ESCOLA MATER “ECCLESIAE”
Léxico Bíblico
Vocábulos técnicos, específicos do linguajar exegético
bíblico
Amanuense:
a pessoa que escreve quando lhe é
ditado por outrem, sem colocar algo de próprio. Ver autor.
Apócrifo: em grego, apókryphos
quer dizer oculto. Tal era o
livro não lido em assembléia pública de culto, mas reservado a leitura
particular. Apócrifo opõe-se a
canônico, pois canônico era o livro lido no culto público, porque
considerado palavra de Deus inspirada aos homens. Ver inspiração.
Apócrifo não tem necessariamente sentido
pejorativo. É simplesmente o texto que, por um motivo qualquer, não era de uso
público; pode conter verdades históricas, como a da Assunção corporal de Maria
SS. Aos céus.
Apocalipse: do grego apokálypsis,
revelação. É um gênero literário ou um modo de redigir escritos que têm as
seguintes características: imagina o fim da história, por ocasião do qual o
Senhor virá a terra sensivelmente para julgar os homens e restaurar a ordem
violada. Esse aparecimento de Deus é assinalado por sinais no mundo, abalo da
natureza, catástrofes... Tal gênero literário recorre freqüentemente a símbolos
e imagens, que devem ser interpretados segundo critérios objetivos ou de acordo
com a mentalidade dos escritores antigos. Determinado símbolo podia
significar uma coisa para os antigos e pode significar outra parta os modernos.
Apocalipse
de São João é o nome de um
apocalipse, que vem a ser o último livro da Bíblia. Há, entre os apócrifos, o
apocalipse de Henoque, o de Elias...
Aramaico:
língua dos filhos de Aram (cf. Gn
10,22), muito próximo do hebraico. Tornou-se língua diplomática ou
internacional no Oriente antigo a partir do século V a.C. Os judeus após o
exílio (587-538 a .C.)
a adotaram como língua corrente, reservando o hebraico para o culto sagrado.
Havia o dialeto aramaico de Jerusalém e o da Galiléia (cf. Mt 26,73). Jesus e
seus discípulos falavam aramaico.
Autor: a pessoa que concebe idéias ou o conteúdo de
determinado escrito; é o responsável supremo pelo teor do seu livro. Tal é o
caso de São Paulo em relação à ½ Ts, Gl, 1 Cor...
Em alguns casos na antiguidade, o autor
não escrevia diretamente, mas ditava a um companheiro, que escrevia. Este era
chamado escriba ou amanuense. Ver escriba.
Em outros, casos o autor não ditava, mas
deixava ao companheiro a tarefa de compor e exprimir as idéias do autor. Tal
companheiro então se chamava redator,
pois era ele quem redigia a mensagem do autor. Há, por exemplo, quem admita que
Hb teve como autor São Paulo e, como redator, um discípulo de Paulo, como seria
Apolo ou Barnabé.
Bíblia:
a palavra vem do grego bíblos, livro. O diminutivo é bíblion, livrinho, que no plural faz bíblia, livrinhos. O diminutivo perdeu
sua força própria com o passar do tempo, de modo que bíblia ficou sendo simplesmente o mesmo que livros. A Bíblia é, pois, etimologicamente falando, uma coleção de
livros.
Bispo:
é o sacerdote que mais participa do
sacerdócio de Cristo, estando colocado no grau supremo do sacramento da Ordem.
Abaixo dele vêm os presbíteros e, a seguir, os diáconos.
Enquanto os apóstolos viviam, eram eles
os pastores ambulantes de toda e qualquer comunidade cristã. Em cada uma destas
instituíam um colegiado de presbíteros (= anciãos, em grego), também
chamados “superintendentes” ou “vigilantes” (epískopoi, em grego); cf. At. 14,23; 11,30; Tt 1,5; Fl 1,1; At.
20,17.28. Governavam a comunidade sob a jurisdição dos Apóstolos. Com a morte
dos Apóstolos, as comunidades passaram a ser governadas por um pastor
residente, escolhido dentre os presbíteros ou epíscopos (superintendentes).
Esse pastor supremo local ficou exclusivamente com o nome de epíscopo (=
bispo), ao passo que os membros do colegiado subalterno ficaram sendo chamados
exclusivamente presbíteros (= padres, no sentido de hoje). No início do século
II, isto é, nas cartas de S. Inácio de Antioquia (+ 107) se registra a
existência do episcopado monárquico como ele é hoje.
