sábado, 24 de novembro de 2012

Fugir do pecado


Pecado e Salvação 

O Pecado é um desamor a Deus onipotente, a si mesmo, ao próximo e ao ambiente no qual vivemos. 

Há muitas formas de pecados – pecados mortais e pecados veniais – entretanto todos são pecados e, pequenos ou grandes, todos matam a alma de quem vive conforme as concupiscências da carne, a concupiscências dos olhos e a soberba da vida (I Jo 2,12-17). 

O pecado nos leva à morte eterna; a salvação, ao contrário, nos liberta da morte eterna do pecado e, em Jesus Cristo, nossa salvação, nos dá a graça de sentarmos em seu trono, à sua direita. 

Ao vencedor concederei assentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono (Ap 3,21). 

Mas, não é apenas assentar-se com o Senhor Jesus no seu trono, porque somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo. 

“O vencedor herdará tudo isso; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho” (Ap 21,7). 

Assim, “de agora em diante, pois, já não há mais nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo”. A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte. (Rm 8,1-2). 

(Sl 2,1-6) 

- “Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta à mesa dos escarnecedores”.

- Feliz aquele que se compraz na lei do Senhor e medita sua lei dia e noite.

- Ele será semelhante à árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende, prospera.

 - Os ímpios não são assim! Mas são como a palha que o vento leva.

- Por isso os ímpios não suportarão no dia do Juízo, nem os pecadores se assentarão na assembleia dos justos.

- Porque o Senhor conhece o caminho dos justos, ao passo que o caminho dos ímpios perecerá. 

(Eclo 21,1-4) 

“Filho, pecaste? Não o faças mais. Mas ora pelas tuas faltas passada, para que te sejam  perdoadas”.  

“Foge do pecado como se foge de uma serpente, porque, se dela te aproximares, ela te morderá”. 

“Os seus dentes são dentes de leão, que matam as almas dos homens”. 

“Todo o pecado é como uma espada de dois gumes; a chaga que ele produz é incurável”.  

O Senhor Jesus e S. Paulo falam do pecado:

(Jo 8,34 e Rm 6,23) 

“Respondeu Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: “Todo o homem que se entrega ao pecado é seu escravo” 

“Porque o salário do pecado é a morte, enquanto o dom de Deus é a vida eterna em Jesus Cristo, nosso Senhor”. 

“Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei”. Graças, porém, sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo. Por consequência, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, aplicando-vos cada vez mais à obra do Senhor. Sabeis que o vosso trabalho no Senhor não será em vão. (I Cor 15,56-58)”. 

A Salvação nos foi dada em Jesus Cristo, o Senhor.
(Jo 3,16-18) 

“Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”.

“Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele”.

“Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; porque não crê no nome do Filho único de Deus”. 

Todos nós somos templos de Deus 

“Eis a lei do templo, no cume da montanha, todo o espaço que o rodeia é área sagrada (Santíssima)” (Ez 43,12). 

Cada um dos batizados é templo de Deus, porque está revestido de Cristo.

(Gl 3,27) 

“Não sabeis que sois templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós”? (I Cor 3,17) 

Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Trazei e glorificai, pois, a Deus no vosso corpo. (I Cor 6,19-20).

(I João 2,12-17 – perigo do mundo)  

Filhinhos, eu vos escrevo, porque vossos pecados vos foram perdoados pelo seu nome (I Jo 2,12). 

Quando o apóstolo nos chama de filhinhos, é porque já mudamos de vida e de mentalidade (Mt 3,2), estamos renovados, e conhecemos a perfeita vontade de Deus (Rm 12,2). Agora, vivemos sob a direção amorosa do Espírito Santo, como filhos e filhas de Deus (Rm 8,14.16), porque pelo Espírito mortificamos as obras da carne (Rm 8,13). 

Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquele que existe desde o princípio.
Jovens, eu vos escrevo, porque vencestes o Maligno (I Jo 2,13). 

Quando o apóstolo nos chama de pais, é porque, pela fé, nos encontramos na maturidade da idade de Cristo (Ef 4,13); vivemos com Ele na intimidade em nossos corações.

Quando o apóstolo nos chama de jovens é porque nascemos de novo (Jo 3,5) e, por isso, somos novas criaturas, revestidos do homem novo criado por Deus, na verdadeira justiça e santidade (II Cor 5,17; Ef 4,23-24). 

Crianças, eu vos escrevo, porque conheceis o Pai. 

Quando o apóstolo nos chama de criancinhas, é porque já estamos nos braços do Senhor Jesus, totalmente convertidos. (Mt 18,3-4). 

Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquele que existe desde o princípio.

Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes e a palavra de Deus permanece em vós, e vencestes o Maligno. (I Jo 2,14).

Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. (I Jo 2,15).  

Porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida – não procedem do Pai, mas do mundo. (I Jo 2,16). 

O mundo passa com as suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente (I Jo 2,17). 

     João C. Porto


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Léxico Bíblico


ESCOLA MATER “ECCLESIAE”

Léxico Bíblico 

Vocábulos técnicos, específicos do linguajar exegético bíblico  

Gênero literário: conjunto de normas de estilo e de vocabulários que regem a explanação de determinado assunto. Assim, os textos de leis têm seu expressionismo e seu estilo próprio (claro e conciso); ao contrário, a poesia tem outro expressionismo (metafórico e reticente); uma carta familiar diferente, por seu linguajar, de uma carta comercial... – Como há gêneros literários na linguagem moderna, há-os também na linguagem bíblica; a consciência disto tornou-se clara aos cristãos a partir de fins do século passado (19); em conseqüência, hoje, quando o leitor está para abordar o texto bíblico, deve informar-se a respeito do respectivo gênero literário (será poesia?... parábola?...). Cada gênero literário, tendo suas regras de expressão próprias, tem também suas regras de interpretação particulares, de modo que não se pode entender um texto de leis como se entende uma poesia ou uma parábola.  

A definição do gênero literário de um determinado texto não se pode fazer arbitrariamente, mas deve obedecer a critérios científicos (exame das características do texto). 

