quarta-feira, 5 de junho de 2013

Dons do Espírito Santo - Noções Gerais


Dons do Espírito Santo
Noções Gerais


   Domo-nos conta com grande Júbilo das nossas almas, de que se aproxima o dia glorioso e santíssimo de Pentecostes em que se enchem de alegria a terra e de graças celestiais os corações.
   Como há vinte séculos, na próxima solenidade de Pentecostes o Espírito Santo descerá sobre nossas almas, para enchê-las com sua luz, aquecê-las com seu fogo e visita-las com sua unção.
   E assim como os Apóstolos se prepararam, há vinte séculos, para receber o dom de Deus no recolhimento, na oração e unidos com a Santíssima Virgem Maria, assim queremos também nos consagrar estes dias a uma preparação intensa das nossas almas, para que no dia santíssimo de Pentecostes o Espírito Santo as encha com sua luz e com seu amor.
   Cabe-me o dever de ajudar os fiéis nesta piedosa e santa preparação. Ora, para que nos preparemos para a recepção do Paráclito, é preciso que o desejemos, de todo coração, e o chamemos como o chama sempre a Igreja todas as vezes que o invocam: “Vinde, Espírito Santo! Vinde, Espírito Criador! Vinde, Pai dos pobres! Vinde, luz dos corações! Vinde, Consolador das nossas almas!”
Mas, para chama-lo é preciso deseja-lo, e para deseja-lo é necessário amá-lo, e para amá-lo é mister conhece-lo. E eu quero, com a graça de Deus, ajudar as almas a conhecerem melhor o Espírito Santo.
Mas, como conhecê-lo se, segundo a Escritura, habita numa luz inacessível? Todavia, como muito bem diz o Santo Padre: “Se esta luz é inacessível às nossas forças, é acessível aos dons que recebemos de Deus”. Com a luz da fé, com os olhos iluminados do nosso coração, podemos penetrar às sombras do mistério e contemplar, atônitos, as maravilhas de Deus.
Mas não me atreverei penetrar de improviso no santuário augusto de Deus, não pretenderei mostrar os arcanos da sua vida divina, não terei a audácia de declarar este amor infinito e substancial que na unidade inefável enlaça o Pai e o Filho; mas, seguindo a maneira de ser do nosso espírito, quero mostrar a obra do Espírito Santo, para que por ela nossas almas se elevem ao conhecimento, que podemos ter na terra, de Deus. Vou falar da obra do Espírito Santo nas almas.
Bem sabemos que, embora todas as obras exteriores sejam realizadas pelas três Pessoas Divinas, contudo, com fundamento na Escritura e na Tradição, os teólogos apropriam a cada uma das Pessoas da Trindade aquelas operações que, por sua natureza e suas qualidades, se assemelham aos caracteres próprios daquela Pessoa Divina. Desse modo, ao Pai atribui-se a criação; ao Filho a Redenção e ao Espírito Santo a santificação das almas.
Ah!, Se pudéssemos contemplar esta obra maravilhosa da santificação das almas que o Espírito Santo realiza em nós! Sinto-me tentado de dizer que esta obra, a santificação das almas, é a obra mestra do Espírito Santo na terra.
Na verdade, sei que a obra mestra do Espírito Santo é a que realizou em Jesus Cristo. Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo; o Espírito o cumulou com a plenitude divina, guiou-o em todos os passos de sua vida mortal e, por ele, Jesus Cristo se ofereceu na cruz e se imolou no Calvário.
A obra mestra do Espírito Santo é Jesus; mas, a santificação das nossas almas não é a prolongação e o complemento da obra do Espírito Santo em Jesus Cristo?
O Apóstolo são Paulo nos fala do mistério de Cristo, e na concepção profundíssima do Apóstolo, o mistério de Cristo não é somente o mistério da Encarnação e da Redenção do gênero humano; para o grande Apóstolo, Cristo não é somente a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, unida hipostaticamente à natureza humana que o Espírito Santo formou no seio da Virgem Maria; mais que isso, o mistério de Cristo inclui a imensa multidão de almas que são os membros do Corpo Místico de Jesus.
