Fé Natural
e Sobrenatural
A fé natural é própria
da natureza humana. Nós viemos do Eterno e, indubitavelmente, retornaremos ao
Eterno!
Assim, sem exceção,
todos nascem com o caráter voltado à religiosidade, isto é, sentimos saudade intuitiva
da fonte de onde viemos. Esse é um sentimento comum a todos os seres humanos.
Todos os homens e, bem
assim, todas as mulheres, naturalmente, ainda que não se apercebam, cultuam um
deus ou a vários deuses, ainda que seja a si próprio.
Desse modo, quando
buscamos a Deus, sem o conhecimento de si mesmo, para conhecermos Aquele que
nos criou, nos formou e nos fez para a sua glória (Is 43,7 = Edição Vulgata),
continuamos na estrutura própria do mundo. Por isso, tendemos até mesmo viver sob
o efeito do sincretismo religioso, através do qual há tendência, por falta de
conhecimento da Verdade Integral (Jo 16,13), ao fanatismo religioso.
O que o Senhor Jesus
dizia aos judeus convertidos? “Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus
verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo
8,31-32). “Se, portanto, o Filho vos
libertar, sereis verdadeiramente livres” (Jo 8,36). “Se permanecerdes em mim, e
as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos
será concedido” (Jo 15,7).
Neste instante, não
desejamos apresentar a fé em suas múltiplas definições, como o fazem os doutos:
“fé viva, fé virtude, fé dom, fé amorosa, fé salvífica, fé que opera pela
caridade, fé expectante, etc.” Não!... Apenas em dois sentidos, como iniciamos
este momento: fé natural e fé sobrenatural.
Fé natural é a fé de
quem crer por crê, simplesmente, em alguém, em alguma coisa, ou até mesmo em si
próprio!... Por isso, a fé natural é a fé dos sentidos; isto é, como quem crê, extrinsecamente,
na fé própria de quem assimila tudo a
partir do meio sensível da matéria onde vive. É, portanto, uma tendência
natural do mundo secularizado (Rm 12,2).
Vejamos o que o
apóstolo são João nos fala em sua carta:
“Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não
está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da
carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida – não procedem do Pai,
mas do mundo. O mundo passa com suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade
de Deus permanece eternamente” (I Jo 2,15-17). Mas, mesmo assim, quem diz,
ainda que naturalmente, eu creio em Jesus Cristo, o autor da vida, sem a fé
sobrenatural, pela misericórdia divina, confessa que crê no Senhor (Jl 3,5; Rm
10,12-13).
São Paulo e Silas: “Então
o carcereiro pediu luz, entrou e lançou-se trémulo aos pés de Paulo e Silas;
depois os conduziu para fora e perguntou-lhes: “Senhores, que devo fazer para
ser salvo”“? Disseram-lhe: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua família”
(At 16,29-31).
A fé sobrenatural,
unção e condução amorosa do amor do Pai e do Filho (Rm 8,14); é uma fé
intrínseca, isto é, que nasce e cresce, interiormente, a partir de um novo
coração (Ez 36,25-27), pelo que liberta
e renova todas as coisas, a partir do Espírito Santo que nos foi dado. (I Cor
2,12-13). Por isso é que se diz: “A fé que opera pela caridade” (Gl 5,6).
Daí é que, através da sabedoria
da verdade eterna, a fé natural é restaurada e renovada em fé sobrenatural;
isto é, em fé viva, de fé para a fé (Rm 1,16-17). Ela nasce e cresce nos corações, em virtude de
nossa entrega incondicional ao Senhor Jesus Cristo e, bem assim, sob a direção
e moções do Espírito Santo, pelo que une nossos corações ao coração do Senhor
Jesus Cristo, através de sua direção amorosa (Rm 8,14).
- Que nos diz são
Tomás de Aquino?
“Ninguém pode chegar à
herança daquela terra dos bem-aventurados, se não for movido e guiado pelo
Espírito Santo”.
Assim, se vivermos da
fé dos sentidos, isto é, do aprendizado das coisas próprias que existem sobre a
terra, de onde flui a fé comum aos corações que não conhecem a Verdade Integral
(Jo 16,13), tenderemos ao fanatismo, porque não cremos em Deus, e tampouco conhecemos
o Senhor único de nossas vidas. Porque, o Senhor Jesus, nossa única salvação,
nos diz que veio ao mundo, não para condená-lo; mas, para salvá-lo. Continuando,
o Senhor Jesus Cristo acrescenta: “quem nele crê não será condenado; mas, quem
não crê, já está condenado; porque não crê no nome do Filho único de Deus” (Jo
3,17-18).
O Senhor Jesus nos apresenta
dois caminhos, a senda apertada da porta estreita e a via espaçosa da porta
larga (Mt 7,13-14). Qual que é o caminho da fé sobrenatural?: O caminho da
porta estreita!... Qualquer outra via que não seja esta, é via da ‘fé natural’
que conduzirá à morte eterna.
Ora, o Senhor Jesus é
o único caminho que nos leva ao Pai (Jo 14,6). Por isso, a fé sobrenatural é a única
luz que nos faz viver num só Espírito com o Senhor (II Cor 3,27).
Ora, por que alguém
não vive, sobrenaturalmente, da fé que opera pela caridade? Porque não conhece
o Senhor Jesus Cristo! Imagina que o conhece, mas, na realidade, ainda não
conhece, se quer, a si próprio.
E os ignorantes, que
vivem exclusivamente da fé? Eles acreditam em Deus, em Jesus Cisto, na Virgem
Maria, mãe do Senhor e nossa mãe, nos anjos e nos santos!... Por isso, os que
vivem a fé sob o temor de Deus, são, interiormente, santificados pelo Espírito
Santo e, por isso, bem-aventurados de Deus, Pai de todos, incluídos,
sobrenaturalmente, no corpo do Cristo total.
Que nos diz são
Boaventura?: Um monge de sua congregação, certo dia, ao vê-lo, disse-lhe:
“Bem-aventurados sois vós, os doutos, porque amais mais a Deus do que nós, os
ignorantes!” São Boaventura, então, lhe respondeu: Engana-te! ‘Uma velha ignorante
pode amar mais a Deus do que o maior de todos os teólogos’.
João C. Porto
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