Temor de Deus
Os Dons de santificação, movidos pelo Espírito Santo,
têm por característica imprimir em nossos corações e, concomitantemente, em
nossos atos, um modo divino de ser e agir, porquanto é uma ordenação de vida
interior.
Na verdade, é através dos Dons que o Espírito Santo se
comunica conosco.
O Dom do Temor de Deus é moderador dos ímpetos
desordenados de nossas concupiscências. ( I Jo 2,15 a 17).
Por intermédio dos Dons de santificação, o Espírito
Santo nos possui por completo e nos coordena no viver. Habitando em nosso
interior, o Espírito Santo opera através de nossas faculdades espirituais. Ele
nos possui e se deixa que o possuamos, sob o influxo da luz divina.
Por isso, D. Martinez nos diz que o Espírito Santo é a
alma da nossa alma e a vida da nossa vida.
Realmente, trazemos dentro de nós um mundo divino e maravilhoso.
Observemos o que o Senhor Jesus disse a mulher
samaritana: “Se conhecesses o Dom de Deus e quem é aquele que te diz: Dá-me de
beber, tu é que lhe terias pedido, e ele te daria uma água viva”. (Jo 4,10).
Ora, o amor é a raiz de todos os Dons. Por isso,
referindo-se ao Temor de Deus, a Escritura nos diz: “A caridade perfeita lança
fora o temor”. {I Jo 4,18).
Há o temor servil e o temor filial: O temor humano (servil)
é ter medo do castigo; o que, embora de forma imperfeita, ajuda. O Dom do Temor
de Deus, diz-nos D. Martinez: Brota das próprias entranhas do Amor.
Exemplo: E disse (Davi) aos seus homens: “Deus me
guarde de jamais cometer este Crime, estendendo a mão contra o ungido do meu Senhor, pois ele é consagrado ao meu
Senhor!” Davi conteve os seus homens com estas palavras e impediu que agredissem
Saul. (I Sm 24,7s).
Ora, quem ama, certamente, teme afastar-se da pessoa
amada, e jamais imagina ser causa de desgosto para ela. Daí o dizer-se que o
temor de Deus está na raiz do amor.
Com efeito, Sto. Agostinho diz: “Dê-me alguém que me
ame, e entenderá o que digo”.
O Provérbio diz que o Temor de Deus é o princípio da
sabedoria (Pr 1,7). É que ele nos impede de que nos afastemos do bem amado.
O temor de Deus, pele virtude da humildade, é
conduzido pelo Dom da sabedoria, e, por isso, faz-nos conhecer a profundidade
de nossa miséria humana.
O publicano, porém, conservando-se a distância, não
ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Meu
Deus tem piedade de mim pecador. (Lc 18,13).
A virtude da temperança, como moderadora das
concupiscências e dos impulsos desordenados do coração, auxilia, embora de
forma diferente, a ação do Espírito, através do Dom do Temor de Deus.
Do amor apaixonado exclui-se qualquer perigo de
distância entre os amantes. Conta-se que Sta. Juliana de Falconeri tremia em
apenas ouvir falar de crime ou pecado, e que as vezes, por isso, desmaiava.
Os estudiosos atribuem graus aos Dons. Assim, no
primeiro grau, o Temor de Deus nos leva a ter horror ao pecado e, por isso, nos
fortalece contra as tentações.
Infeliz de mim!... Quem me livrará deste corpo de
morte? (Rm 7,24).
No segundo grau, o temor de Deus nos move ao
afastamento do pecado e nos une a Deus com profunda reverência.
“Já não sou Digno de ser chamado te filho, trata-me como um de teus
empregados”. (Lc 15,19).
No terceiro grau, o Temor de Deus nos conduz ao estado
pleno da primeira das bem-aventuranças.
Mt 5,3:- Bem-aventurados os pobres em espírito, porque
deles é o Reino dos céus.
É o desprendimento total, para que alcancemos a
perfeição no amor.
“Se quiseres ser perfeito, vai, vende tudo
o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me”
(Mt 19,21).
João C. Porto.
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