O Cristo total inclui todos nós; santificar as almas é completar Jesus, é consumar o mistério de Cristo.
Por isso atrevo-me a afirmar que a obra santificadora do Espírito Santo é sua obra mestra, porque é o complemento da obra que ele realiza em Jesus Cristo.
Mas nesta mesma obra de santificação do Espírito Santo, quero considerar nestes dias a parte mais fina, a parte mais perfeito, aquela que o Espírito Santo realiza de maneira íntegra e, poderíamos dizer pessoal. Porque quero falar dos Dons do Espírito Santo; e tratar deles é tratar, volto a dizer, da parte mais fina e excelente da obra do Espírito Santo em nossa santificação.
Para que se compreenda melhor meu propósito, devo dizer que o Espírito Santo realiza em nós a obra da nossa santificação de duas maneiras: uma, ajudando-nos, impelindo-nos, dirigindo-nos; mas impele-nos e nos dirige de tal maneira que nós assumimos a direção de nossa própria obra.
Porventura não é glória nossa realizarmos nós mesmo os nossos próprios destinos? Acaso não nos deu Deus este dom terrível e glorioso da nossa liberdade ou os forjadores da nossa desgraça?
Mas há outra maneira de dirigir do Espírito Santo, há outra obra que se realiza em nós quando toma pessoalmente a direção dos nossos atos, quando já não somente nos ilumina com a sua luz e nos aquece com o seu fogo e nos indica com seus ensinamentos o caminho que devemos seguir, mas quando ele mesmo se digna mover nossas faculdades e impeli-las para que realizemos a sua obra divina.
Uma comparação nos ajudará a compreender estas duas maneiras de influir em nossa obra santificadora que o Espírito Santo tem.
Imaginemos um grande artista, um pintor genial que vai realizar sua obra mestra. Para isso utiliza seus discípulos mais adiantados; ele mesmo indica como devem preparar a tela, como devem combinar as cores e permite-lhes que façam a parte menos importante ou menos perfeita de sua obra. Mas quando chega a parte mais importante e difícil aonde seu gênio vai se revelar, onde a inspiração que traz na alma vai se cristalizar, então, o trabalho não cabe mais aos discípulos; o próprio mestre genial faz os traços finíssimos de sua obra maravilhosa.
Assim é o Espírito Santo: vai realizar em nossas almas uma obra divina; é a imagem de Jesus que vai traçar em nossos corações, uma imagem viva, a imagem que precisamos trazer para que possamos penetrar nas moradas eternas.
O Espírito Santo dirige esta obra genial, mas quer que nós o ajudemos nela; como discípulos seus, permite que esbocemos esta imagem divina, certamente sob sua direção, segundo as normas que nos indica. Mas há um momento em que o Espírito Santo já não quer que nós, por nossa própria conta, dirijamos a obra. Ele começa a dirigir de maneira pessoal e imediata, e com instrumentos delineia os traços geniais, os traços fidelíssimos desta imagem divina.
Estes instrumentos finíssimos que o Espírito Santo utiliza para realizar a sua obra pessoal e excelente são os Dons do Espírito Santo.
Nós também temos os nossos instrumentos: são as virtudes que nos são comunicadas juntamente com a graça; por meio delas, aos poucos, vamos destruindo em nosso homem velho todas as concupiscências e vamos traçando em nossos corações a imagem de Jesus, formando o homem novo, criado segundo a vontade de Deus, na justiça e na santidade da verdade.
Mas chega um momento em que as virtudes não são suficientes para realizar a obra divina, visto que nossa orientação não é suficiente para semelhante prodígio; então o Espírito Santo intervém e dirige, de maneira imediata, a obra celestial, e como instrumentos maravilhosos para realiza-la, utiliza o que os teólogos chamam “Os Dons do Espírito Santo”.