Hagiógrafo: autor sagrado ou autor de algum livro bíblico. Um só livro pode ter mais de um autor ou hagiógrafo. 

Hermenêutica: arte de interpretar (hermeneuein, em grego). Interpretar é procurar compreender e explicar – o que tem de ser feito segundo critérios objetivos e não conforme opiniões ou pareceres subjetivos. Embora a Bíblia seja palavra de Deus, que tem eficácia santificadora própria, ela é a palavra de Deus encarnada na palavra do homem; por isso precisa de ser entendida primeiramente como o instrumento das ciências históricas e lingüísticas para se perceber o sentido da roupagem que a Palavra de Deus quis assumir. Só depois de depreender o que o autor sagrado tinha em vista exprimir com sua linguagem, é possível passar para o plano da fé e da teologia. 

Inferno: do latim infernus, adjetivo que vem de infra, abaixo. Inferno seria a região inferior, colocada debaixo da superfície da terra. Significaria o cheol dos judeus antigos. Na linguagem cristã, feita abstração de topografia ou de geografia do além, inferno significa o estado póstumo dos que renegaram consciente e voluntariamente a Deus. 

Inspiração bíblica: distingue-se da inspiração no sentido usual da palavra, pois não é ditado mecânico nem é comunicação de idéias que o homem ignorava. Inspiração bíblica é a iluminação da mente de um escritor para que, sob a luz de Deus, possa escrever, com as noções religiosas e profanas que possui, um livro portador de autêntica mensagem divina ou um livro que transmite fielmente o pensamento de Deus revestido de linguajar humano.

A finalidade da inspiração bíblica é religiosa, e não da ordem das ciências naturais.  

Toda a Bíblia é inspirada de ponta a ponta, em qualquer de suas partes.  

Certas passagens bíblicas, além de inspiradas, são também portadoras de revelação ou da comunicação de doutrinas que o autor sagrado não conhecia através da sua cultura (Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, chamou-nos para o consórcio da sua vida, mandou-nos o Filho como Redentor, etc.).

A distinção entre inspiração bíblica e revelação se faz muito clara no livro de Jô. Este trata do sofrimento do homem justo; por que é abatido pela doença? O autor sagrado só tinha noção do cheol; ignorava a retribuição póstuma; Deus não lhe quis revelar a vida póstuma consciente; mas quis inspirá-lo para escrever o livro de Jô. Isto quer dizer que o autor procurou dentro dos limites da vida presente uma resposta para a questão do sofrimento dos justos. Não a encontrou porque só se elucida a luz da ressurreição e da vida póstuma, consciente. Em conseqüência, o hagiógrafo pode dizer que o sofrimento nem sempre supõe pecados pessoais, como se fosse um castigo. (o que já era um progresso na mentalidade de Israel); quanto ao mais, terminou pedindo o silêncio do homem diante do mistério da dor; é certo que Deus é mais sábio do que o homem e não se engana, mas o homem não é capaz de abarcar os desígnios de Deus. Esta conclusão é plenamente válida, é digna de um livro inspirado; mas não contém a revelação da ressurreição dos mortos e da vida póstuma consciente, que só mais tarde teria lugar em Israel. Por último, Jesus nos revelou que o sofrimento, aceito em união com Ele, é Páscoa ou passagem para a ressurreição e a glória definitiva. 

Algo de semelhante se deu com o livro do Eclesiastes. É inspirado de ponta a ponta, mas não traz a revelação da vida póstuma consciente, sem a qual é impossível debater o problema da felicidade, que o hagiógrafo encara. Não obstante a conclusão do livro é verídica não só para um judeu, mas para um leitor cristão; cf. Ecl 12,13s. Ver revelação. 

Javé: é o nome com o qual Deus se revela a Moisés em Ex 3,14s. Pode ser interpretado de várias maneiras: a tradição dos judeus de Alexandria, muito dados a especulações filosóficas, traduziu Javé por ho on, Aquele que é; queriam indicar assim o Absoluto ou o Transcendente de Deus. Todavia parece que, segundo a concepção dos judeus da Palestina, menos propensos a elevações filosóficas, o nome Javé significa Aquele que é fiel, que acompanha o seu povo e lhe está sempre presente. 

Lei: na linguagem paulina designa freqüentemente a Tora ou a lei de Moisés de modo que, quando o Apóstolo censura a Lei (cf. Gl 2,6; 3,10.19), tem em vista não qualquer lei nem a boa ordem pública, mas a Lei de Moisés, que era um provisório preparativo da vinda do Cristo. 

Messias: vocábulo hebraico que significa Ungido; foi traduzido para o grego por Christós. Eram ungidos os reis de Israel        (cf. I Sm 10,1; 16,13; 2 Sm 2,4...), que por isso traziam o nome de “Ungidos de Javé”. A unção significa relação particular entre o Senhor Deus e o ungido, que assim era revestido de autoridade especial e inviolável (cf. I Sm 24,7; 26,9.11...). Ungidos eram também os sacerdotes em Israel (cf. Ex 28,41; Lv 10,7; Nm 3,3). Aos profetas se aplicava uma unção não em sentido próprio, mas em sentido metafórico (cf. I Rs 19,19; II Rs 2,9-15). – Visto que o Salvador prometido Gn 3,15 seria Rei, filho de Davi (cf. II Sm 7,12-16), Sacerdote (cf. Hb 7,1-25; Gn 14,17-20) e Profeta, o título de Ungido lhe foi atribuído na literatura judaica e nos escritos do Novo Testamento (cf. Jo 1,41; 4,25). Jesus foi ungido com o Espírito Santo e com poder (At. 10,38); Ele mesmo aplicou a Si o texto de Is 61,1, apresentando-se como o Ungido que veio anunciar aos povos a Boa-Nova (cf. Lc 4,18-21). 

Com o tempo, a palavra Ungido, que era um adjetivo próprio, justaposto a Jesus; donde Jesus Cristo, e não Jesus o Cristo. 