Cânon: do grego kanná,
caniço. Significa medida, régua; em sentido metafórico, designa regra ou norma
de vida (cf. Gl 6,16). Os antigos falavam do cânon da fé ou da verdade, para designar a doutrina revelada por
Deus, que era critério para julgar qualquer doutrina humana e para nortear a
vida dos cristãos. Derivadamente cânon significava também catálogo, tabela,
registro; neste último sentido os cristãos passaram a do cânon bíblico ou da
Bíblia (= catálogo dos livros bíblicos).
Protocanônico
é o livro que sempre pertenceu ao
cânon ou catálogo. Deuterocanônico é
o escrito que primeiramente foi controvertido e só depois entrou
definitivamente no cânon sagrado. Próton
= primeiro (da primeira hora). Déuteron
= segundo (em segunda instância).
Carisma: do grego chárisma,
quer dizer dom em geral. Já
nas epístolas de São Paulo carisma é dom para tal ou tal tipo de serviço; cf. I
Cor 12,7; 14,26-31; Ef 4,12-16. O dom das línguas, por exemplo, nada vale se
não há quem as interprete para o serviço e a edificação dos ouvintes; cf. I Cor
14,5-13. Existe os carismas da profecia, das curas, do governo, do
apostolado... Mas o melhor carisma é o da caridade (ágape), que não produz espalhafato, mas tudo perdoa, tudo crê,
tudo suporta (I Cor 13,7). Muitos carismas nada têm de portentoso: o de
assistir aos enfermos, o de educar crianças, o de instruir os ignorantes, o de
liderar um grupo...
Catecúmeno: pessoa submetida à catequese ou ao ensino sistemático
da fé cristã. Geralmente o catecumenato precedia o batismo de adultos e foi
rigorosamente aplicado até o século V.
O catecumenato e a catequese supunham o kérygma ou querigma, anúncio sumário e
muito vivaz da Boa-Nova de Jesus Cristo; quem aderisse a essa mensagem breve,
era levado à catequese. Como exemplos de querigma, temos os discursos de S.
Pedro em At. 2,14-36; 3,11-26; 4,8-12; 5,29-32... Como exemplo de catequese, citem-se
Mt 5-7 (o sermão da montanha), Mt 13 (as sete parábolas do Reino), Lc 15 (as
três parábolas da misericórdia)...
Chalon: palavra hebraica que significa Paz. Em hebraico tem sentido muito mais rico do que em português:
não significa apenas “ausência de guerra”, mas “bem-estar, harmonia do homem
com Deus, com a natureza e consigo mesmo”. Os profetas bíblicos tinham
consciência de que o pecado introduzira a desordem no mundo; em conseqüência
anunciavam a paz; esta seria o grande dom do Messias; cf. Ml 5,4; Is 9,5s. No
Novo Testamento, diz São Paulo que Cristo é a nossa paz; Ele fez de dois povos
(judeus e pagãos) um só povo ou um só corpo (Ef 2,14-22). Por isto Cristo,
vitorioso sobre a morte após a ressurreição, deixou aos apóstolos a sua paz,
junto com o dom do Espírito Santo e o poder de perdoar os pecados (Jo
20,19-23); são estes que se opõem à paz dos homens com Deus e entre si. Temos
que tornar realidade crescente essa paz de Cristo na terra: “Bem-aventurados os
que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). “O nome da
cidade “Jerusalém”, símbolo da bem-aventurança final (AP 21,9-27), é
interpretado como visão da paz”.
Cheol: os judeus chamavam cheol um lugar subterrâneo, por eles imaginado, onde estariam,
inconscientes ou adormecidos, todos os indivíduos humanos após a morte. A terra
era tida como mesa plana, debaixo da qual se encontraria a “mansão dos mortos”;
esta em grego era chamada Hades; em
latim, inferni (da preposição infra, que significa abaixo; donde inferni = inferiores lugares).
Em conseqüência, os antigos judeus não
podiam admitir retribuição póstuma nem para os homens bons nem para os infiéis,
pois todos se achavam inconscientes; ver, por exemplo, Jô 14,21s; 21,21; Is
14,10; 38,18; 63,18; Sl 6,6; 29(30),10... A justiça divina, segundo tal
concepção, devia exercer-se no decorrer mesmo da vida presente; os homens fiéis
seriam recompensados com saúde, vida longa, dinheiro..., ao passo que os
pecadores sofreriam doenças, morte prematura, miséria...
Com o tempo as concepções antropológicas
dos judeus foram-se esclarecendo, de modo que já no século II a.C. admitiam a
ressurreição dos mortos e a retribuição final para bons e maus depois da morte.