Quantas vezes ouvimos falar deles! A Santa Igreja, nos hinos ao Espírito Santo, faz frequentes alusões a esses dons: “Tu és septiforme em teus dons”, diz o hino de vésperas de Pentecostes. E na frequência da Missa da grande solenidade, a Santa Igreja pede ao Espírito Santo que nos dê o sagrado septenário: “Dá aos teus fiéis, que em ti confiam o SACRO SEPTENÁRIO”, que nos outorgue os seus dons divinos, que são os sete dons do Espírito Santo.
Para explica-los, vou servir-me de uma comparação atual. A ciência moderna descobriu e fabricou aparelhos prodigiosos, que nos fazem captar as ondas que vêm de todas as partes do mundo e nos fazem ouvir a enormes distâncias o que se diz e o que se canta em qualquer parte da terra; quem tem um aparelho receptor, pode captar as ondas misteriosas e pode ouvir o que se diz e o que se canta a enormes distâncias.
Os Dons do Espírito Santo são receptores divinos, receptores prodigiosos para captar as inspirações do Espírito divino. Quem não tem um aparelho de rádio não pode ouvir o que se canta e o que se diz em outra parte; quem não tem os Dons do Espírito Santo não pode captar as divinas inspirações.
Os Dons do Espírito Santo são estas realidades sobrenaturais que Deus quis pôr em nossa alma para que possamos receber as inspirações do Paráclito.
Mas minha comparação, como é natural, é incompleta; pelos aparelhos inventados pela ciência moderna somente se ouve; por estes divinos aparelhos, não somente recebemos a luz e os ensinamentos do Espírito Santo, mas também suas moções; realizamos, na ordem espiritual, atos mais excelentes, mais perfeitos, atos que são verdadeiramente divinos.
Os Dons do Espírito Santo não só nos fazem receber as divinas iluminações do Espírito Santo, mas também os seus impulsos, de tal sorte que sob o influxo do Espírito Santo nós nos movemos como o diz claramente a Escritura: “Todos os que são movidos por Deus, são filhos de Deus (Rm 8,14)”. É uma das prerrogativas maravilhosas que os filhos de Deus têm: serem movidos pelo Espírito Santo.
Quantas vezes nossos atos são realmente nossos, mas agimos movidos por uma força superior, por um instinto divino, por uma moção do Espírito Santo.
E dessas moções podemos tirar consequências preciosas, porque se o Espírito Santo age em nós e nossos atos são feitos sob seu influxo imediato, é natural que nossos atos tenham caracteres verdadeiramente divinos.  
Não é próprio de um artista pôr seu estilo, sua inspiração, e, por assim dizer, sua alma naquilo que realiza? O mesmo instrumento musical tocado por diferentes artistas produz em nós uma impressão diferente.
Existe algo de próprio, algo característico em cada artista; quando ele executa, põe ali seu selo; os conhecedores podem dizer perfeitamente quem está executando alguma grande composição musical. E de todas as artes pode-se dizer o mesmo: acaso o pintor não põe o seu selo nas obras de suas mãos? O escritor, o orador, o poeta não põem o seu selo no que dizem e no que escrevem?
Alguém disse com muito acerto: “O estilo é o homem”. Cada qual tem seu próprio estilo, e o estilo é seu selo, é o reflexo de sua própria personalidade. E o Espírito Santo, quando age em nós, põe seu selo, um selo divino, um selo inconfundível. (Ef 1,13.30)
Como são diferentes os atos que executamos por nossa própria direção, embora sejam sobrenaturais, e os atos que executamos quando o Espírito Santo intervém neles. Quando somos nós que agimos, colocamos nosso selo de imperfeição, selo de fragilidade; quando o Espírito Santo influi em nossos atos, põe seu selo divino de segurança, de perfeição, de elevação, e por isso, por meio dos Dons do Espírito Santo executamos atos que têm caracteres divinos.