Midraxe é uma narração de fundo histórico, ornamentada pelo autor sagrado para servir à instrução teológica e à edificação dos seus leitores. O autor conta o fato de modo a pôr em relevo o valor ou o significado religioso desse fato. A sua intenção não é estritamente a de um cronista, mas de um catequista ou teólogo. Como exemplo, citemos o caso do maná: em Nm 11,4-9 é apresentado como alimento insípido e pouco atraente; mas em Sb 16,20s é tido como cheio de sabor, adaptando-se ao paladar dos que comiam. Parece haver contradição; na verdade não a há: o autor de Nm escreve uma narração de cronista, ao passo que o de Sb nos apresenta o sentido teológico do maná num midraxe: o maná era pão delicioso não por seu paladar, mas porque era o penhor da entrada do povo na Terra Prometida; visto no contexto da história da salvação, o maná foi delicioso. 

Parábola: história fictícia que serve para ilustrar uma verdade teológica. É, pois, uma longa comparação; caracteriza-se pelas fórmulas “O reino dos céus é semelhante..., é como...”. A parábola nunca aconteceu. Deve-se interpretar a parábola procurando a linha mestra do seu ensinamento e transpondo tal mensagem para o plano da fé. Assim em Lc 15,11-32 a bondade do Pai para com o filho pródigo ilustra a misericórdia de Deus para com os pecadores; Lc 10,30-37 a solicitude caridosa do bom samaritano ilustra a maneira como devemos tratar o próximo, qualquer que seja a sua condição humana ou social. 

A alegoria carece da fórmula “é semelhante, é como...” Exprime diretamente o nexo entre o sujeito e o predicado: “Eu sou o bom Pastor” (Jo 10,11), “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15,1... Na alegoria os pormenores da imagem podem ser aplicados ao plano transcendental com mais rigor do que na parábola (esta geralmente fala apenas por seu fio condutor). 

Parusia: visita que o Imperador Romano fazia às cidades do Império; tal aparição do Imperador era sempre ocasião de alegria festiva. – Ora os cristãos assumiram este vocábulo para designar a segundo vinda de Cristo ao mundo a fim de consumar a história; Ele virá como Senhor, Kyrios, Imperador a fim de julgar o mundo e restaurar plenamente a ordem. 

Presbítero: ver Bispo. 

Promessa: no vocábulo paulino, é a promessa, feita por Deus a Abraão, de que sua posteridade seria numerosa e por ela todos os povos receberiam a bênção (= o Messias);      cf. Gl 3,16.18. Tal promessa se cumpriu em Cristo; cf. II Cor 1,20. 

Querigma: ver catecúmeno. 

Revelação: A Bíblia nos dá a saber que Deus falou aos homens comunicando-lhes o mistério da sua vida trinitária e o seu desígnio de salvação, centrado em Cristo Jesus. Nunca os homens chegariam por si a conhecer tais verdades. Por isto o judaísmo e o Cristianismo são religiões reveladas.  

A Bíblia contém a revelação de Deus aos homens, mas nem todas as páginas da Bíblia, embora inspiradas, são portadora de revelação divina. Note-se, por exemplo, que em Is 7,14 está predito que uma virgem conceberia e daria à luz um filho: isto foi consignado no texto sagrado por efeito de dois carismas (o da revelação e o da inspiração); mas, quando      Mt 1,20-23 e Lc 1,26-38 nos dizem que a virgem concebeu e deu à luz um filho, já não escrevem por efeito de revelação (o fato ocorrera e era notório), mas unicamente por efeito do dom da inspiração bíblica. – Toda profecia é fruto de revelação divina. 

As razões de diversidade de numeração são históricas e de pouca monta.

Em nossas aulas indicaremos sempre as duas numerações de cada salmo, quando as houver; a anterior será a da Vulgata, e a posterior a do texto hebraico. 

Satã ou Satanás: termo hebraico que significa “adversário”. Satã podia ser o indivíduo que diante de um tribunal exercesse o papel de acusador (cf. Sl 108,6). Tal vocábulo, aos poucos a partir do século V a.C., foi reservado a um anjo que Deus criou bom, mas que se perverteu pelo pecado e se tornou adversário ou tentador do gênero humano; cf. Jô 1,6-2,7; I Cr 21,1. Foi identificado com a serpente de Gn 3,1. (cf. Sb 2,24). Portanto Satã não é uma figura mitológica nem é a realidade neutra do Mal, mas é uma criatura inteligente, incorpórea, que o Criador fez para sua glória e que se afastou livremente de Deus; atualmente recebe do Senhor autorização para provar os homens, dando-lhes ocasião de acrisolar e corroborar a sua fidelidade a Deus; cf. Rm 16,20; Ef 6,16; I Pd 5,8. Com Satã muitos outros anjos se perverteram pelo pecado e são atualmente chamados “anjos maus” ou “demônios”. Estes estão subordinados a Deus; cf. Ap 12,7-17. S. Agostinho nos diz que Satã é um cão acorrentado, que pode latir fortemente, mas só consegue morder a quem se lhe chega perto ou a quem se lhe entrega.  

Semitas: são os descendentes de Sem, filhos de Noé; cf. Gn 10,22-30. Correspondem a diversos povos, entre os quais o hebreu ou israelita, o assírio, o babilônico, o etíope, o fenício, o púnico,m o moabítico, o aramaico. 

Sínodo: congresso de rabinos ou de bispos. Tenha-se em vista o Sínodo de Jâmnia ou Jabnes, no qual os rabinos, por volta de 100 a.C., definiram quatro critérios para reconhecer um livro sagrado como inspirado por Deus e canônico: fosse escrito em hebraico (não em aramaico nem em grego), na terra de Israel (não no estrangeiro), antes de Esdras (século V a.C.), em conformidade com a lei de Moisés. – Tenha-se em vista também o Sínodo de Trulos II (Constantinopla), que em 692 no Oriente definiu o cânon bíblico, incluindo os sete livros deuterocanônicos que os judeus em Jâmnia não aceitaram. 

Teofania: etimologicamente, manifestação de Deus, em grego. Ocorre, por exemplo, na sarça ardente em favor de Moisés (Ex 3,2), no final do livro de Jó (38,1-42,6), antes da paixão de Jesus (Jo 12,27-30). 

