilégio
prodigioso que tem o amor divino de unir-nos com o Espírito Santo e de escutar
as suas santas inspirações? Quando se ama, mesmo com o amor terreno, têm-se intuições
para descobrir os pensamentos e os desejos da pessoa amada que não podem ser
substituídas por nenhuma ciência.
Não vemos como as mães adivinham, por
assim dizer, as necessidades e os desejos de seus filhos pequenos? Uma pessoa
experimentada não pode entender perfeitamente o que quer o menino, mas uma mãe
entende; não é a inteligência que descobre este mistério e sim o coração; o
coração tem intuições que o espírito não compreende.
E se até o amor humano, tão imperfeito
e deficiente, tem intuições misteriosas, se o que vê e escuta, se o que ama
vislumbra e adivinha, tratando deste amor sobrenatural que o Espírito Santo derrama
em nossos corações, que é a caridade, com maior razão terão lugar essas divinas
intuições.
Na proporção em que a caridade aumenta,
aumentam também e se desenvolvem os dons. Por isso, nos santos descobrimos os
atos próprios dos Dons do Espírito Santo, porque chegaram a um alto grau de
caridade. Quem quer que faça progredir sua caridade, aperfeiçoa os Dons do
Espírito Santo. É o primeiro meio de desenvolver em nós estes instrumentos
preciosos e divinos.
O segundo meio consiste em desenvolver
em nós as virtudes; as virtudes estão à nossa disposição, são os instrumentos
do nosso trabalho espiritual.
Por meio das virtudes infusas, que também
recebemos com a graça de Deus, podemos ir aperfeiçoando, uma por uma, todas as
nossas faculdades e dispondo tudo em nossa vida interior. E à medida que as
virtudes crescem, prepara-se, por assim dizer, o terreno para que o Espírito
Santo venha e, com um trabalho mais fino e perfeito, consuma nossa obra.
Para continuar a comparação que
coloquei no começo, assim como o pintor genial coloca os traços de sua
inspiração depois que seus discípulos mais adiantados já fizeram a preparação
conveniente, assim como ele intervém depois que a tela está preparada,
dispostas as cores e esboçado o quadro que trata de pintar, assim também,
quando nós, de nossa parte, realizamos nossa obra por meio das virtudes, então
o Espírito Santo intervém com os seus Dons e consuma a obra.
A terceira coisa que podemos fazer para
que se desenvolvam em nós os Dons do Espírito Santo, consiste em sermos dóceis
às suas inspirações.
Quando prestamos uma atenção amorosa e
constante à voz misteriosa do Espírito de Deus, quando o nosso coração é dócil,
então podemos escutar melhor a voz do Espírito, podemos receber com maior
perfeição as suas santas inspirações.
E quanto melhor recebemos estas
inspirações divinas, mais se irão aperfeiçoando em nós os receptores que são os
Dons do Espírito Santo.
Recolhamos estas lições práticas que
expus sobre a doutrina dos Dons. Estou certo de que todos possuímos os Dons do
Espírito Santo, porque espero em Deus que todos temos em nosso coração a graça
santificante.
Se possuímos estes Dons,
desenvolvamo-los, aperfeiçoemo-los. Como é triste que, existindo no mundo
tantas coisas belas que se dizem e se cantam não se use o aparelho receptor
para perceber semelhantes maravilhas! Como é triste que, tendo em nossas almas
estes preciosos instrumentos do Espírito Santo, por nosso pouco cuidado não
ouçamos a sua voz deliciosa, as suas santas inspirações!
Aperfeiçoemos os Dons, sobretudo
durante esta novena de Pentecostes. Para que o Espírito Santo encha as nossas
almas, para que nos fale, para que nos inspire, para que nos mova, é preciso que
aumente em nossos corações a caridade, que pratiquemos com maior esmero as
virtudes cristãs, e que conservando o nosso espírito silencioso e atento e o
nosso coração dócil às divinas inspirações, recebamos a música que vem da voz
do Paráclito e sintamos no íntimo de nossa alma as suas santas inspirações e as
suas divinas moções.
Do Livro: Os Dons do Espirito Santo.
Autor:
Luís M. Martinez. Arcebispo Primaz do
México.
Edições Paulinas – São Paulo – 1976.
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