Talvez possa ilustrar o que acabo de dizer com alguns exemplos. O homem prudente que, para a execução de seus atos, só dispõe de suas qualidades naturais e da virtude sobrenatural da prudência, acerta realmente, mas com muita lentidão, depois de várias tentativas.
A Escritura disse-nos em dois traços magistrais o que é a pobre prudência humana. Diz que os pensamentos do homem são incertos e suas disposições tímidas; a incerteza e a timidez são nosso selo; mesmo quando acertamos, há em nossos acertos não sei o quê de incerteza e de timidez.
Aquele que age sob o influxo do Dom do Conselho, que é a prudência sobrenatural, sabe, de maneira rápida, segura e firme, o que se deve fazer em cada caso.
Outro exemplo: quando nós, guiados pela luz da fé, nos elevamos ao conhecimento das coisas divinas, em nosso processo interior pomos o selo humano; temos necessidade de analisar, de comparar, de discorrer; acumulamos noções, as unimos, as harmonizamos; não são um exemplo vivo disso minhas próprias palavras e meu próprio discurso para explicar o que são os Dons do Espírito Santo? Lanço mão de diferentes exemplos, divino, apresento diferentes facetas, e logo procuro unificar tudo para que se possa formar um conceito exato do que estou explicando. Ali está o meu selo, selo de imperfeição, de multiplicidade, de laborioso raciocínio.
Os santos quando contemplam as coisas divinas, sob o influxo dos Dons do Espírito Santo, não têm mais do que um  olhar, uma intuição profunda, rica, que nos faz contemplar num momento e, por assim dizer, num só ponto luminoso o que nós, para vislumbrar, temos necessidade de muito tempo e de muitos esforços mentais.
Os atos que procedem dos Dons do Espírito Santo têm um selo divino, o selo do Espírito Santo, um modo inteiramente celestial.
E poderíamos ainda dizer que diferem também as normas nestes dons celestiais; As normas dos Dons são diferentes das normas das virtudes. Quando agimos sob o influxo das virtudes, certamente temos uma norma sobrenatural, porém imperfeita, é a norma do homem iluminado pela luz de Deus. Mas quando se age sob o influxo dos Dons do Espírito Santo, a norma é a própria norma de Deus participada ao homem.
Não sei se os meus pensamentos incertos e tímidos conseguem explicar as maravilhas dos Dons de Deus.

E não pensemos que estes Dons do Espírito Santo são próprios unicamente das almas que chegaram a certas alturas nos caminhos da perfeição; não creiamos que somente os santos possuem os Dons do Espírito Santo; todos nós os possuímos, contanto que tenhamos a graça de Deus em nossas almas para receber estes Dons. No dia do nosso batismo recebemos os Dons do Espírito Santo juntamente com as virtudes e a graça.
Assim como quando nascemos somos dotados por Deus de tudo o que necessitamos para a nossa vida humana, um organismo completo e uma alma dotada de todas as faculdades, - certamente, nem todas desenvolvidas desde o nosso nascimento, mas já trazemos como que em germe tudo aquilo de que vamos precisar em nossa vida -, da mesma forma na ordem espiritual: quando alguém é batizado recebe em toda a sua integridade este mundo sobrenatural que o cristão traz na alma, a graça que é uma participação da natureza de Deus, as virtudes teologais que o põem em contato imediato com o divino, às virtudes morais que servem para orientar e ordenar toda a vida, e os Dons do Espírito Santo, receptáculos misteriosos e divinos para captar as inspirações e as moções do Espírito Santo.
E, quando possuímos a graça, possuímos também os Dons; não são algo passageiro, são algo estável, algo que trazemos em nosso coração constantemente; a graça não pode existir sem os Dons e num coração não podem existir a graça e os Dons sem que esteja ali também o Espírito Santo, que é o diretor divino da nossa vida espiritual.