Testamento: A Bíblia consta de dois testamentos: o Antigo e o Novo. A razão desta divisão e nomenclatura é a seguinte: Os judeus, movidos pelo próprio Deus, designavam as suas relações com Javé como sendo um Berith       (= aliança); por isso falavam dos livros da aliança. Todavia, nos séculos III/II a. C., quando se fez a versão da Bíblia hebraica para o grego em Alexandria, os intérpretes traduziram Berith por diatheke (= disposição); queriam de esta maneira ressalvar a unicidade e soberania de Deus; na verdade, quem faz aliança com alguém, é par ou igual com esse alguém, ao passo que quem faz uma disposição é soberano ou Senhor. Assim os livros sagrados de Israel foram chamados livros da diatheke ou da disposição (de Deus em favor dos homens). Quando a palavra diatheke foi traduzida para o latim entre os cristãos, estes usaram o vocábulo testamentum (= disposição que se torna válida em caso de morte do testador). Recorreram à palavra testamentum, porque ficou comprovado que a disposição de Deus em favor dos homens só se tornou plenamente, válido e eficiente mediante a morte de Cristo. Assim os livros sagrados, entre os cristãos, foram distribuídos em duas categorias: os da Aliança (ou testamento) antiga e os da nova Aliança ou do novo Testamento; cf. II Cor 3,14s. 

Traduções gregas do Antigo Testamento. Além da tradução dita dos Setenta, que será apresentado no módulo III deste Curso (1ª Etapa), devem ser mencionadas as de Teodocião, Áquila e Símaco.  

Teodocião é um prosélito ou pagão convertido ao judaísmo, que traduziu o Antigo Testamento para o grego no século II d. C., a fim de tentar extinguir o uso do texto dos LXX. Esta tradução, realizada em Alexandria entre 250 e 100 a. C., era muito utilizada pelos Cristãos para provar a messianidade de Jesus. Visto que isto desagradava aos judeus, Teodocião se dispôs a fazer nova versão, que é mais propriamente uma versão retocada do texto dos LXX. O texto de Teodocião teve importância para os cristãos, pois a partir dele se fez a tradução latina dos partes deuterocanônicas do livro de Daniel. 

Áquila, também no século II, fez uma autêntica tradução grega do A. T. O seu texto se prende muito à letra do hebraico, esforçando-se por guardar em gregas expressões tipicamente semitas.  

Símaco é o terceiro tradutor do Antigo Testamento para o grego. A sua versão é mais livre do que as anteriores; procura levar em conta o espírito e as peculiaridades da língua grega. Tanto Símaco como Áquila tentavam suplantar o uso dos LXX.  

Vulgata é a tradução latina da Bíblia que se deve a S. Jerônimo (+ 421). No século IV era grande o número de traduções latinas das Escrituras, todavia apresentavam grandes deficiências de forma e de conteúdo. Por isso o Papa S. Damaso pediu a S. Jerônimo preparasse uma versão nova e fiel dos livros sagrados. Este sábio, de grande erudição na sua época, aplicou-se à tarefa entre 384 e 406. Não chegou a traduzir de novo o texto do Novo Testamento, mas fez a revisão dos textos já existentes cotejando-os com bons manuscritos gregos. Para traduzir o Antigo Testamento, Jerônimo estabeleceu-se na Terra Santa, onde aprendeu o hebraico com os rabinos e traduziu em Belém todo o Antigo Testamento, menos Br, I e II Mc, Eclo e Sb.

A tradução de S. Jerônimo aos poucos substituiu as anteriores, de modo a chamar-se Vulgata editio ou edição divulgada. Tornou a tradução oficial da Igreja até o Concílio do Vaticano II (1962-65). Todavia a tradução de S. Jerônimo não podia deixar de ter suas falhas, pois foi feita em época na qual não havia os recursos arqueológicos, históricos, lingüísticos. .. de nossos tempos. Por isso, após o Concílio do Vaticano II, Paulo VIU mandou refazer a tradução latina dos livros sagrados, que, uma vez pronta, é chamada a Neo-Vulgata. 

Obs.: Trata-se de uma cópia fiel do Curso de Formação bíblica da ESCOLA “MATER ECCLESIAE”, elaborado pelo Pe. Estevão Tavares Bettencourt O. S. B.







segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Curso Bíblico da "Mater Ecclesiae"


ESCOLA MATER “ECCLESIAE”

Curso Bíblico
Léxico Bíblico

Vocábulos técnicos, específicos do linguajar exegético bíblico  

Amanuense: a pessoa que escreve quando lhe é ditado por outrem, sem colocar algo de próprio. Ver autor. 

Apócrifo: em grego, apókryphos quer dizer oculto. Tal era o livro não lido em assembléia pública de culto, mas reservado a leitura particular. Apócrifo opõe-se a canônico, pois canônico era o livro lido no culto público, porque considerado palavra de Deus inspirada aos homens. Ver inspiração.

Apócrifo não tem necessariamente sentido pejorativo. É simplesmente o texto que, por um motivo qualquer, não era de uso público; pode conter verdades históricas, como a da Assunção corporal de Maria SS. Aos céus. 

Apocalipse: do grego apokálypsis, revelação. É um gênero literário ou um modo de redigir escritos que têm as seguintes características: imagina o fim da história, por ocasião do qual o Senhor virá a terra sensivelmente para julgar os homens e restaurar a ordem violada. Esse aparecimento de Deus é assinalado por sinais no mundo, abalo da natureza, catástrofes... Tal gênero literário recorre freqüentemente a símbolos e imagens, que devem ser interpretados segundo critérios objetivos ou de acordo com a mentalidade dos escritores antigos. Determinado símbolo podia significar uma coisa para os antigos e pode significar outra parta os modernos. 

Apocalipse de São João é o nome de um apocalipse, que vem a ser o último livro da Bíblia. Há, entre os apócrifos, o apocalipse de Henoque, o de Elias... 

