O Reino de Deus
“Nos céus estabeleceu o Senhor o seu trono, e o seu
império se estende sobre todo o universo”. (Sl 102,19). Tu és Senhor, a
grandeza, o poder, a glória e a vitória; a ti é devido o louvor, porque tudo o
que há no céu e na terre é teu; teu é, Senhor, o império e tu estás acima de
todos os principados.
O Reino de Deus, como se vê, é um reino universal.
Nele o Senhor constituiu um povo de predileção, conforme as promessas feitas
aos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó. Por isso, eles e sua descendência ficaram
conhecidos como “o Reino de Deus sobre a terra, segundo o que o Senhor falou”.
“Se, portanto, ouvirdes a minha voz, e observardes a
minha aliança, sereis para mim uma porção escolhida dentre todos os povos;
porque toda terra é minha. (Ex 19,5-6). “Sereis
para mim um reino sacerdotal e um povo santo”. (Ex 19,6).
Assim, o Reino de Deus é a graça de muitas bênçãos,
porque o Senhor tem derramado nele a sua “misericórdia para sempre”. (Sl
132,3).
Em ti todas as nações da terra desejarão ser benditas
como ela, porque obedeceste a minha voz. (Gn 22,18). É bem verdade que seu povo lhe pediu,
através do profeta Samuel, um rei terreno, rejeitando-o, de certa forma, como
seu rei, o que lhe foi concedido. (I Sm 8,7).
Mesmo assim, com certeza, todo trono de Israel ficou
sendo conhecido como o trono do rei Javé, porque toda direção deviria vir dele,
assim como o afirmou Davi. (I Cr 28,5).
Ora, por amor a esse reino, compreendendo o tempo da
antiga aliança, libertou o povo de Deus, de uma escravidão histórica (430
anos), com vista a uma libertação espiritual futura. (Jr 29,11-13).
Por isso, o Senhor nos exorta: “Invoca-me, e te
responderei, revelando-te grandes coisas misteriosas que ignoras” (Jer 33,3).
Assim, quando chegou o tempo da plenitude (Gl 4,4-6), Deus
enviou o seu próprio Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, para reinar sobre um
reino que não tem fim (II Sm 7,16; Lc 1,33). Por isso, Jesus, na cruz do
calvário, libertou-nos espiritualmente (Mt 1,21), com vista a uma libertação
espiritual; isto é, do espírito, da alma, do coração e de todo o nosso ser.
Desde o Antigo Testamento o Senhor anunciou, pela boca
de seus profetas, um Reino, que é o Reino do seu Filho Jesus Cristo, no qual se
incluiriam todas as nações. Assim, todos nós, desde o nascimento do Senhor
Jesus Cristo (Lc 2,11) até a consumação dos séculos estaremos vivendo nesse
reino, numa dimensão mais ampla, universal, da presença viva do Senhor Jesus
Cristo nos corações de seus filhos e filhas. (Lc 17,20-21).
Não é verdade que, na missão do Senhor Jesus, constava
o restabelecimento espiritual de Israel e, consequentemente, dos demais povos
de boa vontade?
“Não basta que sejas meu servo para restaurar as
tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel; vou fazer de ti a luz das
nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo” (Is 49,6).
Desse modo, o Reino de Deus, como nos ensina o Senhor
Jesus, já está dentro de cada um de nós. (Lc 17,20-21).
Esse Reino, que é Jesus Cristo em nós e nós nele (Gl
2,20), como nos ensina S. Paulo, é um Reino que se opera, principalmente, nos
corações. Por isso, um Reino de justiça, de paz e alegria no Espírito Santo.
(Rm 14,17).
Ora, a Igreja Católica, que reúne todos os corações em
Cristo, Jesus, forma, certamente, o Reino, visível, de Deus sobre a terra – o
Cristo total – como um dom celestial da caridade divina.
“Não temas, ó pequenino rebanho, porque foi do agrado
do vosso Pai dar-vos Reino”. (Lc 12,32).
Desse mesmo Reino, pelo que se conclui, a partir das
Sagradas Escrituras, há os que padecem as penas dos pecados e dos sentidos, no
purgatório até que sejam elevados ao paraíso.
“A obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento)
demonstrá-lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho
de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se
pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém, passando de alguma
maneira através do fogo”. (I Cor 4,13-15).
Além disso, temos o reino triunfante do Pai e do
Filho, no paraíso (Lc 23,43). O Senhor Jesus virá uma segunda vês (At 1,11; I
Ts 4,12-17, na glória de seu Pai com seus anjos (Mt 16,27; Ap 22,12), e então
dará a plenitude do seu reino aos que tiverem feito boas obras. (Ap 19,11-16).
