sexta-feira, 12 de março de 2010

BOA NOVA DO SENHOR JESUS >> A Arca de Deus

Cada um de nós somos um vaso de barro (II Cor 4,7), semelhantes a uma arca onde Deus confia a guarda do tesouro mais íntimo do seu coração. Nela o Senhor depositou o espírito do homem - sua imagem viva e de vida eterna sobre a terra -, o seu Filho - sabedoria de Deus no céu e na terra -, o seu próprio Espírito - amor do Pai e do Filho –, com todo o acervo de sua graça santificante e a unção de justiça, misericórdia e fidelidade, dons, carismas, virtudes e os frutos abundantes da árvore da vida, com o gosto e sabor adequado ao paladar de cada um de seus filhos e filhas, que se encontram com o Senhor, experimentam e vivem da comunhão ágape do amor divino, onde, juntos, fazem com ele a refeição. (Ap 3,20b)
Depois do pecado da desobediência de nossos primeiros pais, perdemos a graça do amor e da vida em Deus, o Espírito de Deus e tudo quanto por ele existia de bom e santo em nossos corações, permanecendo-nos apenas como imagem viva de Deus sobre a terra, sob sua afeição íntima, eterna e constante (Jr 31,3). Isso significa dizer que, embora o Espírito Santo, durante o tempo do Antigo Testamento, não habitasse no homem, Deus não havia deixado de ama-lo e, sempre quando necessário, o Espírito de Deus, embora de forma intermitente, possuia os patriarcas e/ou os profetas para que estes pronunciassem os oráculos do Senhor, conforme as necessidades de correção do seu povo, sob a sua direção amorosa.
Além disse, houve um longo período, desde de Moisés até os dias de Cristo Jesus que, embora sendo o homem a imagem viva de Deus sobre a terra, o Espírito de Deus estava na arca da aliança, na qual se encontravam depositados as tábuas da lei, o cajado de Aarão, o maná etc.; quando, na realidade, a verdadeira morada do Espírito de Deus é o coração do homem.
Cremos que, dessa visão, já temos o entendimento do quanto foi terrível e doloroso para nós o pecado de nossos primeiros pais. Certamente que tudo isso era uma grande humilhação para o homem e a mulher. Todavia, a esperança viva da humanidade de fé em Deus, era a certeza de que Deus jamais poderia deixar de amar a sua própria imagem, que somos todos nós, nem deixar de cumprir suas promessas. Por isso, sua declaração amorosa a favor do seu povo: “Mesmo que as montanhas oscilassem e as colinas se abalassem, jamais meu amor te abandonará, e jamais meu pacto de paz vacilará, diz o Senhor que se compadeceu de ti” (Is 54,10)
Desse modo, quando chegou o tempo da plenitude e se manifestou o amor de Deus pelos homens, em que deveriam se cumprir todas as suas ricas promessas em favor do seu povo, Deus enviou o seu Filho, feito de Maria de Nazaré, feito sob a lei, a fim de que todos fossem remidos, concedendo-nos sua filiação adotiva, pelo que selou-nos com o selo eterno do seu amor, para o dia de nossa redenção (Ef 1,13; 4,30) “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Ora, tudo isso aconteceu através da grande prova de amor de Deus pelos homens, quando Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores (Rm 5,8).
Foi aí então que, pelo sacrifício do calvário, o véu do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo (Mt 27,51) e, por isso, já não mais o Espírito de Deus se encontrava na arca da aliança; mas, em Pentecostes desceria, como na realidade desceu, à sua verdadeira morada sobre a terra, o coração do homem – templo de Deus (I Cor 3,16) – e vida do seu corpo – templo do Espírito Santo (I Cor 6,19-20), para conduzi-lo, gratuitamente, pela fé, pela esperança e pela caridade, ao seio do Pai Eterno, através do conhecimento do amor de Cristo que excede toda a ciência, a fim de que permaneçamos eternamente cheios da plenitude do Deus de Israel, o Deus que salva e que sempre esteve escondido em nossa casa (Is 54,15), espreitando-nos para este mister; pois de nossos corações jamais deveria ter saído.

João C. Porto



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