Aramaico: língua dos filhos de Aram (cf. Gn 10,22), muito próximo do hebraico. Tornou-se língua diplomática ou internacional no Oriente antigo a partir do século V a.C. Os judeus após o exílio (587-538 a.C.) a adotaram como língua corrente, reservando o hebraico para o culto sagrado. Havia o dialeto aramaico de Jerusalém e o da Galiléia (cf. Mt 26,73). Jesus e seus discípulos falavam aramaico.

Autor: a pessoa que concebe idéias ou o conteúdo de determinado escrito; é o responsável supremo pelo teor do seu livro. Tal é o caso de São Paulo em relação à ½ Ts, Gl, 1 Cor... 

Em alguns casos na antiguidade, o autor não escrevia diretamente, mas ditava a um companheiro, que escrevia. Este era chamado escriba ou amanuense. Ver escriba. 

Em outros, casos o autor não ditava, mas deixava ao companheiro a tarefa de compor e exprimir as idéias do autor. Tal companheiro então se chamava redator, pois era ele quem redigia a mensagem do autor. Há, por exemplo, quem admita que Hb teve como autor São Paulo e, como redator, um discípulo de Paulo, como seria Apolo ou Barnabé.  

Bíblia: a palavra vem do grego bíblos, livro. O diminutivo é bíblion, livrinho, que no plural faz bíblia, livrinhos. O diminutivo perdeu sua força própria com o passar do tempo, de modo que bíblia ficou sendo simplesmente o mesmo que livros. A Bíblia é, pois, etimologicamente falando, uma coleção de livros.  

Bispo: é o sacerdote que mais participa do sacerdócio de Cristo, estando colocado no grau supremo do sacramento da Ordem. Abaixo dele vêm os presbíteros e, a seguir, os diáconos. 

Enquanto os apóstolos viviam, eram eles os pastores ambulantes de toda e qualquer comunidade cristã. Em cada uma destas instituíam um colegiado de presbíteros            (= anciãos, em grego), também chamados “superintendentes” ou “vigilantes” (epískopoi, em grego); cf. At. 14,23; 11,30; Tt 1,5; Fl 1,1; At. 20,17.28. Governavam a comunidade sob a jurisdição dos Apóstolos. Com a morte dos Apóstolos, as comunidades passaram a ser governadas por um pastor residente, escolhido dentre os presbíteros ou epíscopos (superintendentes). Esse pastor supremo local ficou exclusivamente com o nome de epíscopo (= bispo), ao passo que os membros do colegiado subalterno ficaram sendo chamados exclusivamente presbíteros (= padres, no sentido de hoje). No início do século II, isto é, nas cartas de S. Inácio de Antioquia (+ 107) se registra a existência do episcopado monárquico como ele é hoje.  

Cânon: do grego kanná, caniço. Significa medida, régua; em sentido metafórico, designa regra ou norma de vida (cf. Gl 6,16). Os antigos falavam do cânon da fé ou da verdade, para designar a doutrina revelada por Deus, que era critério para julgar qualquer doutrina humana e para nortear a vida dos cristãos. Derivadamente cânon significava também catálogo, tabela, registro; neste último sentido os cristãos passaram a do cânon bíblico ou da Bíblia (= catálogo dos livros bíblicos). 

Protocanônico é o livro que sempre pertenceu ao cânon ou catálogo. Deuterocanônico é o escrito que primeiramente foi controvertido e só depois entrou definitivamente no cânon sagrado. Próton = primeiro (da primeira hora). Déuteron = segundo (em segunda instância). 

Carisma: do grego chárisma, quer dizer dom em geral. Já nas epístolas de São Paulo carisma é dom para tal ou tal tipo de serviço; cf. I Cor 12,7; 14,26-31; Ef 4,12-16. O dom das línguas, por exemplo, nada vale se não há quem as interprete para o serviço e a edificação dos ouvintes; cf. I Cor 14,5-13. Existe os carismas da profecia, das curas, do governo, do apostolado... Mas o melhor carisma é o da caridade (ágape), que não produz espalhafato, mas tudo perdoa, tudo crê, tudo suporta (I Cor 13,7). Muitos carismas nada têm de portentoso: o de assistir aos enfermos, o de educar crianças, o de instruir os ignorantes, o de liderar um grupo...  

Catecúmeno: pessoa submetida à catequese ou ao ensino sistemático da fé cristã. Geralmente o catecumenato precedia o batismo de adultos e foi rigorosamente aplicado até o século V.  

O catecumenato e a catequese supunham o kérygma ou querigma, anúncio sumário e muito vivaz da Boa-Nova de Jesus Cristo; quem aderisse a essa mensagem breve, era levado à catequese. Como exemplos de querigma, temos os discursos de S. Pedro em At. 2,14-36; 3,11-26; 4,8-12; 5,29-32... Como exemplo de catequese, citem-se Mt 5-7 (o sermão da montanha), Mt 13 (as sete parábolas do Reino), Lc 15 (as três parábolas da misericórdia)... 

Chalon: palavra hebraica que significa Paz. Em hebraico tem sentido muito mais rico do que em português: não significa apenas “ausência de guerra”, mas “bem-estar, harmonia do homem com Deus, com a natureza e consigo mesmo”. Os profetas bíblicos tinham consciência de que o pecado introduzira a desordem no mundo; em conseqüência anunciavam a paz; esta seria o grande dom do Messias; cf. Ml 5,4; Is 9,5s. No Novo Testamento, diz São Paulo que Cristo é a nossa paz; Ele fez de dois povos (judeus e pagãos) um só povo ou um só corpo (Ef 2,14-22). Por isto Cristo, vitorioso sobre a morte após a ressurreição, deixou aos apóstolos a sua paz, junto com o dom do Espírito Santo e o poder de perdoar os pecados (Jo 20,19-23); são estes que se opõem à paz dos homens com Deus e entre si. Temos que tornar realidade crescente essa paz de Cristo na terra: “Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). “O nome da cidade “Jerusalém”, símbolo da bem-aventurança final (AP 21,9-27), é interpretado como visão da paz”.  

Cheol: os judeus chamavam cheol um lugar subterrâneo, por eles imaginado, onde estariam, inconscientes ou adormecidos, todos os indivíduos humanos após a morte. A terra era tida como mesa plana, debaixo da qual se encontraria a “mansão dos mortos”; esta em grego era chamada Hades; em latim, inferni (da preposição infra, que significa abaixo; donde inferni = inferiores lugares). 

