Expiação

O propiciatório de ouro sobre a Arca da Aliança* era o
“lugar da expiação”, o Kapporet, o local onde Iahweh recebia a expiação. Fora o
código levítico, a palavra usada em relação a Iahweh significa “receber um ato
de expiação”(Sl 77,38; 78,9; Ez 16,63; Jr 18,23). O efeito do ato de expiação é
definido pelo uso metafórico do termo em Is 28,18, “a vossa aliança com a morte
está rompida”;: desse modo, o pecado ou a culpa que constitui a causa da
expiação é esvaziado ou anulado, não constituindo mais um obstáculo efetivo
para a reconciliação. Também se pode alcançar a reconciliação através do
pagamento de uma multa ou de uma indenização, o Koper, mas esse conceito conduz
à ideia do resgate, que não é o mesmo que a expiação.
2.NT.Os termos que se seguem constituem as principais
traduções gregas do hebraico Kapper e de seus derivados no Novo Testamento.
Hilaskesthai, hilasmos, hilasterion: em grego
clássico, “reconciliar” ou “tornar favorável”, “reconciliação”, “o meio de
reconciliação”. Esse uso de kapper é demonstrado em Gn 32,20, quando Jacó diz
de Esaú: “Talvez ele me conceda graça.”, Em Lc 18,13; Hb 2,17, o verbo
hilaskesthai é usado no sentido de kapper no Antigo Testamento. O próprio
Cristo é hilasmos, reconciliação para os nossos pecados, pois é exatamente para
que o Pai o enviou (I Jo 2,2; 4,10). Deus o colocou (destinou?) como
hilasterion, como instrumento de reconciliação no seu sangue (Rm deve ser tradu
3,25); a linguagem indica que Deus fez dele um sacrifício de expiação.
Katharizein, katharismos: no grego clássico, “lavar”,
“purificar”, verbo usado para as purificações rituais dos cultos mistéricos. No
uso da LXX, introduz uma nova metáfora no significado de Kapper. Mas kapper se reflete em II Cor
7,1; Ef 5,26 e especialmente em Hb 9,22-23; I Jo 1,7.9, onde “expiação pelo
pecado” transforma-se em “purificação do pecado”. Em Hb 1,3, “realizado
katharismos dos pecados”, deve ser traduzido por “realizado expiação pelos
pecados”.
Aphairein: no grego clássico, “tirar”, “levar embora”,
mas não no sentido religioso; “tirar os pecados”, Rm 11,27; Hb 10,4.
Katalasso, katallage: no grego clássico, “reconcilio”,
“reconciliação”, mas não na LXX. Nós nos reconciliamos com Deus (Rm 5,10; II
Cor 5,20); Deus reconcilia a nós e ao mundo consigo em Cristo (II Cor 5,18-19);
nós recebemos a reconciliação por meio de Crito (Rm 5,11). Os apóstolos possuem
o ministério e a mensagem da reconciliação (II Cor 5,18-19). A rejeição dos
hebreus resultou na reconciliação do mundo (Rm 11,15).
Nesses tempos, é superada a ideia do ato ritual da
expiação. Deve-se notar que, à exceção de Rm 11,15, esses termos aparecem
somente em dois contextos. Deus é agente de reconciliação, mas não de expiação,
que é um ato de Cristo enquanto representante dos homens. Isso fica mais claro
do que nunca em Hb, onde o sacerdócio e o sacrifício de Cristo são comparados
ao sacerdócio e o sacrifício de Aarão, que realizou o ato de expiação pelo povo
(cf. PERDÃO).
Este texto foi retirado do Dicionário Bíblico de JOHN
L. MACKENZIE – Edições Paulina (2ª edição – 1984 – Páginas 329/330), por
considerar importante para quem estuda sobre os Ritos Sagrados.
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