segunda-feira, 9 de junho de 2014

Expiação


Expiação

Teologicamente, compreende os conceitos de expiação do pecado e de reconciliação do homem com Deus. 1. AT: O termo chave no que se refere à expiação é o hebraico Kapper com os seus derivados. Etimologicamente, Kapper significa “cobrir” ou “ocultar” o objeto que ofende, removendo assim o obstáculo à reconciliação. No ritual cultual, o termo é usado em sentido técnico, para indicar um ato de expiação, realizado através do sangue da vítima (cf. SACRIFÍCIO). O sacerdote cumpre um ato de expiação para si mesmo, para outra pessoa ou para todo Israel; o ato representa a expiação do pecado ou da culpa. Esse é o primeiro passo da reconciliação. O segundo é realizado pelo próprio Iahweh: “tendo o sacerdote feito o rito de expiação pelos membros da comunidade, serão eles perdoados” (Lv 4,20.31; Nm 15,25+)
O propiciatório de ouro sobre a Arca da Aliança* era o “lugar da expiação”, o Kapporet, o local onde Iahweh recebia a expiação. Fora o código levítico, a palavra usada em relação a Iahweh significa “receber um ato de expiação”(Sl 77,38; 78,9; Ez 16,63; Jr 18,23). O efeito do ato de expiação é definido pelo uso metafórico do termo em Is 28,18, “a vossa aliança com a morte está rompida”;: desse modo, o pecado ou a culpa que constitui a causa da expiação é esvaziado ou anulado, não constituindo mais um obstáculo efetivo para a reconciliação. Também se pode alcançar a reconciliação através do pagamento de uma multa ou de uma indenização, o Koper, mas esse conceito conduz à ideia do resgate, que não é o mesmo que a expiação.          
2.NT.Os termos que se seguem constituem as principais traduções gregas do hebraico Kapper e de seus derivados no Novo Testamento.
Hilaskesthai, hilasmos, hilasterion: em grego clássico, “reconciliar” ou “tornar favorável”, “reconciliação”, “o meio de reconciliação”. Esse uso de kapper é demonstrado em Gn 32,20, quando Jacó diz de Esaú: “Talvez ele me conceda graça.”, Em Lc 18,13; Hb 2,17, o verbo hilaskesthai é usado no sentido de kapper no Antigo Testamento. O próprio Cristo é hilasmos, reconciliação para os nossos pecados, pois é exatamente para que o Pai o enviou (I Jo 2,2; 4,10). Deus o colocou (destinou?) como hilasterion, como instrumento de reconciliação no seu sangue (Rm deve ser tradu 3,25); a linguagem indica que Deus fez dele um sacrifício de expiação.
Katharizein, katharismos: no grego clássico, “lavar”, “purificar”, verbo usado para as purificações rituais dos cultos mistéricos. No uso da LXX, introduz uma nova metáfora no significado  de Kapper. Mas kapper se reflete em II Cor 7,1; Ef 5,26 e especialmente em Hb 9,22-23; I Jo 1,7.9, onde “expiação pelo pecado” transforma-se em “purificação do pecado”. Em Hb 1,3, “realizado katharismos dos pecados”, deve ser traduzido por “realizado expiação pelos pecados”.
Aphairein: no grego clássico, “tirar”, “levar embora”, mas não no sentido religioso; “tirar os pecados”, Rm 11,27; Hb 10,4.
Katalasso, katallage: no grego clássico, “reconcilio”, “reconciliação”, mas não na LXX. Nós nos reconciliamos com Deus (Rm 5,10; II Cor 5,20); Deus reconcilia a nós e ao mundo consigo em Cristo (II Cor 5,18-19); nós recebemos a reconciliação por meio de Crito (Rm 5,11). Os apóstolos possuem o ministério e a mensagem da reconciliação (II Cor 5,18-19). A rejeição dos hebreus resultou na reconciliação do mundo (Rm 11,15).
Nesses tempos, é superada a ideia do ato ritual da expiação. Deve-se notar que, à exceção de Rm 11,15, esses termos aparecem somente em dois contextos. Deus é agente de reconciliação, mas não de expiação, que é um ato de Cristo enquanto representante dos homens. Isso fica mais claro do que nunca em Hb, onde o sacerdócio e o sacrifício de Cristo são comparados ao sacerdócio e o sacrifício de Aarão, que realizou o ato de expiação pelo povo (cf. PERDÃO).


Este texto foi retirado do Dicionário Bíblico de JOHN L. MACKENZIE – Edições Paulina (2ª edição – 1984 – Páginas 329/330), por considerar importante para quem estuda sobre os Ritos Sagrados.

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