Em conseqüência, os antigos judeus não podiam admitir retribuição póstuma nem para os homens bons nem para os infiéis, pois todos se achavam inconscientes; ver, por exemplo, Jô 14,21s; 21,21; Is 14,10; 38,18; 63,18; Sl 6,6; 29(30),10... A justiça divina, segundo tal concepção, devia exercer-se no decorrer mesmo da vida presente; os homens fiéis seriam recompensados com saúde, vida longa, dinheiro..., ao passo que os pecadores sofreriam doenças, morte prematura, miséria...

Com o tempo as concepções antropológicas dos judeus foram-se esclarecendo, de modo que já no século II a.C. admitiam a ressurreição dos mortos e a retribuição final para bons e maus depois da morte. Ver Dn 12,2s: “Muitos dos que dormem no país do pó acordarão, uns para a vida eterna, e outros para o opróbrio, para o horror eterno. Os sábios resplandecerão como o esplendor do firmamento; e os que tornaram justos a muitos, como as estrelas por toda a eternidade refulgirão” (cf. II Mc 7,9.11.14).

No tempo de Jesus os judeus já admitiam sorte póstuma diferente para os bons e os maus; veja-se, por exemplo, a parábola do ricaço e do pobre Lázaro, em Lc 16,19-31, onde aparece a separação de uns e outros. Na terminologia cristã latina, a palavra infernos ficou reservada para designar a sorte póstuma dos réprobos. Todavia a topografia do além, supondo terra plana e compartimentos subterrâneos para bons e maus, está superada. A fé cristã professa a realidade da vida póstuma ou a subsistência da alma humana após a morte, mas não pode indicar lugar determinado para o céu e o inferno (o que não esvazia em absoluto os conceitos respectivos).  

Circuncisão: oblação ou retirada do prepúcio feito com um cutelo de pedra (cf. Js 5,3). Originariamente, fora de Israel, era um rito de integração do menino no clã e de iniciação ao matrimônio. No século XIX a.C., com Abraão, a circuncisão veio a ser o sinal da aliança do israelita com Javé. Através dos tempos, os profetas insistiam na espiritualização da circuncisão, que deveria coincidir com a conversão do coração; cf. Jr 4,4; 6,16; Dt 10,16; 30,6. 

Concílio: é uma reunião de pastores da Igreja ou de rabinos da Sinagoga, destinada a tratar de assuntos doutrinários ou disciplinares. Pode ser regional ou local, se congrega apenas os responsáveis de uma determinada região. É ecumênico (ou universal) quando reúne os bispos do mundo inteiro. Diz-se que o primeiro Concílio da história da Igreja foi o de Jerusalém (At. 15), embora só uma minoria dos Apóstolos tenha lá comparecido; no ano de 49, vários dos Apóstolos já se tinham dispersado para pregar o Evangelho. 

Epíscopo: ver bispo.

Escatologia: é a doutrina referente ao eschatón ou aos últimos acontecimentos ou ainda a consumação da história. Esta pode ser coletiva (a consumação da história da humanidade ou o fim do mundo), como pode ser individual (a consumação da história terrestre ou da peregrinação de determinada pessoa). 

Escatológico é o que se refere aos últimos acontecimentos. Perspectiva escatológica, por exemplo, é a consideração dos fatos presentes à luz da eternidade ou da consumação para a qual tendem. Bens escatológicos são os bens definitivos já presentes em meio ao tempo.  

Escriba: entre os cristãos, é o amanuense, que escreve quando lhe é ditado; tal foi o caso de Tércio (cf. Rm 16,22). Entre os judeus, os escribas eram aqueles que, desde o tempo de Esdras (século V a.C.), eram entendidos nas coisas da lei; por isso eram também chamados “legisperitos” ou “doutores da lei” (cf. Lc 5,17); Mt 22,35). Os escribas tiveram grande influência na vida do povo judeu. 

Exegese: do grego exégesis, explicação, explanação. É a arte de expor ou explicar o sentido de determinado texto, especialmente da Bíblia; para ser rigorosamente conduzida, requer o estudo de línguas, história, arqueologia... orientais. Segundo São João     (Jo 1,18), Jesus é o grande exegeta do Pai, pois Ele nos revelou (exegésato) o Pai. 

Exegeta é a pessoa que cultiva a exegese. 

Geena: vem de Ge-hinnam, em aramaico. Nos arredores de Jerusalém havia um vale (ge’, em hebraico) pertencente aos filhos de Hinnom (bem-hinnom). Donde ge’-bem-hinnom ou ge’hinnom, em hebraico. Nesse vale se sacrificavam crianças ao deus Maloc, da Babilônia; cf. II Rs 16,3; 21,6; Jr 32,35. Depois do exílio (587-538 a.C.), os judeus lá queimavam seu lixo. Por isso, o ge’hinnom ou a ge’hinnam era um lugar de fogo. Jesus se serviu do vocábulo para designar a sorte póstuma dos que negam a Deus; cf. Mc 9,43.45.47. 

Obs.: Trata-se de uma cópia fiel do Curso de Formação bíblica da ESCOLA “MATER ECCLESIAE”, elaborado pelo Pe. Estevão Tavares Bettencourt O. S. B.