Não é verdade que Jesus Cristo ensinou aos seus
apóstolos e, consequentemente, a nós, a rezar pela plenitude do Reino de Deus?
“Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na
terra como no céu”. (Mt 6,10).
Ora, quando o Senhor Jesus vier, no final dos tempos,
após a ressurreição dos mortos, teremos a conclusão final e perfeita de sua
obra de restauração do Reino de Deus sobre a terra. Naquele momento, depois de
ter vencido tudo, e realizado plenamente a obra para a qual o Pai o enviou (Is
55,11); ele mesmo, glorioso, subjugar-se-á ao Pai, para que Deus seja tudo em todos. (I Cor 15,28).
01. A quem pertence o reino de Deus?
a) Aos humildes de espírito.
“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles
é o reino dos céus” (Mt 5,3)
b) As criancinhas.
“Deixais vir a mim as criancinhas, e não as impeçais,
porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham”. (Mt 19,14).
c) Aos pobres.
“Bem-aventurados vós os pobres, porque vosso é o Reino
de Deus”. (Lc 6,20).
d) Aos perseguidos por causa da justiça.
“Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da
justiça, porque deles é o Reino dos céus”. (Mt 5,10).
e) Aos puros de coração.
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a
Deus”. (Mt 5,8).
f) Aos pacíficos.
“Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados
filhos de Deus”. (Mt 5,9).
g) Aos muitos que virão de todos os lugares.
“Virão muitos do oriente, do ocidente, do norte, do
sul e se sentarão à mesa do Reino de Deus”. (Lc 13,29).
Certa vez os discípulos de Jesus lhe perguntaram quem
seria o maior no reino dos Céus. O Senhor, chamando um menino, pô-lo no meio
deles, e disse-lhes: “Se não vos converterdes e vos não tornardes como meninos,
não entrareis no reino dos céus. Aquele, pois, que se fizer pequeno, como este
menino, esse será o maior no Reino dos céus. E quem receber, em meu nome, um
menino como este, é a mim que recebe”. (Mt 18,3-5).
2. A que o Senhor Jesus comparou o Reino de Deus?
a) A um homem que semeou boa semente no seu campo. (Mt
13,23).
b) A um grão de mostarda, que um homem tomou e semeou
no seu campo (Mt 13,24ss).
c) Ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três
medidas de farinha, até que o todo ficasse fermentado. (Mt 13,33).
d) A um tesouro escondido num campo. (Mt 13,44).
e) A uma pérola preciosa que um mercador deseja
possuir. (Mt 13,45-46).
f) A uma rede lançada ao mar, que colhe toda a casta
de peixes. (Mt 13,47-50).
03. O que nos será mais importante conhecer para
acolhermos o Reino de Deus em nossos corações?
a) Acreditar em Jesus Cristo, o Senhor, com a fé que
opera pela caridade e a esperança viva. (Gl 5,6).
“A obra do agrado de Deus é esta: Que creiais naquele
que ele enviou”. (Jo 6,29).
b) Que vivamos, interiormente, no coração o Reino de
Deus.
“O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça,
paz e alegria no Espírito Santo”. (Rm 14,17).
“O Reino de Deus não consiste em palavras, mas em
virtudes” (I Cor 4,20).
c) Devemos buscar em primeiro lugar o Reino de
Deus e a sua justiça.
“Buscai, pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a
sua justiça, e todas estas coisas serão dadas em acréscimo”. (Mt 6.33).
d) Que o reino de Deus seja vivido com muita força de
vontade.
“Desde a época de João Batista até o presente, o Reino
dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam”. (Mt 11,12).
Na verdade aqueles que assumem o Reino de Deus têm que
deixar o ‘mundo’ para fazer unicamente a vontade de Deus (I Jo 2,15-17) e nunca
olhar para trás. (Lc 9.62).
Desse modo, já estamos inseridos no Reino de Deus,
porque o Senhor Jesus, por amor e fidelidade ao Pai, realizou na cruz essa
grande obra de misericórdia; isto é, a restauração do Reino de Deus, do qual
somos seus filhos e filhas muito amados; por isso, convidados; por isso,
escolhidos; por isso, salvos; por isso, lavados e purificados; por isso, santificados através do batismo de
regeneração e renovação do Espírito Santo (Tt 3,4-7), para vivermos,
eternamente, na alegria e na felicidade, e, através da visão beatífica, vermos
o Senhor face a face.
Portanto, não busquemos esse Reino de amor fora de
nossos corações.
O Senhor Jesus, para nossa alegria, nos diz: “Quem crê
em mim tem a vida eterna” (Jo 6,47).
João Carvalho Porto.