Os Dons do Espírito Santo não são necessários somente para as grandes obras dos santos; também em nossa vida cotidiana, em nossa vida ordinária,  muitas vezes agimos sob o influxo dos Dons do Espírito Santo.
São Tomás de Aquino, cuja autoridade é indiscutível na Igreja, ensina-nos que para alcançar a salvação de nossa alma são indispensáveis os Dons do Espírito Santo; sem eles não poderemos realizar a obra da nossa santificação.
E para fazer-nos compreender a necessidade dos Dons, mesmo na vida ordinária do cristão, santo Tomás de Aquino lança mão de uma comparação que me parece exatíssima: um grande médico pode, por si mesmo, curar um enfermo grave, pode atender um caso extraordinário, mas um praticante de medicina, mesmo que possa fazer muitas coisas para curar enfermos e aplicar-lhes muitos remédios e saber o que é necessário num caso ordinário, para atender um caso difícil tem necessidade de estar sob a direção de um médico perfeito que conheça com perfeição a ciência e que possa, por conseguinte, conhecer perfeitamente o enfermo e seu mal e os remédios que são indispensáveis para curá-lo.
Nós somos como os praticantes de medicina: podemos cuidar de nossa própria saúde nos casos ordinários; mas seria impossível que realizemos por completo a obra da nossa santificação se não estivermos sob o influxo do Espírito Santo, o único que conhece perfeitamente o que somos e o que devemos fazer e que conhece totalmente os caminhos pelos quais podemos chegar à perfeição a que Deus nos chama.
Por conseguinte, os Dons não são carismas extraordinários que os santos recebem; trata-se de algo que todos possuímos e que trazemos em nosso coração.
Penso que, às vezes, desconhecemos este mundo sobrenatural que trazemos em nossa alma; não nos damos conta das riquezas que Deus depositou em nossos corações; trazemos conosco um mundo mais perfeito, mais excelente, mais belo do que o mundo exterior, porque trazemos a graça que nos faz semelhantes a Deus, trazemos as virtudes teologais que nos põem em contato íntimo com a Divindade, as virtudes morais que ordenam e dispõem toda a nossa vida, e trazemos os Dons do Espírito Santo pelos quais estamos em comunicação com ele para receber as suas santas moções.
Claro que nem em todas as almas os dons se desenvolvem no mesmo grau e com a mesma perfeição; como também as virtudes não se desenvolvem no mesmo grau e com a mesma perfeição em todas as almas.
As virtudes, como os Dons, são preciosas sementes que têm necessidade de serem cultivadas; nosso trabalho, nosso esforço de cristãos consiste em ir cultivando com cuidado especial estes germes preciosos que Deus depositou em nossa alma.
E assim como as plantas têm sua estação, sendo que algumas brotam quando vem à primavera carregada de perfumes, enquanto outras vêm no cálido verão e ainda outras brotam no meio da opulência do outono, da mesma forma, cada um dos Dons do Espírito Santo tem, por assim dizer, a época propícia na vida espiritual, onde encontra seu pleno desenvolvimento. Mas sempre temos todos os Dons, e nosso dever é desenvolvê-los constantemente em nossa alma.

Como se desenvolvem em nós os Dons do Espírito Santo? Que podemos e devemos fazer para que estes instrumentos preciosos, finíssimos, divinos, que o Espírito Santo emprega para a nossa santificação, alcancem em nós seu desenvolvimento completo?
Três coisas: a primeira é desenvolver em nossos corações a caridade, porque a raiz de todos os Dons é a caridade. Porque amamos, por isso podemos receber as santas inspirações do Espírito Santo; mesmo no amor humano, não existe como que um vislumbre deste privilégio prodigioso que tem o amor divino de unir-nos com o Espírito Santo e de escutar as suas santas inspirações? Quando se ama, mesmo com o amor terreno, têm-se intuições para descobrir os pensamentos e os desejos da pessoa amada que não podem ser substituídas por nenhuma ciência.