domingo, 18 de novembro de 2012

A Vida da Vida


Vida da Palavra de Deus

O primeiro homem foi feito da terra (Gn 2,7), modelado por Deus, e, infundido nele Seu sopro de divino.
“O Espírito de Deus me fez e o sopro do Todo Poderoso me deu vida” (Jó 33,4).
Da costela do homem Deus fez a mulher (Gn 2,22) e, por isso, somos todos descendentes desse primeiro casal, visto que seu matrimônio foi abençoado pelo próprio Criador.
“Abençoando-os, Deus disse-lhes: crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra” (Gn 1,28).
Ora, como podemos observar, a bênção matrimonial é uma consagração divina.
“Ele” fez nascer de um só homem todo o gênero humano, para habitar em toda a face da terra; fixou a ordem dos tempos e os limites de sua habitação, a fim de que os homens procurem a Deus e se esforcem por encontra-lo, mesmo às apalpadelas, embora ele não se encontre longe de cada um de nós. É nele, realmente, que vivemos nos movemos e existimos como também o disseram alguns dos vossos poetas: “pois nós somos também da sua estirpe” (At 17,25-28).
Todavia, pelo pecado original, o homem tornou-se infiel ao Criador, cujo mal se estendeu as gerações seguintes.
“Com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus” (Rm 3,23).
Ora, como nos ensina São Paulo, o homem feito da terra é terreno, mas aquele que veio do céu é celestial.
“O primeiro homem, tirado da terra, é terreno; e qual o homem celestial, tais os homens celestiais” (I Cor 15,47-48).
Assim, como do homem terreno foi feito a mulher, e daí as gerações vindouras, veio, também, da mulher pura; isto é, concebida sem pecado; porquanto, santa e imaculada – pois, no seio de sua mãe, Ana – passou pela redenção preservativa, no sangue do Cordeiro –, o homem celestial que Deus Pai enviou ao mundo; o segundo Adão, para a missão salvífica do seu povo.
“Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1,21).
Foi Ele, Jesus Cristo, o Filho Unigênito do Deus Altíssimo, que nos resgatou da morte do pecado, que ressuscitou e está sentado à direita de Deus Pai, no Seu trono.
“Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus levará com Jesus os que nele morreram” (I Ts 4,14).
“Ao vencedor concederei assentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai, no seu trono” (Ap 3,21).
“O vencedor herdará tudo isso; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho” (Ap 21,7).
A palavra de Deus nos dá essa segurança da fidelidade suprema de Seu Filho Jesus Cristo, o Senhor. (Fl 2,5-11).
Assim sendo, o Senhor Jesus está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus, tão superior aos anjos quanto excede o deles o nome que herdou; pois Deus o constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas, e tudo sustenta, o universo inteiro, com o poder da sua palavra. (Hb 1,1-8).
Assim, é dele e em seu nome que aguardamos, na esperança, a herança reservada aos santos. (Ef 1,18).
Finalmente, compreende-se que, do homem celestial, Jesus Cristo, pelo Espírito Santo que o fez no seio da Virgem Santíssima, está sendo formada a nova geração do povo de Deus; isto é, a geração dos ressuscitados, cujas primícias são dEle mesmo; pois teremos que ser, em Cristo Jesus, filhos e filhas de Deus (Rm 8,14.16.26-27); e, consequentemente, pelo que percebemos no coração, superiores aos anjos; mas, exclusivamente, por méritos do Senhor Jesus Cristo, nossa salvação, ressureição e glória.
“Então, um dos anciãos falou comigo e perguntou-me: “Estes que estão revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm”? Respondi-lhe: “Meu Senhor, tu o sabes”. E ele me disse: “Estes são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7,13-14).

João C. Porto

 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Nossa Santificação


Dons do Espírito Santo
No paraíso!... Quando Deus nos criou do barro da terra, criou-nos e nos modelou para a imortalidade (Sb 2,23), soprou sobre as narinas do primeiro homem, fê-lo a imagem de sua própria natureza; isto é, deu-lhe o espírito de vida, e a sua semelhança, que é uma alma santa (Gn 2,7).
Santa Tereza Couderc, fundadoura da ordem das irmãs de nossa Senhora do Cenáculo, em seu peque livro, nos exorta, dizendo: “Deixa que Deus te modele, tu não sabes o que Ele fará de ti”.
Ora, Deus, em nome do glorioso Senhor Jesus Cristo, seu Filho amado, para que saiamos do estado de homem velho para homem novo criado por Ele na verdadeira justiça e santidade (Ef 4,23-24), regenerou-nos e nos renovou pelo batismo do Espírito Santo, em virtude de sua infinita misericórdia (Tt 3,4-7), pelo que nos deu:
- A graça que, pela fé em Jesus Cristo, nos salva, cura e liberta, enchendo-nos de seus maravilhosos dons.
“Pela graça fostes salvos mediante a fé em Jesus Cristo. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus”. (Ef 2.8).
- O Espírito Santo com seus dons infusos, para santificação de nossa alma.
“Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de conselho e de fortaleza, Espírito de ciência e de piedade, e será cheio do dom de temor ao Senhor” (Is 11,2).
- Pelo mesmo Espírito, os dons carismáticos ou, simplesmente, carismas; do grego: serviços.
“A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum. A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, por esse mesmo Espírito; a outro, a fé, pelo mesmo Espírito; a outro a graça de curar as doenças, no mesmo Espírito; a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas. Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um conforme lhe apraz” (I Cor 12,7-11).
- As virtudes teologais.
“Por hora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade” (I Cor 13,13).
- As virtudes morais e/ou cardeais.
“Se alguém ama a justiça, seus trabalhos são virtudes; ela ensina a temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza: não há ninguém que seja mais útil aos homens na vida” (Sb 8,7).
- Os frutos do Espírito Santo.
“Ao contrário, o fruto do Espírito é a caridade, o gozo, a paz, a paciência, a benignidade, a bondade, a longanimidade, a mansidão, a fidelidade, a modéstia, a continência, a castidade. Contra estas coisas não há lei” (Gl 5,22-23).
- Deus, que por amor de justiça, de misericórdia e de fidelidade, salvou-nos, em seu Filho Jesus Cristo, da morte do pecado:

"Ela dara à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele savará o seu povo de seus pecados" (Mt 1,21),
“Não há, pois, agora nenhuma condenação para os que estão em Jesus Cristo, os quais não andam segundo a carne. Porque a lei do Espírito de vida em Jesus Cristo me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8,1-2 = Vulgata).
“Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas se, pelo espírito, fizerdes morrer as obras da carne, vivereis” (Rm 8,13 = Vulgata).
Ora, se meditarmos – de fé em fé – na caridade do amor do Senhor Jesus, em seus vínculos de perfeições, chegaremos à compreensão de como, desde criança crescemos no pecado, e, como, pela palavra de Deus, em Cristo Jesus, já estamos salvos, e de que maneira, pelo Espírito Santo, segundo nossa aquiescência e o assentimento da verdade, seremos santificados, para glória de Deus Pai.
Assim, quando nascemos para este mundo secularizado, para vivermos no meio sensível da matéria, a expressão da razão, que nasce e cresce em nossos corações, tem como princípio nossos sentidos:
- Audição, Olfato, Paladar, Tato e Visão.
Assim, a partir daí, somos estimulados à formação racional de nossa alma, através das faculdades do nosso espírito.
Nossas faculdades espirituais são cinco, a saber: Inteligência, Vontade, Memória, Imaginação e Afetividades.
A razão, alma ou coração, é-nos estruturada, desde criancinhas, de fora para dentro de nosso  coração, de tal modo que, quando atingimos a vida de homens feitos, teremos a tendência maior de vivermos segundo as coisas que há no mundo.
“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida – não vêm do Pai, mas do mundo. Ora, o mundo passa e a sua concupiscência, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (I Jo 2,15-17).
“Mas a cada um de nós foi dada a graça segundo a medida do dom de Cristo”. Pelo que a Escritura diz: “Tendo subido ao alto, levou cativo o cativeiro, distribuiu dons pelos homens”. Ora, que significa subiu, senão que também antes tinha decido aos lugares mais baixos da terra? Aquele que desceu, é aquele mesmo que também subiu acima de todos os céus.  para cumprir todas as coisas. Ele a uns constituiu apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a outros pastores e doutores, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado do homem perfeito, segundo a medida da idade completa de Cristo, para que não mais sejamos meninos flutuantes, e levados ao sabor de todo o vento de doutrina, pela malignidade dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. (Ef 4,7-14).
Ora, pelo arrependimento de nossos pecados e a entrega incondicional ao Senhor Jesus Cristo, recebemos, pelo batismo do Espírito Santo, a fé da verdade, a esperança da herança reservada aos santos e o vínculo de perfeição, a caridade, que, em nossos corações, é a face do próprio Espírito de Deus, como a luz se reflete em nosso interior, para a obra de santificação de nossa alma que, agora, é em sentido contrário a face do mundo, porque é reversiva, isto é, de dentro para fora de nosso eu.
A visão geral que temos, sobre o conteúdo até aqui revelado, é a de que, desde criancinhas, a estrutura secularizada do mundo conduziu-nos através do caminho da porta larga (Mt 7,13), pelo que nossas faculdades espirituais cedem aos caprichos desordenados de nossos sentido, segundo o mundo.
“Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus. Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos céus” (Mt 18,3-4).
“Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram” (Mt 7,14).
É-nos necessário que sejamos mansos e humildes de coração como o Senhor Jesus o é. Somente assim, aprendendo tudo de sua doutrina, encontraremos descanso para nossa alma (Mt 11,29). Na verdade, “aquele que afirma permanecer nele (Jesus) deve também viver como ele (Jesus) viveu” (I Jo 2,6).
Desse modo, a obra santificadora que o Espírito Santo fará em nós, é de regeneração e renovação pelo batismo que recebemos na Santa Igreja do Senhor.
Agora será uma obra de conversão total do homem, a partir do profundo do coração, através dos dons que santificam nossas faculdades, para que, desse modo, santificadas e purificadas as potências interiores,  sejamos, amorosamente, conduzidos no caminho de nossa fé, sob a luz do olhar do Espírito Santo. (Sl 31,8)
“Mas um dia apareceu à bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens. E não por causa de obra de justiça que tivéssemos praticado, mas unicamente em virtude de sua misericórdia, ele nos salvou mediante o batismo de regeneração e renovação, pelo Espírito Santo, que nos foi concedido em profusão, por meio de Cristo, nosso Salvador, para que a justificação obtida por sua graça nos torne, em esperança, herdeiros da vida eterna. Certa é esta doutrina, e quero que a ensine com constância e firmeza, para que os que abraçam a fé em Deus se esforcem por se aperfeiçoar na prática do bem. Isto é bom e útil aos homens” (Tt 3,4-8).
Vejamos como tudo isso ocorre para nosso bem! Através dos dons: entendimento, sabedoria, conselho e ciência, o Espírito Santo santifica nossa inteligência. Pelo dom da piedade, santifica nossa vontade; e pelos dons da fortaleza e temor de Deus, Ele santifica as áreas de nossas afetividades (memória, imaginação e afetividade).
Pelo dom do entendimento o Espírito Santo nos move a penetrar nas verdades divinas – intus-legera – compreender no profundo da verdade integral, para que tomemos conhecimento das coisas divinas.
Então, para santificação da nossa inteligência, temos mais três dons:
- A sabedoria que julga das coisas divinas;
- A ciência que julga das criaturas;
- O conselho que regula e dispõe os nossos atos.
Para a santificação da nossa vontade, há apenas um dom:
- O dom da piedade, que tem por objetivo regular e dispor nosso relacionamento com os demais.
E, para santificar a área de nossas afetividades, o Espírito Santo move em nossos corações dois dons:
- O dom de fortaleza para tirar de nós o temor do perigo.
- O dom de temor ao Senhor para modera e regular os ímpetos desordenados das nossas concupiscências; isto é, dos nossos sentidos.
O que nos resta agora é aproximarmos do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graças para o momento oportuno. (Hb 4,16).
Finalmente, nossa santificação através dos dons infusos; isto é, fixados interiormente em nossos corações, é uma obra exclusiva do Espírito Santo. Somente o Espírito de Deus, com os sete dons, fará a santificação de nossa alma. Cabe a cada um dos filhos e filhas de Deus, desejar e entregar-se de forma incondicional ao Senhor Jesus Cristo.
Já, então, pelos dons carismáticos, somos nós os artífices de nossa santificação, na medida em que vivenciamos os carismas.
Semelhantemente, a obra de perfeição, realizadas através das virtudes cardeais e/ou morais, é uma obra que tem o selo de nossa entrega e vivência entre irmãos.
“Sede perfeitos assim como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
       João C. Porto