Ver Dn 12,2s: “Muitos dos que dormem no país do pó acordarão, uns para a vida eterna,
e outros para o opróbrio, para o horror eterno. Os sábios resplandecerão como o
esplendor do firmamento; e os que tornaram justos a muitos, como as estrelas
por toda a eternidade refulgirão” (cf. II Mc 7,9.11.14).
No tempo de Jesus os judeus já admitiam
sorte póstuma diferente para os bons e os maus; veja-se, por exemplo, a
parábola do ricaço e do pobre Lázaro, em Lc 16,19-31, onde aparece a separação
de uns e outros. Na terminologia cristã latina, a palavra infernos ficou reservada para designar a sorte póstuma dos
réprobos. Todavia a topografia do além, supondo terra plana e compartimentos
subterrâneos para bons e maus, está superada. A fé cristã professa a realidade
da vida póstuma ou a subsistência da alma humana após a morte, mas não pode
indicar lugar determinado para o céu e o inferno (o que não esvazia em absoluto
os conceitos respectivos).
Circuncisão:
oblação ou retirada do prepúcio feito
com um cutelo de pedra (cf. Js 5,3). Originariamente, fora de Israel, era um
rito de integração do menino no clã e de iniciação ao matrimônio. No século XIX
a.C., com Abraão, a circuncisão veio a ser o sinal da aliança do israelita com
Javé. Através dos tempos, os profetas insistiam na espiritualização da
circuncisão, que deveria coincidir com a conversão do coração; cf. Jr 4,4;
6,16; Dt 10,16; 30,6.
Concílio:
é uma reunião de pastores da Igreja
ou de rabinos da Sinagoga, destinada a tratar de assuntos doutrinários ou
disciplinares. Pode ser regional ou
local, se congrega apenas os responsáveis de uma determinada região. É ecumênico (ou universal) quando reúne
os bispos do mundo inteiro. Diz-se que o primeiro Concílio da história da
Igreja foi o de Jerusalém (At. 15), embora só uma minoria dos Apóstolos tenha
lá comparecido; no ano de 49, vários dos Apóstolos já se tinham dispersado para
pregar o Evangelho.
Epíscopo: ver bispo.
Escatologia: é a doutrina referente ao eschatón ou aos últimos acontecimentos ou ainda a consumação da
história. Esta pode ser coletiva (a consumação da história da humanidade ou o
fim do mundo), como pode ser individual (a consumação da história terrestre ou
da peregrinação de determinada pessoa).
Escatológico
é o que se refere aos últimos
acontecimentos. Perspectiva escatológica, por exemplo, é a consideração dos
fatos presentes à luz da eternidade ou da consumação para a qual tendem. Bens
escatológicos são os bens definitivos já presentes em meio ao tempo.
Escriba:
entre os cristãos, é o amanuense, que
escreve quando lhe é ditado; tal foi o caso de Tércio (cf. Rm 16,22). Entre os judeus,
os escribas eram aqueles que, desde o tempo de Esdras (século V a.C.), eram
entendidos nas coisas da lei; por isso eram também chamados “legisperitos” ou
“doutores da lei” (cf. Lc 5,17); Mt 22,35). Os escribas tiveram grande
influência na vida do povo judeu.
Exegese:
do grego exégesis, explicação, explanação. É a arte de expor ou explicar o
sentido de determinado texto, especialmente da Bíblia; para ser rigorosamente
conduzida, requer o estudo de línguas, história, arqueologia... orientais.
Segundo São João (Jo 1,18), Jesus é o
grande exegeta do Pai, pois Ele nos
revelou (exegésato) o Pai.
Exegeta é a pessoa que cultiva a exegese.
Geena:
vem de Ge-hinnam, em aramaico. Nos
arredores de Jerusalém havia um vale (ge’, em hebraico) pertencente aos filhos
de Hinnom (bem-hinnom). Donde ge’-bem-hinnom ou ge’hinnom, em hebraico. Nesse
vale se sacrificavam crianças ao deus Maloc, da Babilônia; cf. II Rs 16,3;
21,6; Jr 32,35. Depois do exílio (587-538 a .C.), os judeus lá queimavam seu lixo. Por
isso, o ge’hinnom ou a ge’hinnam era um lugar de fogo. Jesus
se serviu do vocábulo para designar a sorte póstuma dos que negam a Deus; cf.
Mc 9,43.45.47.
Obs.:
Trata-se de uma cópia fiel do Curso de Formação bíblica da ESCOLA “MATER
ECCLESIAE”, elaborado pelo Pe. Estevão Tavares Bettencourt O. S. B.
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