Não vemos como as mães adivinham, por assim dizer, as necessidades e os desejos de seus filhos pequenos? Uma pessoa experimentada não pode entender perfeitamente o que quer o menino, mas uma mãe entende; não é a inteligência que descobre este mistério e sim o coração; o coração tem intuições que o espírito não compreende.
E se até o amor humano, tão imperfeito e deficiente, tem intuições misteriosas, se o que vê e escuta, se o que ama vislumbra e adivinha, tratando deste amor sobrenatural que o Espírito Santo derrama em nossos corações, que é a caridade, com maior razão terão lugar essas divinas intuições.
Na proporção em que a caridade aumenta, aumentam também e se desenvolvem os dons. Por isso, nos santos descobrimos os atos próprios dos Dons do Espírito Santo, porque chegaram a um alto grau de caridade. Quem quer que faça progredir sua caridade, aperfeiçoa os Dons do Espírito Santo. É o primeiro meio de desenvolver em nós estes instrumentos preciosos e divinos.

O segundo meio consiste em desenvolver em nós as virtudes; as virtudes estão à nossa disposição, são os instrumentos do nosso trabalho espiritual.
Por meio das virtudes infusas, que também recebemos com a graça de Deus, podemos ir aperfeiçoando, uma por uma, todas as nossas faculdades e dispondo tudo em nossa vida interior. E à medida que as virtudes crescem, prepara-se, por assim dizer, o terreno para que o Espírito Santo venha e, com um trabalho mais fino e perfeito, consuma nossa obra.
Para continuar a comparação que coloquei no começo, assim como o pintor genial coloca os traços de sua inspiração depois que seus discípulos mais adiantados já fizeram a preparação conveniente, assim como ele intervém depois que a tela está preparada, dispostas as cores e esboçado o quadro que trata de pintar, assim também, quando nós, de nossa parte, realizamos nossa obra por meio das virtudes, então o Espírito Santo intervém com os seus Dons e consuma a obra.

A terceira coisa que podemos fazer para que se desenvolvam em nós os Dons do Espírito Santo, consiste em sermos dóceis às suas inspirações.
Quando prestamos uma atenção amorosa e constante à voz misteriosa do Espírito de Deus, quando o nosso coração é dócil, então podemos escutar melhor a voz do Espírito, podemos receber com maior perfeição as suas santas inspirações.
E quanto melhor recebemos estas inspirações divinas, mais se irão aperfeiçoando em nós os receptores que são os Dons do Espírito Santo.
Recolhamos estas lições práticas que expus sobre a doutrina dos Dons. Estou certo de que todos possuímos os Dons do Espírito Santo, porque espero em Deus que todos temos em nosso coração a graça santificante.
Se possuímos estes Dons, desenvolvamo-los, aperfeiçoemo-los. Como é triste que, existindo no mundo tantas coisas belas que se dizem e se cantam não se use o aparelho receptor para perceber semelhantes maravilhas! Como é triste que, tendo em nossas almas estes preciosos instrumentos do Espírito Santo, por nosso pouco cuidado não ouçamos a sua voz deliciosa, as suas santas inspirações!
Aperfeiçoemos os Dons, sobretudo durante esta novena de Pentecostes. Para que o Espírito Santo encha as nossas almas, para que nos fale, para que nos inspire, para que nos mova, é preciso que aumente em nossos corações a caridade, que pratiquemos com maior esmero as virtudes cristãs, e que conservando o nosso espírito silencioso e atento e o nosso coração dócil às divinas inspirações, recebamos a música que vem da voz do Paráclito e sintamos no íntimo de nossa alma as suas santas inspirações e as suas divinas moções.

Do Livro: Os Dons do Espirito Santo.
Autor: 
Luís M. Martinez. Arcebispo Primaz do México.

Edições Paulinas – São Paulo – 1976.

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